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fevereiro 8, 2017O Cerrado tem hoje um papel fundamental para a agricultura brasileira e será neste bioma onde os principais desafios da produção agrícola irão ocorrer nas próximas décadas. O Brasil irá se tornar o maior produtor de soja do mundo até 2025, ultrapassando os Estados Unidos, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
No período de 2000 a 2014, o cultivo da soja teve um aumento de 108% no Cerrado e entre soja, milho e algodão, a expansão total foi de 87%, sendo que 70% das alterações de uso da terra ocorreram em pastagem ou outras culturas.
O desafio para o agronegócio é evidente: como garantir a expansão do cultivo da soja e também incorporar a agenda da conservação, assegurando disponibilidade do capital natural e segurança climática para resguardar o futuro da produção agropecuária?
Para contribuir com este debate sobre a otimização do uso do solo no Cerrado e orientar a expansão da soja nos próximos anos, a Agroicone, por meio do projeto INPUT (Iniciativa para o Uso da Terra), elaborou o diagnóstico “A Expansão da Soja no Cerrado – Caminhos para a ocupação territorial, uso do solo e produção sustentável”, de autoria dos pesquisadores Arnaldo Carneiro Filho e Karine Costa, com apontamentos sobre onde estão as áreas de pastagens com alta aptidão agrícola no bioma.
O diagnóstico foi feito com base no estudo “Análise Geoespacial da Dinâmica das Culturas Anuais do Bioma Cerrado – 2000 a 2014”, elaborado pela Agrosatélite, de autoria dos pesquisadores Bernardo Rudorff e Joel Risso. Os resultados da análise da Agroicone mostram que o Cerrado possui 15,5 milhões de áreas de pastagens com alta aptidão agrícola e sem restrições à expansão da agricultura, em especial para soja. Este dado, aliado à tendência da intensificação da pecuária – aumento de produtividade em uma mesma área, liberando áreas pouco produtivas – traz à tona uma oportunidade estratégica para o agronegócio: a produção de soja pode se expandir para áreas que já foram ocupadas por pastagens, sem a necessidade de novos desmatamentos.
O diagnóstico aponta ainda 30,6 milhões de hectares de pastagens com restrições de altitude e declividade, baixa aptidão agrícola ou inaptidão agrícola. Parte dessas áreas poderão ser direcionadas para projetos de restauração e cumprimento das exigências legais do Código Florestal.
“No Cerrado há uma grande concentração de áreas ideais para o cultivo da soja, do milho e do algodão, identificadas a partir de dados de precipitação, temperatura, relevo e altitude. Há pelo menos 25,4 milhões de hectares (território do tamanho do Paraná) de terras já convertidas e com aptidão agrícola”, afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia ( INPA), Arnaldo Carneiro Filho, um dos autores da análise e consultor da Agroicone em Gestão Territorial Inteligente.
MATOPIBA
No Matopiba (confluência dos estados dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), apenas 2,8 milhões de hectares de áreas já ocupadas por usos antrópicos (áreas transformadas pela ação humana) são altamente aptos e outros 770 mil hectares apresentam aptidão média e nenhuma restrição. A maior parte do território já ocupado por usos antrópicos, altamente apto e sem restrição para a soja, está fora da região do Matopiba, com 22,5 milhões de hectares com potencial para serem ocupados com lavouras. Já as áreas com alta aptidão agrícola, mas cobertas por vegetação nativa, somam 4,2 milhões de hectares no Matopiba e dobram fora dali, chegando a 8,3 milhões de hectares distribuídos pelos demais estados do Cerrado.
Sobre a análise
O diagnóstico da aptidão nas pastagens feito pela Agroicone é resultado do cruzamento de dados do estudo “Análise Geoespacial da Dinâmica das Culturas Anuais do Bioma Cerrado – 2000 a 2014” e de dados oficiais do TerraClass Cerrado 2013 (MMA, 2015). O estudo da Agrosatélite levantou dados georreferenciados sobre o Cerrado, incluindo o Matopiba, permitindo entender a dinâmica de ocupação agrícola e uso do solo entre 2000 e 2014, período de grande avanço da produção agrícola na região, com destaque para a soja.
Também foi feito um mapeamento da aptidão das áreas já convertidas e de vegetação nativa (solo e clima) e das restrições como altitude e declividade, visando apontar as melhores oportunidades de uso. “A melhor forma para enfrentar o desafio de conciliar a crescente pressão sobre o aumento da produção de alimentos com medidas de conservação ambiental no Cerrado é aportar o melhor conhecimento científico disponível e trazê-lo para a mesa do debate”, defende Arnaldo Carneiro.