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Principal produtor e exportador mundial de açúcar, o Brasil adapta-se à nova situação internacional do setor, na qual cresceu a produção e baixaram as cotações. Com este desestímulo e com menos matéria-prima, já na safra 2017/18 diminuiu um pouco a fabricação do produto – 2,1% conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ou 0,4%, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Mas isso deve se intensificar no novo ciclo produtivo, iniciado em abril de 2018. A Conab, no levantamento inicial em maio, previa redução de 6,3% e, decorridos três meses, a Unica verificava recuo de 12,1% na principal região (Centro-Sul), enquanto outros já previam percentuais maiores.
O fato é que a oferta mundial está elevada: a produção global aumentou de 173,9 para 191,8 milhões de toneladas no período 2017/18, e os estoques foram elevados de 41,9 pra 49,5 milhões de toneladas, de acordo com o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de maio de 2018. Para a temporada 2018/19, não previa grandes alterações na oferta total, pois, mesmo que diminua a produção de alguns países, como o líder, Brasil, a perspectiva era de que, por exemplo, Índia (segundo maior produtor e terceiro maior exportador) e Tailândia (segundo maior na exportação) aumentem a disponibilidade de açúcar para o mercado.
Esta situação deteriorou os preços do açúcar, que no Brasil caíram 20% em um ano e 31% em dois anos, conforme apurou a Conab em junho de 2018, com base nos dados levantados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). Naquele mês, notaram os analistas Bruno Nogueira e Fábio Silva Costa, da Conab, até ocorreu uma reação nos valores, sustentados por menor oferta, com a destinação da maior parte da cana-de-açúcar para produzir etanol, mas ainda estava muito abaixo dos valores observados nas duas safras anteriores.
O mesmo acontecia então em nível internacional, com uma moderada valorização mensal dos preços em junho, mas continuavam baixos em relação aos praticados em período antecedente (respectivos 10,9% e 37,6% menores do que há um e dois anos). “A desvalorização recente das moedas nacionais de importantes exportadores, como Brasil, Tailândia e Índia, contribui para manutenção de baixas cotações no mercado internacional”, observaram os analistas. Também confirmavam expressiva redução prevista nas exportações brasileiras, devido a essa situação e à oferta nacional mais ajustada.
IMPACTO CHINÊS
Nos primeiros três meses da nova safra (abril a junho de 2018), a queda registrada equivalia a 29% no volume exportado e 49% no valor. No período da safra 2017/18, comparada com a anterior, os números da exportação não se modificaram muito (menos 1,6% na quantidade vendida e 4,3% na receita obtida), enquanto se considerado o ano civil (2017 em relação a 2016) até chegou a haver acréscimo nas divisas, somando US$ 11,4 bilhões no total. Os estados que se destacam na produção (São Paulo, Minas Gerais, Paraná) lideram também na exportação, junto com Alagoas, Mato Grosso do Sul e Goiás.
O destino do açúcar brasileiro que mais se destacou no ano de 2017 foi Bangladesh, aumentando de 1,9 para 2,8 milhões de toneladas. De 121 países importadores, ainda se salientaram Índia (maior consumidor mundial), Emirados Árabes Unidos e Argélia, cada qual com mais de 2,2 milhões de toneladas adquiridas, bem como Malásia, Egito, Iraque e Arábia Saudita, entre 1,4 a 1,7 milhão de toneladas. Por outro lado, chamou atenção a redução expressiva das compras da China (de 2,4 milhões de toneladas para 334 mil toneladas), em virtude de barreira tarifária imposta em maio de 2017 e que fez inclusive a Unica defender abertura de painel na Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Acreditamos que a abertura de um painel na OMC pode criar uma agenda de novas discussões e entendimentos, assim como aconteceu entre o Brasil e Tailândia, que acabou mudando suas políticas de subsídios ao comércio de açúcar”, comentou Eduardo Leão de Souza, diretor executivo da Unica, em abril de 2018. Lembrou então contatos recentes mantidos na China para buscar solução, enquanto ainda em maio de 2018 participou de fórum internacional em Nova Iorque, quando se reforçou pedido para Índia e Paquistão reconsiderarem mecanismos artificiais (subsídios) na exportação de açúcar e cumprirem regras internacionais estabelecidas pela OMC.