Com visão apurada para o agronegócio, elas mandam bem na gestão rural dentro e fora da porteira
O agronegócio brasileiro é destaque mundial não só em produção, mas pelo uso de inovações; por buscar a sustentabilidade socioambiental e pela participação feminina. Quase um milhão de mulheres, segundo o Censo Agropecuário 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comandam propriedades rurais. Elas também vão dominar o painel “Mulheres do Agro: Tecnologia, Inovações e Sororidade”, dia 10 de novembro, a partir das 16h15, no AgroBIT Brasil Evolution 2021.
A moderação do debate será de Andrea Cordeiro, especialista em Commodities Agrícolas, mentora, colunista articulista do agro e coautora do livro “Mulheres do Agro”. A obra tem coautoria ainda de Mariely Biff, Ticiane Figueiredo e Roberta Paffaro, da CME Group (Bolsa de Chicago) – esta última fará parte do painel.
Logo após o painel, as autoras do livro “Mulheres do Agro” participam de um bate-papo numa sala paralela a do evento. Elas vão debater sobre os desafios da liderança feminina no agro e contarão sobre a trajetória de produção do livro.
O time completo de palestrantes reúne também as produtoras rurais Sônia Bonato e Carla Rossato e a influencer digital Aretuza Negri, criadora do perfil no Instagram “Ela é do Agro”, com mais de 36 mil seguidores.
Andrea Cordeiro ressalta que a roda de conversa mostrará para o público como a mulher pode fazer a diferença no agro. “A relevância da mulher é grande tanto dentro, quanto fora da porteira. Essas profissionais são importantes no dia a dia do agro. A prática da sororidade também vem ganhando espaço entre as mulheres. A gente precisa que, cada vez mais, essa sororidade venha a ser exercitada e ganhe mais visibilidade para que o setor se torne mais engajado e participativo. É algo que vamos apresentar nesse painel, mostrando como as profissionais podem fazer a diferença para um agro cada vez mais produtivo, sustentável, mais forte e com maior peso na economia brasileira”, antecipa um pouco de como será o bate-papo.
Andrea observa que a mulher no agro, como em outras áreas, trabalha em várias frentes de forma simultânea e tem grande capacidade de comunicação. “A mulher também tem um olhar macro sobre os setores. São potenciais para que trabalhe no agro para fortalecê-lo”, avalia.
A especialista em commodities, coautora de “Mulheres do Agro”, conta como foi a experiência de reunir no livro tantas histórias inspiradoras. “O livro permitiu que, nós como autoras, pudéssemos, através das 50 histórias, dar voz às milhares de profissionais que atuam no agro brasileiro diariamente. Gostaríamos de ter contado histórias de muitas outras mulheres, mas conseguimos dar representatividade. Permitimos que as mulheres se identificassem e percebessem o quão valiosa são as suas histórias, se inspirassem e motivassem na busca do seu protagonismo. Foi rico ver que outras profissionais se descobriram, despertaram para o chamamento ao protagonismo”, afirma Andrea.
História de sucesso
A protagonista de uma dessas histórias, a palestrante Sônia Bonato, vai contar no painel a sua trajetória de sucesso e superação. Hoje, a produtora rural comanda uma fazenda de 150 hectares em Ipameri (GO), mas, até chegar lá, teve que provar a capacidade da mulher no agro.
Sônia nasceu e morou parte da vida no interior de São Paulo. O pai era funcionário de fazenda e, a partir daí, já nasceu o gosto pela lida com a terra. Mas a vida seguiu seu rumo e ela foi morar na cidade. Foi doméstica, trabalhou no comércio e, de emprego em emprego, conquistou o seu espaço. Até que casou e o marido comprou uma fazenda no interior de Goiás, em 1995.
Sônia gosta de lembrar que não tinha nenhuma noção do que seria o trabalho no campo, apesar de viver em fazenda na infância. “O meu marido sabia plantar, mexer com animais, mas do agronegócio sabia muito pouco e eu não sabia nada. Eu tive que começar a entender do agro, como funciona tudo na fazenda, que profissionais precisam para ajudar. Comecei a estudar e fui me apaixonando pelo agro. Foi amor à primeira vista e esse amor só aumenta. Com os estudos, comecei a fazer uma gestão na fazenda. Aprendi muita coisa de administração e fui implementando esses conhecimentos na fazenda. Montei planilhas, planejamentos, fazia projetos para o que iríamos comprar aquele ano, como ia fazer para comprar, comprava a prazo e foi dando certo. A gente começou com um tratorzinho velho, implementos bem velhinhos mesmos, um carro muito velhinho também. Nesses 25 anos, fazendo as coisas com cuidado, com carinho e amor, não foi preciso pressa para que as coisas acontecessem”, conta a produtora rural.
Hoje, a fazenda é referência, como Unidade Demonstrativa do Ministério da Agricultura e Abastecimento. “O nosso crescimento foi grande. Atualmente, temos três tratores, sendo que dois comprei zero quilômetro, o carro do meu marido também tirei zero. O meu carro foi o último que troquei. Graças a Deus, com trabalho e planejamento e projetos bem feitos a gente conseguiu tudo isso”, acrescenta.
Na opinião de Sônia, o preconceito contra pequenos produtores é maior do que o enfrentado pelas mulheres no agro. “Por ser mulher no agro não sofri preconceitos, mas o preconceito maior, que acho que é geral no Brasil, é ser pequeno agricultor. A gente acaba sendo excluído. Muitas vezes, alguns vendedores de empresas não vão à nossa fazenda oferecer produtos. O pequeno produtor tem condições de comprar e pagar, como outro qualquer. Acho que essa visão errada precisa melhorar”, avalia.
Ela conseguiu aumentar a produção sem crescimento de área e diz que o segredo é investir no que já tem. “Acho que temos que aumentar a produção e não a área. Apesar do estresse hídrico do ano passado, conseguimos produzir 71 sacas de soja por hectare. A gente se preocupa em melhorar a produção. Investimos no que temos”, conclui.
Painel “Mulheres do Agro: Tecnologia, Inovações e Sororidade”
Quando: 10 de novembro
Horário: das 16h15 às 17 horas
Onde: AgroBIT Brasil Evolution 2021
Foto: Arquivo pessoal