Azeites da Serra da Mantiqueira conquistam prêmios nos principais concursos do mundo

Concurso mais recente, em Nova York, concedeu medalhas de ouro e prata para azeites da Mantiqueira e de outras regiões do Brasil

A primeira extração de azeite brasileiro ocorreu em 2008 graças aos trabalhos da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG). Desde então, os azeites nacionais, sobretudo os da Mantiqueira mineira e paulista, são destaques em concursos dentro e fora do país. As diversas medalhas e pontuações elevadas conquistadas por azeites da região são provas de que o ‘terroir Sudeste’ agradou os paladares mais exigentes e caiu no gosto internacional.

Em concursos recentes realizados nos Estados Unidos, Itália, Portugal e Japão, azeites da Serra da Mantiqueira foram premiados com medalhas de ouro e prata. As avaliações foram feitas por especialistas sensoriais renomados. Os prêmios valorizam os azeites nos momentos de comercialização, o que é bom para os produtores e para a economia como um todo.

O pesquisador em olivicultura da EPAMIG, Pedro Moura, conta que, até chegar na qualidade reconhecida em concursos, existe um longo caminho percorrido pela olivicultura na Mantiqueira. Pedro destaca que esse caminho vai desde as pesquisas, que possibilitam o cultivo e o manejo das plantas, passa pelo trabalho intenso dos produtores, e vai até o processamento das azeitonas. Para o pesquisador, o mérito de uma medalha está atribuído a todo esse processo.

“Aqui na EPAMIG ficamos muito orgulhosos quando os produtores têm seus azeites premiados. A medalha também é um reconhecimento do nosso trabalho, das pesquisas que foram desenvolvidas até chegar na indicação das cultivares e nas técnicas de manejo mais adequadas. A medalha coroa uma sucessão de tecnologias desenvolvidas ou adaptadas no campo e na agroindústria para chegarmos ao produto final, o azeite. Cada premiação mostra que estamos no caminho certo”, comemora Pedro que trabalha em Maria da Fé (MG), berço da olivicultura brasileira.

Mantiqueira brilha em Nova York

Concurso Mundial de Azeites de Nova York (NYIOOC) é um dos maiores e mais prestigiados do mundo. A lista dos vencedores é considerada o guia oficial para os melhores azeites de oliva extravirgem do ano. Em 2021, azeites da Mantiqueira mineira, paulista e do Sul do país marcaram presença na famosa lista novaiorquina.

O azeite mineiro da marca Monasto, feito com azeitonas plantadas na fazenda Santa Helena, em Maria da Fé, recebeu medalha de ouro no concurso em Nova York. Segundo a produtora do azeite, Rosana Chiavassa, foi necessário aprender tudo sobre equipamentos, adubos, materiais para colheita, além de pensar a marca, rótulos e garrafas.

O esforço de Rosana valeu a pena. O lote do azeite premiado veio de azeitonas cultivadas ao som de musicas clássicas. A estratégia é inédita na região e rendeu o mais alto prêmio na categoria Delicate (Delicado).

A produtora sabe que quanto menor o deslocamento das azeitonas antes da extração, maior será a qualidade do azeite. Por esse motivo, Rosana pensa em investir em um lagar próprio e possui planos de abrir sua propriedade para o gastroturismo do azeite.

“Confio muito na minha equipe e acredito também na sensibilidade das plantas. Ouço música o tempo inteiro, li sobre o assunto, soube de ideias semelhantes e resolvi colocar caixas de som e tocar música clássica nos olivais. Acredito sim que isso tenha influenciado no prêmio. Fomos o primeiro azeite nacional a conquistar Ouro na categoria Delicate”, comemora Rosana.

O produtor dos azeites da Casa Mantiva, Carlos Diniz, também tem motivos para comemorar. Carlos enviou dois azeites para avaliação no concurso de Nova York e recebeu uma medalha de ouro e outra de prata. O produtor, apaixonado pela olivicultura, conta que possui oito mil plantas e ainda está aprendendo a lidar com elas.

Por se tratar de um concurso internacional com provadores de diferentes partes do mundo, Carlos considera que as medalhas são reconhecimentos de que em Minas, e na Mantiqueira em particular, as oliveiras têm uma expressão forte e produzem azeites comparáveis aos melhores ‘terroirs’ do mundo.

“A olivicultura mineira avançou muito desde a extração do primeiro azeite pela EPAMIG em 2008, seja em área plantada, marcas de azeite no mercado e reconhecimento internacional da qualidade dos seus produtos. Mas ainda temos muitos desafios para vencer e um grande espaço para melhorar, principalmente no aspecto da produtividade dos pomares e dos custos de produção”, declara Carlos.

Na opinião da azeitóloga brasileira, Ana Beloto, os ‘territórios gastronômicos’ brasileiros, sobretudo a Mantiqueira, estão cada vez mais valorizados. A azeitóloga se refere às notas sensoriais que os azeites despertam no paladar. De acordo com Ana, o que se percebe ao degustar azeites da Mantiqueira são características de muita personalidade e complexidade positiva aos olhos dos jurados mais exigentes, como notas de frutas tropicais.

“Maracujá, cacau, café verde. Tudo isso é percebido no paladar quando provamos azeites da Mantiqueira, seja mineira ou paulista, o que é bastante valorizado nos concursos. Creio que estamos construindo um caminho educativo no sentido de reconhecer nos azeites os nossos próprios sensoriais, valorizar a qualidade daquilo que a gente produz no Brasil e, claro, harmonizar os azeites com pratos típicos da nossa própria culinária, não apenas com bacalhau e salada”, pondera.

Ana Beloto foi responsável por desenvolver azeites premiados em Nova York. Em Minas Gerais, a azeitóloga trabalhou em parceria com a marca Vertentes, localizada no limite entre a Mantiqueira e o Campo das Vertentes. O azeite composto pelas variedades Arbosana, Koroneiki e Arbequina foi premiado com a medalha de prata. O azeite monovarietal, desenvolvido com azeitonas de colheita temprana da cultivar Arbequina, também conquistou medalha de prata.

O caso dos azeites Vertentes exprime características do contexto produtivo da Serra da Mantiqueira. Segundo o diretor de marketing dos azeites Vertentes, Raul Moraes, a produção da marca ainda é recente, sendo que dos 80 hectares de oliveiras plantados, apenas sete estão em produção. Para Raul, a ideia é, a cada ano, aumentar a produção de plantas que ainda são muito jovens.

“O esforço de produzir azeites em uma terra que se distancia de locais tradicionais de cultivo vem surpreendendo jurados com paladares bem complexos. Receber as medalhas foi um atestado desse esforço. Estamos trabalhando muito na adaptação das cultivares e estudando ao máximo para fazer o melhor azeite de oliva possível”, afirma Raul.

Nesse sentido, o empresário do ramo da olivicultura, Moacir Carvalho Dias, entende que o clima das montanhas e diversidade da vegetação mineira impactam na complexidade de aromas muito bem percebidos por juízes de concursos. Moacir coleciona medalhas de ouro para os azeites do grupo Irarema. Neste ano, o empresário celebrou o topo do pódio no concurso da Itália e uma medalha de prata na competição de Nova York.

Moacir tem planos para o futuro. “Nos próximos anos várias novas marcas vão surgir aqui na fazenda Irarema. Atualmente estamos com 20 mil plantas e, partir de agora, vamos extrair genética de nossas árvores mais produtivas para, no futuro, plantar mais 20 mil pés”, projeta.

Itália, Portugal, Japão e tantos outros que virão

Os azeites da Mantiqueira e do Sul do Brasil também foram destaques em outros concursos internacionais, como o EVO International Olive Oil Contes (Itália), o OVIBEJA do Alantejo (Portugal), e o International Extra Virgin Olive Oil Competition (Japão). Para acessar a lista de brasileiros premiados, basta clicar nos nomes dos concursos.

Ana Beloto chama atenção para outros concursos internacionais que ainda vão ocorrer em 2021 com a presença de azeites brasileiros.

“Teremos ainda alguns concursos na Itália, França, Grécia e Jerusálem. Nossos azeites ainda vão viajar o mundo, serão degustados por mais jurados internacionais e poderão ganhar mais prêmios. Afinal, é isso que nossos azeites merecem. Temos produtores engajados e trabalhando para esse objetivo, além de pesquisadores, azeitólogos e um time de outros profissionais”, finaliza.

Azeitech vai reunir a cadeia produtiva da olivicultura

A EPAMIG promove, entre os dias 15 e 17 de junho, o 1º Azeitech. Neste ano, o evento online e gratuito vai debater a cadeia produtiva da oliveira e aspectos como qualidade, características sensoriais e escolha de azeites. As inscrições podem ser feitas no site www.azeitech.com.br.

O Azeitech é uma evolução do Dia de Campo de Olivicultura e da Mostra Tecnológica de Maquinários e Insumos, realizados anualmente no Campo Experimental da EPAMIG em Maria da Fé.

Nas edições anteriores, a Mostra Tecnológica apresentou produtos e serviços para a cadeia produtiva da oliveira, incluindo maquinários agrícolas de grande e de pequeno porte, pulverizadores, soluções para embalagem e envase, publicações, cosméticos, dentre outros. Na edição virtual, a proposta é manter a proximidade entre o mercado e o consumidor.

“Estamos abrindo um novo espaço para um mercado e uma atividade relativamente novos no país em uma realidade que já é comum a todos os segmentos, a negociação online”, pondera o coordenador de Comercialização do Azeitech, Antônio Nunes.

A EPAMIG é uma empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).

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