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Começa nesta quarta-feira (5) o principal evento de fruticultura do mundo
fevereiro 5, 2025O arroz é um dos alimentos mais consumidos no mundo, essencial para a segurança alimentar de milhões de pessoas. Porém, o cultivo tradicional de arroz, em áreas constantemente alagadas, está associado a altas emissões de metano (CH4), um gás de efeito estufa que contribui significativamente para o aquecimento global. Agora, um estudo pioneiro, liderado por pesquisadores da Esalq/USP em parceria com a EMBRAPA e com apoio internacional da University of Florida, está mudando esse cenário.
Utilizando o modelo agrícola mais usado no mundo, o DSSAT, uma equipe de cientistas brasileiros explorou alternativas de manejo de irrigação que podem otimizar a forma como o arroz é cultivado. Pela primeira vez, o modelo DSSAT foi testado para simular emissões de metano em sistemas de arroz sob diferentes práticas de irrigação em condições subtropicais no Brasil. Além disso, os pesquisadores aprimoraram o código do modelo, ajustando parâmetros relacionados ao solo e ao ciclo da água, permitindo maior precisão na simulação das emissões em condições específicas, como a irrigação intermitente e a irrigação por aspersão.
Alternativas sustentáveis para o cultivo de arroz
O estudo de campo foi realizado pela EMBRAPA ao longo de quatro safras consecutivas (2019–2023) na região de Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. Durante esse período, os cientistas testaram duas práticas de manejo hídrico principais: irrigação por inundação ou irrigação intermitente.
Os resultados mostraram que a irrigação intermitente pode reduzir as emissões de metano em até 80%, dependendo das condições do solo, sem prejudicar a produtividade do arroz. Essa técnica, amplamente estudada em outros países, foi adaptada para as condições específicas das áreas subtropicais brasileiras, com solos caracterizados por alta densidade e baixa drenagem natural.
Esse estudo também avaliou a irrigação por aspersão como uma alternativa ainda mais sustentável. Em cenários de longo prazo, simulando 30 anos de dados climáticos históricos, os pesquisadores descobriram que a irrigação por aspersão, acionada quando o solo atinge 50% de sua capacidade de água disponível, apresentou os melhores resultados. Essa prática não apenas reduziu significativamente as emissões de metano, mas também economizou água e manteve altos níveis de produtividade.
O índice de produtividade água-metano (CWMP), desenvolvido pelos pesquisadores para medir a eficiência entre o uso de água, produtividade e emissões, mostrou que a irrigação por aspersão foi 52% mais eficiente em relação aos sistemas tradicionais. Isso representa um avanço considerável para a sustentabilidade na produção de arroz, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e escassez de recursos hídricos.
Além dos resultados práticos, o estudo foi um marco científico. A equipe de cientistas não apenas utilizou o DSSAT para explorar essas questões, mas também realizou ajustes fundamentais no código do modelo, incluindo a calibração para simular emissões de metano em condições não alagadas, algo que nunca havia sido feito antes. Esses ajustes incluíram a otimização de parâmetros como a regeneração do solo após a drenagem e a fração de poros preenchidos por água que ativa a produção de metano.
Esses resultados científicos têm implicações globais, pois colaboram com uma base científica sólida para o uso de modelos agrícolas como uma ferramenta para gerenciar o impacto das práticas de manejo na sustentabilidade dos sistemas agrícolas, não apenas no Brasil, mas também em outras regiões subtropicais e tropicais. A colaboração com instituições internacionais, como a University of Florida, reforça a relevância do estudo no cenário global. Esse estudo contou com financiamento da FAPESP ( FAPESP 2021/10573–4; 2022/16715–8; 2022/02396–8).
Para ler o paper na integra : https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378377424005705