E o sertão virou pomar

Sertão do Rio Grande do Norte sedia maior produtor mundial de melão e responde pela maior parte das vendas da fruta que é líder na exportação

– Agrícola Famosa colhe 1 milhão de melões por dia em suas fazendas

– Irrigação garante produção nas condições adversas do sertão nordestino

– Produto é preparado no “packing-house” para envio a vários destinos

A caatinga seca que caracteriza o agreste nordestino, em Mossoró, Rio Grande do Norte, na divisa com o Ceará, concentra fazenda com a maior produção de melão do Brasil e do mundo, e a maior exportação brasileira da fruta, que é uma das mais vendidas para o exterior. Além de ter sido pioneira na libertação de escravos e no voto da mulher, e de se vangloriar por ter resistido ao bando do Rei do Cangaço, o lendário Lampião, em 1927, o município, que fica a 27 quilômetros da capital Natal e tem população superior a 300 mil habitantes, é uma mostra da resistência do sertanejo às agruras do ambiente. Sem falar na sua liderança em produção de sal e petróleo em terra, é destaque no cultivo irrigado de melão, respondendo por quase 70% da venda externa da fruta que está sempre na linha de frente das exportações do setor, conforme vem registrando o Anuário Brasileiro de Horti & Fruti, produzido pela Editora Gazeta, da Gazeta Grupo de Comunicações.

A edição de 2020 divulgou que o Rio Grande do Norte, em 2019, produziu 356,7 mil toneladas de melão (61% da produção brasileira) e, em 2020, exportou 161,1 mil toneladas da fruta (68% do total exportado). A maior parte desta produção sai da chamada Agrícola Famosa, fundada em 1995 pelos sócios majoritários Luís Roberto Barcelos e Carllo Porro, e que, em especial na potiguar Mossoró e também na vizinha Icapuí, Ceará, cultiva cerca de 10 mil hectares da fruta. A informação na região é de que se trata do maior produtor de melão do mundo e, para mostrar a dimensão do empreendimento, Johnson Leandro, técnico em controle de qualidade, especifica que são colhidos por dia cerca de 1 milhão de frutos, cultivados no meio da caatinga, em áreas planas, todas irrigadas com água retirada de 28 poços profundos (de 700 a 800 metros de profundidade), em sistema de gotejamento, utilizando 50 milhões de metros de mangueiras.

A colheita é mecanizada, mas não dispensa o uso intenso de mão de obra, que ocorre em todo o processo produtivo, gerando em torno de 8 mil empregos diretos e dois mil terceirizados nos sertões da região. Após a colheita, o produto passa por lavagem, classificação e empacotamento no chamado “packing-house”, direcionando-se em seguida à exportação em sua maior parte (70%, para mais de 20 países), lotando contêineres que são levados da fazenda ao porto. O controle de qualidade é rígido, nas mais diversas etapas, chamando atenção ainda nas lavouras as frutas acomodadas e protegidas em bandejas de plástico e, conforme a variedade, também com capas. Conforme observa Johnson, chegam a ser testadas até 500 variedades da fruta, das quais duas a três com maior mercado entram a cada ano em produção, destacando-se hoje Galha, Pele de Sapo, Italiano, Amarelo, Dino, Meluna e Cantaloupe.

Além de melão, a empresa também produz melancia, mamão, banana, e, apenas para o mercado interno, maracujá, bem como gado, que em seu cardápio tem o privilégio de consumir gostosos melões descartados por alguns defeitos estéticos. Outros empreendedores menores e cooperativas também se integram à produção e comércio de frutas na região, que encontrou nesta cadeia produtiva e na irrigação uma forma de oferecer alternativas de desenvolvimento, emprego e permanência para as áridas condições de vida e trabalho do sertão. Um evento marca há mais de 20 anos esta mobilização, a chamada Expofruit, sempre acompanhada pela Editora Gazeta, que desde 2002 edita publicações nacionais para este segmento.

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