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setembro 11, 2025Nos anos 1970, comer uma maçã no Brasil era um pequeno luxo. O país importava cerca de US$100 milhões em frutas por ano, 90% vindas da Argentina e o restante da Europa. A produção nacional praticamente não existia — o clima tropical, quente e úmido, era considerado pouco favorável para a cultura. O preço era alto e o consumo, restrito.
“Atualmente, encontramos maçãs em qualquer supermercado, mas na minha infância era diferente: só comíamos um pedacinho quando precisávamos tomar remédio, porque era doce para o paladar”, lembra Arival Pioli, diretor-executivo da Fischer S/A Agroindústria e membro da diretoria da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).
A virada começou na década de 70 com o pioneirismo dos primeiros plantios comerciais de maçãs no Brasil, no qual a família Fischer já participou como investidor. Os pioneiros tiveram que buscar novas variedades para plantar no Brasil, pois as de origem europeia que foram as primeiras aqui plantadas, exigiam muito frio que nem sempre era suficiente na região. A solução veio com a introdução da variedade Gala, mais adaptada ao clima local, e da Fuji — de origem japonesa — para garantir a polinização.
Mas foi em 1985 que as mudanças impactantes começaram a acontecer. Foi quando a família Fischer, já com tradição exportadora de alimentos e frutas, decidiu colocar os pés na terra da maçã e cuidar dos seus próprios pomares em Fraiburgo, no Meio-Oeste Catarinense. Neste ano, a Fischer tinha 800 hectares de pomares e um grande desafio: o consumo per capita estava estagnado em 2kg/habitante/ano desde os anos 70 e os plantios cresciam. Logo a produção superaria a demanda. Era preciso desenvolver novos mercados. “Foi o início de algo que mudaria o mercado brasileiro”, resume Pioli.
A primeira colheita, em 1986, rendeu 11 mil toneladas. Um lote experimental de 45 toneladas foi enviado para Holanda, Alemanha e Inglaterra. O resultado surpreendeu: o sabor mais doce, a crocância e a suculência, favorecidos pelo clima mais quente, encantaram o paladar europeu e renderam inúmeros pedidos que chegavam, à época, por telefax.
Nos anos seguintes, a Fischer liderou a criação do primeiro Clube de Exportadores de Maçãs do Brasil, reunindo as dez principais empresas do setor. Entre 1987 e 1991, o grupo exportou para 25 países, com destaque para o mercado europeu. A meta era clara: manter 20% da produção voltada à exportação, investindo pesadamente — cerca de US$7,5 milhões por ano — em tecnologia, aquisição de terras, capacitação e certificações de qualidade, como o atual Global GAP, BRC e outros.
O crescimento foi acelerado. Em 15 anos (1985 a 2000) a Fischer cresceu mais de 1.000%: a produção própria saltou de 11 mil toneladas para 151 mil toneladas, com a área plantada expandindo de 800 para 3.400 hectares. E mais que isso, introduziu os protocolos de certificações internacionais de qualidade, capacitou profissionais para manejo da cultura, introduziu novas tecnologias para obter um produto nos parâmetros europeus.
O esforço consolidou a presença da Gala e da Fuji nas gôndolas brasileiras e projetou o Brasil como produtor de frutas de alta qualidade no mercado internacional. “Descobrimos o caminho: produzir frutas de qualidade, capacitar e treinar profissionais”, relembra Pioli.
Quatro décadas depois, presenciamos as maçãs Fuji e Gala no cotidiano do consumidor brasileiro. Uma transformação que começou com uma aposta ousada no interior de Santa Catarina — e que mudou para sempre a relação do país com a fruta.
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), Moisés Lopes de Albuquerque, a Fischer desempenha um papel essencial na pomicultura brasileira, servindo de referência em tecnologia, qualidade e inovação. “Pioneira na exportação de maçãs, a empresa abriu caminho para o desenvolvimento de todo o setor, elevando o padrão da produção nacional e consolidando o Brasil no mercado global no setor”, afirma.
Presente em todos os elos da cadeia
A Fischer foi a empresa que verticalizou o setor da maçã no Brasil. É a única que atua em todos os elos da cadeia produtiva – do cultivo nos pom
ares à industrialização, passando pela comercialização e exportação.
“Esse posicionamento só foi possível graças ao conhecimento acumulado da família no comércio internacional e na navegação, que permitiu estruturar estratégias sólidas de exportação desde os primeiros anos”, relata o diretor-executivo da Fischer, Arival Pioli.
Além da fruta in natura, a companhia também opera com a produção de suco em sua fábrica própria, agregando valor e ampliando mercados. Em 2022, a Fischer lançou o suco de maçã integral, investindo quase R$3 milhões para reforçar sua presença no mercado interno.
Case de sucesso: maçã Turma da Mônica
Introduzir frutas na alimentação das crianças pode ser um desafio — mas a Fischer, em parceria entre Mauricio de Sousa Produções, encontrou uma forma de tornar esse hábito mais atraente. Com o case das maçãs da Turma da Mônica, um sucesso nos supermercados de todo o país, a Fischer criou uma experiência que incentiva pais e filhos a escolherem uma alimentação saudável, transformando a maçã em um alimento saboroso, colorido e desejado pelas crianças.
Cerca de 20% da produção é dedicada a frutas especiais, e 90% desse volume é destinado à Turma da Mônica, totalizando 20 mil toneladas por ano. Cada maçã é cuidadosamente selecionada para garantir sabor, qualidade e frescor, tornando-se um aliado no dia a dia das famílias que buscam uma alimentação nutritiva para os filhos, sem abrir mão da diversão.
Para Moisés Lopes de Albuquerque, a importância do projeto vai além dos números: “A Fischer foi a primeira a dedicar um produto exclusivo ao público infantil, que se tornou um case de sucesso. Estimula há muitos anos o consumo de uma alimentação saudável pelas crianças e é referência para toda a cadeia de hortifruti do país.”
Fischer em números atuais: geração de empregos e projeções
A força da empresa também se mede pelo impacto social e econômico. Hoje, a empresa mantém 1.200 funcionários fixos e gera milhares de postos sazonais ao longo do ano. Durante a colheita, 2 mil a 3 mil safristas atuam nos pomares durante cerca de três meses.
Entre novembro e dezembro, cerca de mil trabalhadores temporários realizam o raleio manual – remoção seletiva de frutos em excesso, essencial para que cada cachopa produza frutos equilibrados, sem competição entre as maçãs pelo mesmo espaço e nutrientes. No inverno, 600 colaboradores sazonais cuidam das podas e condução das árvores jovens, garantindo a formação adequada das plantas.
Para Albuquerque, o impacto da Fischer vai além da produção de frutas: “A empresa desempenha um papel social gigante, gerando milhares de empregos diretos e indiretos, e realizando parcerias com centenas de pequenos produtores familiares, fazendo enorme diferença no desenvolvimento social e humano nas comunidades onde atua”, destaca.
Atualmente, a Fischer possui 2.300 hectares plantados. Em 2007, tomou a decisão estratégica de erradicar 1.200 hectares de pomares antigos, elevando a qualidade e o padrão dos frutos. Em 2024, iniciou um novo ciclo de expansão, com mais mil hectares em plantio, a serem concluídos até 2027. Assim, a companhia chegará a 3 mil hectares produtivos, com retorno gradual já no segundo ano e produtividade plena no terceiro, objetivando a média superior a 37 a 40 toneladas por hectare.
A Fischer mantém um programa social priorizando as áreas de saúde, educação e ações públicas que, juntamente com seus negócios, traz mais qualidade de vida, renda, crescimento e desenvolvimento dos municípios onde atua.