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Os efeitos do clima na produção agrícola, e em particular do milho, vêm sendo motivo de grande preocupação dos produtores brasileiros e dos técnicos que atuam no setor. Em julho de 2024, o pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo, abordou a questão, em vista de novos e fortes impactos ocorridos na segunda e principal safra do cereal, causando perdas significativas neste ano, referindo importantes iniciativas da pesquisa para mitigar tais situações e reforçando orientações para ações preventivas em relação a este problema.
O pesquisador focou a relevância de duas grandes safras agrícolas no Brasil (normalmente com plantio do milho em sucessão à soja), permitidas por nossas condições climáticas gerais e responsáveis pela expansão e alta competitividade da agricultura brasileira no mercado mundial. Também mencionou avanços na área do melhoramento genético que viabilizaram este sistema de produção, com a obtenção de cultivares adaptados ao clima, além da melhoria das condições da cobertura e estrutura dos solos, cultivos consorciados e Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos (Zarc), que define as melhores épocas de plantio para minimizar perdas.
Ainda no plano histórico, lembrou que, a partir da década de 1990, o cultivo do milho no Brasil migrou para a segunda safra, que hoje corresponde a cerca de 70% da produção nacional, contribuindo os estados do Mato Grosso (maior produtor e exportador), Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás com mais de 85% do cereal produzido nesta etapa. Já a produção de primeira safra, em menor volume, é gerada na maior parte em Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia e Santa Catarina, e direcionada mais ao consumo local. Estes cultivos, segundo Guimarães, tendem a ficar restritos a regiões de condições climáticas condizentes com o plantio de uma única safra por ano.
A instabilidade climática, acentua o pesquisador, é o grande desafio enfrentado pela agricultura de sequeiro e “o cultivo de milho em segunda safra deixa a cultura ainda mais vulnerável, uma vez que pode ser impactada negativamente pelo atraso do plantio da safra antecedente e pela antecipação do final do período chuvoso”. Citou “perdas relevantes” nas safras 2015/16, 2017/18, 2020/21 e na atual (2023/24), frisando que “os impactos das mudanças climáticas sobre a agricultura brasileira são reais e estão se intensificando”.
FENÔMENOS – As perdas de produtividades das lavouras, discorre Daniel, têm sido atribuídas às influências do fenômeno El Niño na safra 2023/24 e La Niña nas três antecedentes. “A oscilação da temperatura da água, monitorada em um ponto específico da linha do Equador na costa do Peru, interfere na ocorrência de chuvas e na temperatura do ar e seus efeitos são mais sentidos nas regiões extremas do País, causando estiagens no Norte e Nordeste e chuvas no Sul (El Niño), e efeitos inversos durante a atuação do fenômeno La Niña”, explica. Aponta ainda possíveis efeitos de gases de efeito estufa sobre ondas de calor no País e aquecimento de oceanos.
O pesquisador especifica que a segunda safra de milho no Brasil plantada no início de 2024 foi bastante impactada pela irregularidade das chuvas. “Tanto o excesso de chuvas, em algumas áreas, ou falta de água no solo, que levaram ao atraso e/ou ao replantio das lavouras, contribuíram para perdas na produtividade, com agravamento em áreas de pastagens convertidas recentemente em áreas agrícolas”, observa. Nota que “efeitos da distribuição irregular das chuvas e das ondas de calor ocorridas nos últimos anos têm levado produtores a avaliar a substituição do milho por culturas mais tolerantes às adversidades climáticas”, vendo tendências de maiores plantios de algodão, girassol, trigo tropical e sorgo granífero.
Ao fazer a abordagem em junho/24, Daniel Guimarães acentuou a preocupação voltada ao plantio da próxima safra de grãos (2024/25) e o fato de as principais regiões produtoras de grãos estarem passando por fortes impactos climatológicos (enchentes no Sul e ondas de calor no Sudeste e Centro-Oeste), afetando a capacidade produtiva. Diante disso e da previsão de La Niña (com pico no final do ano), reforçou orientações: “Recomenda-se que os produtores fiquem de olho no clima e tenham a máxima atenção aos cuidados de preservação do solo, principal patrimônio físico da agricultura nacional, de fácil degradação e difícil recuperação, evitando a ocorrência das queimadas e cuidando para manter uma boa cobertura do solo para evitar os danos causados pela exposição solar”.