Importância da inovação contínua e focada em soluções sustentáveis é tema do terceiro dia do 6º CNMA

A programação do último dia do 6º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA) teve início com a mesa-redonda “Negócio e Agregação de Valor”, que trouxe as perspectivas de diferentes players do mercado sobre a necessidade de inovação pautada pela sustentabilidade e o que isso agrega de valor para o produtor rural.

Segundo o vice-presidente da New Holland Agriculture América do Sul, Rafael Miotto, o produtor rural pode fazer uma revolução digital dentro da sua propriedade, porém precisa saber se isso realmente trará a agregação de valor que busca. “O segredo é digitalizar etapas da operação para que consiga transformar isso em valor. Não se parte para soluções automatizadas, digitais, se não estiver com a base estabelecida, sem conhecer muito bem a propriedade para que essas soluções gerem tomada de decisão e, aí sim, agreguem valor”, afirma Miotto.

Para a digitalização do agronegócio, existe uma necessidade pujante que depende diretamente da ampliação da infraestrutura das telecomunicações no país, aspecto ressaltado pelo gerente-executivo e responsável de Agronegócio no DataLab, Cesar Vieira. “O Serasa Experience, como um player de dados para crédito para os negócios é uma parte extremamente interessada nisso. Mais do que o dado em si, o interessante são as correlações que se consegue montar para que todos esses recursos tecnológicos funcionem. A nossa entrega de valor está em integrar melhor esses dados e como entregar isso na forma de melhoria de processos dos clientes e para a escalabilidade das análises”. 

Caminhando lado a lado estão a tecnologia e a inovação, como salienta a diretora de Assuntos Governamentais da AGCO do Brasil, Ana Helena de Andrade. Para ela, o processo de inovação tem que ser contínuo e crescente. “Gerenciar hoje a inovação passa por estar de olhos e mente abertos para o que está acontecendo no mercado, para as necessidades do campo, ouvindo o que o agricultor precisa e como ele precisa. Dessa forma temos como ofertar soluções sustentáveis no portfólio e levar as tecnologias mais assertivas”.

Para a líder de Lançamento da Plataforma Intacta2 Xtend da Bayer, Natália Carvalho, a inovação não ocorre dentro de um só lugar: ela está acontecendo o tempo todo por meio de colaboração e de co-construção. “Com base nisso, criamos a Intacta2 Xtend com o objetivo de deixar o nosso conhecimento mais acessível por meio de uma estrutura de capacitação e treinamento para levar aos sojicultores brasileiros um conjunto de soluções que incluem biotecnologia de última geração, genética avançada, produtos e técnicas de manejo inovadores, entre outros diferenciais”.

Inovação para a sustentabilidade

No campo dos produtos biológicos e naturais, o CEO da Biotrop, Antonio Carlos Zen ressalta que é preciso considerar que se trata de uma indústria nacional, que não depende de insumos importados e, particularmente, em um momento de crise logística, isso é um grande valor para entregar ao produtor. “O uso de microrganismos na agricultura e também dos extratos botânicos, outro componente que crescerá muito, se torna fundamental nesse momento em que buscamos uma agricultura regenerativa. Precisamos olhar a agricultura de um ponto de vista renovável, mirando a saúde do solo e a redução da carga química. Isso tudo está na nossa agenda e é a nossa forma de entregar valor para o produtor, à comunidade e ao mundo”.

Sobre entrega de valor, o CEO da UPL, Rogério Castro, destaca um projeto ambicioso encabeçado pela empresa em parceria com a FIFA Foundation para tirar da atmosfera 1 gigaton de dióxido de carbono da atmosfera na próxima década, chamado “The Gigaton Challenge”. “O produtor será o protagonista desse projeto porque será ele a sequestrar o carbono no solo. A ideia é realizar Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) a pequenos e médios agricultores do Brasil, Índia, México e África do Sul na primeira fase do projeto”. Nos próximos três anos serão estabelecidas as parcerias e metodologias a serem aplicadas e, a partir de 2025, haverá a escalabilidade, em um primeiro piloto para 1 milhão de hectares em todo o planeta e depois para mais de 100 milhões de hectares.

Inteligência e diplomacia comercial

Unir forças para que o agro brasileiro seja mais próspero, sustentável e atenda as expectativas do consumidor são partes essenciais de inteligência de mercado e diplomacia comercial. O tema foi debatido no primeiro painel do dia, após a mesa-redonda, com a moderação do presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Marcello Brito.

De 3% a 4% do faturamento global das indústrias brasileiras de alimentos e bebidas, que são os maiores elos entre o campo e a cidade, são reinvestidos em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento). Para o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), João Dornellas, esse investimento é importante para garantir a segurança do alimento, mas também para prever os desafios que o consumidor exige ao mercado. “Quando falamos em diplomacia comercial, temos que pensar que é atender às expectativas do consumidor”, afirma Dornellas. O executivo cita que, há 25 anos, a quantidade de opções nas prateleiras dos supermercados eram infinitamente menores do que a disponível atualmente como os produtos diet, light, sem glúten, para veganos e vegetarianos. “Apenas os produtos plant-based, por exemplo, que são baseados em vegetais, vêm crescendo a uma ordem de 10% a cada ano. Isso é competitividade e a vida da indústria é satisfazer às expectativas do consumidor”, completa.

Neste sentido, o supermercado é a interação e a ponte com o consumidor, na avaliação do vice-presidente institucional e administrativo da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), Marcio Milan, que trouxe ao debate as principais tendências do consumidor evidenciadas em um cenário pós-pandemia. Para ele, os consumidores estão mais preocupados com a saúde e a segurança do que estão consumindo. Ou seja, anseiam que a comida do futuro seja mais saudável e com mais transparência, mostrando o seu processo produtivo.

No processo da diplomacia comercial, o distribuidor leva o produto, conhecimento e tecnologia aos produtores. “É um elo forte entre os fornecedores, fabricantes, poder público e sociedade que trabalham em conjunto com o agricultor na busca de dias melhores e incremento da produtividade”, explica o presidente executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV), Paulo Cesar Tiburcio Gonçalves. Além disso, as distribuidoras passam a ser um canal de relacionamento em todos os setores, inclusive no financiamento, o que proporciona um novo olhar na dinâmica das relações e da própria dinâmica comercial. “Para se ter uma ideia, 36% do crédito que chega para o agricultor conseguir produzir parte das ‘mãos’ do distribuidor brasileiro”, informa Gonçalves.

Sobre oportunidades para o agro brasileiro, o painel contou com contribuição da gerente do gabinete da diretoria de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Luisa Cravo. “O setor do agro é um dos prioritários da gerência de investimentos da Apex, atuando com o MAPA e a Embrapa na atração de investimentos estrangeiros para as empresas brasileiras com o objetivo de aumentar a presença internacional e ampliar as capacidades produtivas”, destaca Luisa.

Importância do Brasil para a segurança alimentar mundial

O agronegócio brasileiro ocupa uma posição de destaque no mercado mundial, em termos de produtividade e de segurança alimentar. O painel “Agro do Brasil para o mundo” analisou como o setor alcançou notoriedade global, a necessidade de se assumir compromissos de responsabilidade e sustentabilidade para continuar abastecendo todo o planeta, garantindo alimentos para todos.

O debate teve a mediação da Diretora de Produção Sustentável do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Mariane Crespolini, e contou com a participação do presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho; do gerente do Agronegócio da Apex Brasil, Marcio Soares Rodrigues; do professor de Agronegócio Global do INSPER, Marcos Jank; e do presidente da Cargill no Brasil e Group Leader da Cargill Agricultural Supply, Paulo Sousa.

Quando se fala do protagonismo brasileiro na produção mundial, Marcos Jank aponta a combinação de tecnologia e pessoas como principal razão para essa posição de destaque. “Chegamos a esse patamar após todas as revoluções tropicais, com a aplicação de recursos tecnológicos em bioenergia, no plantio direto, na integração lavoura-pecuária, a partir do esforço das pessoas, que migraram para novas fronteiras de produção, o que permite o protagonismo brasileiro nos dias de hoje”.

Para Paulo Sousa, é impossível abordar o assunto segurança alimentar sem mencionar a importância do Brasil. “A estimativa divulgada pela FAO em 2015 apontava que a produção mundial de alimentos deveria crescer 80% para abastecer toda a população até 2050. O Brasil tem um papel fundamental para atingir esse objetivo de segurança alimentar, com a qualidade característica dos alimentos produzidos em solo brasileiro”, destacou.

Apesar do destaque na produtividade, o agro nacional também enfrenta desafios, principalmente no que se refere à sua imagem. De acordo com Marcio Soares Rodrigues, aliar-se aos compromissos globais é um caminho positivo para o País. “É necessário levar ao mundo uma mensagem de conexão com as agendas globais de responsabilidade e sustentabilidade e mostrar aos demais países as qualidades do agro brasileiro, por meio de ações dos setores público e privado”.

Participação feminina no protagonismo do agro

As mulheres brasileiras estão dominando o agro. A Lista Forbes das 100 Mulheres Poderosas do Agro corrobora essa visão, segundo os painelistas. “Na fruticultura, por exemplo, a participação feminina é fundamental. Que nós possamos cada vez mais incluir as mulheres, com sua liderança e resiliência, características necessárias para a fruticultura e o agronegócio como um todo”, reforça o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho.

O presidente da Cargill no Brasil também evidenciou as mulheres do agronegócio. “No Brasil, a cultura familiar dos negócios rurais é um dos fatores que permite o crescimento da participação das mulheres do setor. A mulher ocupa cada vez mais espaços na sociedade como um todo, e no agro isso não é diferente. As oportunidades profissionais estão abertas a elas”, finaliza.

Importância das mulheres na cadeia logística do agronegócio

A importância e o crescimento da presença feminina na cadeia logística do agronegócio foi o tema central do painel “Mulheres da Distribuição”.

A diretora da Dedeagro e diretora do Conselho da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV), Drielli Dedemo apresentou dados da última Pesquisa Nacional de Distribuição, promovida pela ANDAV, que apontou que cerca de 26% dos colaboradores do setor, atualmente, são mulheres. “Podemos perceber que ainda há muito a conquistar no quadro geral das empresas, mas, pela minha experiência de 12 anos no setor, posso destacar o quanto o espaço da mulher foi conquistado e segue crescendo. Antes muitas delas atuavam no administrativo, mas nos últimos anos, muitas conquistaram espaço em vagas mais técnicas, como engenheiras agrônomas, por exemplo”, destaca.

Há sete anos, a gerente de Marketing da Aprovar Agropecuária, Fernanda Nogueira decidiu fazer parte do quadro de funcionários da empresa do pai. Vinda do mercado da moda, as diferenças do setor não foram os únicos desafios enfrentados por ela. “Aos poucos, por meio do meu trabalho e das minhas experiências, fui ganhando a confiança da equipe. Hoje, posso dizer que faço parte dos resultados, cada vez melhores, da empresa e agreguei bastante ao negócio. Com meu exemplo, posso afirmar que o sucesso não tem a ver com gênero, mas sim com a capacidade e experiência, pelo que você agrega à empresa”, pontua.

Também filha de um dos fundadores da empresa, a sócia-diretora da Agroline Produtos Agropecuários, Luciana Ribeiro também ingressou no negócio da família, mas com a visão de que seria a oportunidade de uma realização profissional. “Quando entrei a equipe era muito masculina. O quadro de funcionários contava com apenas duas mulheres e hoje, já soma mais de 45, em várias áreas. É muito gratificante ver que abri uma portinha e a coisa foi fluindo de um jeito muito lindo para as mulheres na empresa. Hoje temos duas lojas nas quais o top one de vendas são mulheres, que conquistaram esse resultado pelo trabalho e dedicação”.

Trazendo a visão da indústria quanto à importância da mulher no negócio das revendas, a Head de Vendas – Unidade de Negócios Syngenta Brasil e Paraguai, Suzeti Ferreira destaca que esse tema está conectado às oportunidades que o setor vê para trazer mais mulheres ao campo. Segundo ela, atualmente, em sementes, as revendas representam mais de 40% do share de mercado da Syngenta, fator que traz um novo desafio para a indústria. “Como equipe de vendas precisamos ter profissionais para essa demanda, que façam parte do negócio e agreguem mais valor ao produtor. Essa é uma oportunidade para trazer mais mulheres ao agro”.

As 7 Virtudes Capitais das Mulheres do Agro

O painel “As 7 Virtudes Capitais das Mulheres do Agro – CNMA”, em que as representantes femininas do setor foram reconhecidas por suas múltiplas habilidades, teve como ponto alto a responsabilidade e resiliência das mulheres.

Moderada por José Luiz Tejon, sócio-diretor da empresa Biomarketing e coordenador de conteúdo do evento, a mesa-redonda reuniu nomes como a pecuarista e presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), Carla de Freitas; a fundadora e CEO da Agrosmart, Mariana Vasconcelos, a pesquisadora da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa, Petúla Ponciano Nascimento; e o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli.

De acordo com Tejon, as características mais marcantes do gênero são fruto de uma pesquisa realizada pela organização do Congresso Nacional das Mulheres no Agro (CNMA), na qual foram analisados 7.500 mil questionários, recolhidos ao longo dos seis anos do Congresso. “Fizemos um apanhado destas entrevistas e as características que foram mais citadas foram: liderança, afetividade, comunicação, empreendedorismo, resiliência, velocidade e responsabilidade com que as mulheres exercem os seus papéis dentro do agronegócio e na sociedade”, lista.

Para a presidente do NFA, “o evento é uma oportunidade de troca de ideias e sua criação depositou confiança nas mulheres. Dentro deste universo conseguimos afirmar nossa força e mostrar nossa paixão pela terra, pelo agro”, argumenta Carla de Freitas.

Mariana Vasconcelos lembra que quando começou sua carreira quase não encontrava mulheres nos cargos de liderança. “Eu visitava o campo, as empresas e não me via representada. Hoje vemos outra realidade e por meio desse grupo encontramos sororidade. Aqui temos a oportunidade de errar e de empoderar outras mulheres”, afirma.

Para a pesquisadora Petúla Ponciano Nascimento, a mulher cresce cada vez mais no comando das companhias devido a sua capacidade de comunicação. “Durante a pandemia pudemos vivenciar o papel de comunicadora da mulher. É ela quem desmistifica e traduz os acontecimentos para a sociedade, fazendo isso do micro para o macro, ou seja, de dentro de casa para a sociedade. Precisamos continuar atuantes para que possamos trazer uma realidade cada vez mais segura e responsável para nosso setor”.

Convidado para homenagear as líderes deste mercado, Alysson Paolinelli deixou clara sua grande admiração e confiança no feminino. “Mulheres têm capacidade de tomar iniciativas com efetividade, sem perder o carisma e a paciência, virtude que tanto falta aos homens. Tenho que confessar que, ao longo dos meus 60 anos de carreira, fui surpreendido por esta força, que me ensina coisas novas a cada dia”.

Para o próximo encontro do CNMA, várias outras líderes são aguardadas. “Esperamos que no nosso próximo evento tenhamos mais representantes em atuação para que possamos contar com a inteligência emocional e a força da mulher no setor agro”, finaliza Tejon.

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