Mais produção em menor área

Estudo da Embrapa mostra que avanço na produtividade do algodão com novas tecnologias evita exploração de 18,5 milhões de hectares de terra no País – Destacam-se melhorias genéticas, manejo da fertilidade e plantio direto

Uma comparação entre as produtividades obtidas há quatro décadas e a atual no algodão, feita pela empresa pública de pesquisa Embrapa, evidencia o quanto se poupa de terra no Brasil para alcançar alta produção da pluma, da qual o País é hoje o quarto maior produtor e segundo maior exportador. Em trabalho divulgado no último ano (2021), destaca o “impressionante crescimento na produtividade, que era de somente 140 quilos por hectare de fibra na década de 1970 e aumentou para cerca de 1.730 kg/ha na média das últimas cinco safras, ou seja, um aumento de 1.100%”. Essa mudança, ressalta, “poupa, a cada ano, a exploração de 18,5 milhões de hectares de terra”.

O incremento na produtividade, mencionou a empresa de pesquisa, ocorreu quando se conseguiu desenvolver um modelo de produção adequado ao ambiente tropical, enquanto até então se utilizava sistema copiado de regiões temperadas. Para viabilizar os resultados, foram adotados vários mecanismos, como o melhoramento genético de cultivares, desenvolvendo e adotando variedades que se mostraram mais produtivas. Novas opções foram selecionadas em programas na área (desenvolvidos, por Embrapa, Instituto mato-grossense IMAmt e outros privados), onde, além de aumentar a produtividade, também era obtida resistência a numerosa lista de doenças e pragas tropicais, adaptadas à colheita mecanizada e com melhor qualidade de fibra.

A fertilização adequada também foi enfatizada, citando-se relato de 1984, em que o uso de fertilizantes nas lavouras brasileiras atingia, em média, somente 9% da quantidade que deveria ser utilizada. “O conhecimento para manejo da fertilidade do solo tropical para lavouras de algodão foi sendo construído passo a passo ao longo de décadas”, comentou a Embrapa, observando que “os relatos mais atualizados demonstram claramente que as tecnologias para manejo da fertilidade de solo no cerrado (onde ocorreu a expansão da produção) foram capazes de superar os principais desafios tecnológicos que havia nos primórdios do desenvolvimento desse sistema de produção”. O solos, que inicialmente tinham acidez extrema, por exemplo, estão todos dentro de uma faixa próxima da neutralidade, conforme foi referido.

Entre as novas tecnologias utilizadas, mereceu destaque o conjunto adotado no chamado Sistema Plantio Direto, que, no lugar do revolvimento do solo antes adotado, aplicou o aumento da sua cobertura com palha, evitando a erosão, entre outros benefícios, além de ter como característica ainda a rotação de culturas. Confirmaram-se, desta forma, maiores produtividades, com manutenção de matéria orgânica e reservas de importantes nutrientes, além da água, inibição de ervas daninhas (com menor uso de herbicidas), aumento do carbono no solo que ajuda a mitigar o efeito estufa e dispensa de operações como aração e gradagem.

UMA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

A sustentabilidade da produção com alta produtividade foi colocada em ênfase no trabalho da Embrapa, lembrando que mais de 80% dos produtores têm certificação pelos programas Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Better Cotton Initiative (BCI), com respeito a critérios ambientais, sociais e econômicos, e que os agricultores brasileiros seguem legislação ambiental avançada, preservando grande parte de suas propriedades com áreas de reserva legal e preservação ambiental. Assim, pontuou que, enquanto a produção nacional representa cerca de 10% da mundial, corresponde a mais de 30% da oferta mundial de algodão certificado (em 2020, passou para 38%).

O estudo sublinha ainda o papel da resistência genética obtida a várias doenças e pragas para reduzir o uso de produtos químicos no seu controle (caso do inseto pulgão e viroses transmitidas como doença azul e mosaico da nervura, da bactéria causadora da mancha-angular, da mancha de alternária, ramulária e nematoides-das-galhas). Da mesma forma, assinala a inserção do cultivo em sistema de rotação de culturas, que inclui soja e milho, além de muitas outras espécies, como capim-braquiária, bovinos, milheto, sorgo, feijões, entre outras. “Essa alta biodiversidade é um dos pilares para a sustentabilidade da agricultura tropical, propiciando maior eficiência de aproveitamento dos fertilizantes, melhora no manejo de plantas daninhas e redução de pragas e doenças”, acentua.

O trabalho refere também “variadas tecnologias mais amigáveis ao meio ambiente adotadas pelos produtores, com destaque para diversas formas de controle biológico, como vírus para controle de Helicoverpa armigera, fungos para nematoides e vespas para lagartas”. Especifica ainda que o Sistema Plantio Direto, integrado à rotação com milho, soja e capim-braquiária, aumentou em 59% o teor de carbono orgânico do solo de cerrado (Isso na camada até 5 cm, enquanto em 40 cm, o aumento em nove anos atingiu 17%, quatro vez mais que a proposta da 21ª COP – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). Além disso, a produtividade medida aumentou 158 quilos por hectare, entre outros benefícios. “Os avanços científicos são indícios de que o Brasil será capaz de manter o aumento de sua produção de algodão sem exigir expansão da área cultivada”, conclui o estudo.

(Publicado no Anuário Brasileiro do Algodão 2022, Editora Gazeta)