Fernando Mendes Lamas
fernando.lamas@embrapa.br
Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
Com o aumento populacional e melhoria da renda das pessoas, especialmente em países populosos, como a China e a Índia, aumenta a demanda por maior oferta de alimentos e, por conseguinte, são postos novos desafios à agricultura.
Aumentar a produção de alimentos, fibras e energia, por meio do aumento de produtividade é o grande desafio para os países produtores, como é o caso do Brasil. Assim, não será necessário abrir novas áreas. Isso poderá ser alcançado com a incorporação de tecnologias, algumas muito simples, e muitas com custo praticamente zero. Semear na época certa não tem custo algum. No entanto, quando o agricultor realiza a semeadura na época mais indicada, ele está minimizando os riscos e, também, poderá ter ganhos de produtividade. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é uma política pública, disponível e ao alcance da maioria dos agricultores brasileiros. Neste novo cenário, intensificar e integrar são ferramentas fundamentais para o aumento da produtividade. Não somente a produtividade física, mas também de todos os fatores de produção. Como exemplo, a integração lavoura-pecuária (ILP) é uma estratégia para recuperar pastagens degradadas e, por conseguinte, melhorar a produtividade da pecuária de corte, além de liberar área para cultivo de grãos, fibras e energia. Juntamente com a melhoria da produtividade que, de uma maneira geral, se dará pela intensificação de tecnologias que permitirão maior controle do processo de produção, como a digitalização da agricultura.
A melhoria da produtividade é a melhor estratégia para garantir a segurança alimentar. Essa exige a disponibilidade quantitativa e qualitativa dos alimentos, mas isso somente não será suficiente. É preciso que o alimento atenda às exigências dos consumidores. Se, de um lado, a sociedade tem a sua demanda por alimentos, fibras e energia aumentada, por outro lado, ela também exige que sejam produzidos de forma sustentável. Sustentabilidade aqui vista como a forma ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável para se produzir alimentos, fibras e energia. Modelos de produção que priorizam o uso mais racional dos recursos naturais, especialmente o solo e a água, terão maior atratividade por parte dos consumidores. Sistemas de produção com maior diversidade de espécies, que degradem menos o solo e que contaminem menos o ambiente, são aqueles mais indicados. Assim, o sistema plantio direto, onde práticas como a rotação de culturas, o não revolvimento do solo e cobertura permanente do solo, é o mais indicado do que aquele sistema em que se cultiva poucas espécies, o solo é revolvido por meio do uso de arados e grades e, na maioria das vezes, permanece descoberto.
Com o revolvimento do solo, especialmente em ambientes tropicais como o nosso, onde se tem temperaturas elevadas e umidade, a matéria orgânica é mais facilmente queimada, consequentemente a capacidade produtiva do solo é reduzida. Em alguns casos, o efeito da movimentação do solo é tão perverso, que pode levar à degradação. Solos degradados, além de terem a sua capacidade de produção reduzida, devido aos processos erosivos, contribuem para o assoreamento de cursos de água e para a emissão de gases de efeito estufa. Quando se considera os fatores de produção, os custos de produção e as demandas da população, chega-se à conclusão sobre o tamanho dos desafios para a agricultura. Ao agricultor, independente da área cultivada, para que ele possa continuar produzindo e auferindo lucros, é imperioso o aumento da produtividade e a redução dos custos. Para reduzir custos é preciso aprimorar os processos de gestão, de tal forma que, ao final, o produtor saiba, com segurança, quanto lhe custou produzir um litro de leite, um saco de milho ou um saco de feijão. Além, é claro, de quanto lhe custa uma hora máquina para cada operação realizada da semeadura até a colheita.
Com essas informações, o produtor poderá identificar pontos que são passíveis de melhorias para incrementar a produtividade dos fatores de produção. Além de aumentar a produtividade, é preciso considerar a sustentabilidade, a possibilidade de rastreabilidade e de certificar a qualidade sanitária e nutricional do que é produzido. Aspectos que serão cada vez mais exigidos pelos consumidores. Considerando que muitos compradores somente se interessam por grandes quantidades de um determinado produto, o produtor, para fazer frente a esse desafio, com padrão de qualidade, terá que necessariamente se organizar em cooperativas e ou associações ou ainda fortalecer as já existentes. Aumentar a produtividade dos fatores de produção e das espécies cultivadas, incorporando ao processo produtivo às novas exigências do consumidor, é decisivo para a agricultura atender aos desafios que lhe são postos.