Agrotóxico faz mal só quando usado em lavoura de tabaco? Ou faz mal em qualquer cultura e lugar no mundo?
Pessoas que tiram a própria vida, eis um tema sempre delicado. Tão delicado que o Ministério da Saúde busca esclarecer sobre o assunto, que exige serenidade em qualquer abordagem. Menos de parte dos que combatem o tabaco, dos quais seria querer demais que tivessem bom senso, diante da histérica perseguição a essa cultura. Em nome de atacar o tabaco, se for necessário expor famílias, cidades e regiões, como sinaliza a edição 2.606 da revista Veja, de 31 de outubro, antitabagistas jamais perderiam tempo. Mas perdem a ética e a legitimidade, se alguma vez as tiveram.
O suicídio é um dos maiores tabus da humanidade. Quando um drama de tão largo alcance, que ultrapassa lugares, sociedades ou épocas, é abordado de forma leviana, atacando uma única cidade, como foi feito em relação a Santa Cruz do Sul, é porque o objetivo é caluniar. Ainda mais quando a cidade de forma alguma é campeã no que a matéria sugere, bastando conferir o Ministério da Saúde para verificar que dezenas de localidades têm números bem mais alarmantes. Santa Cruz é admirada justamente por seus índices de desenvolvimento humano. Ou seja, tem-se uma grotesca fake new, visivelmente “encomendada”.
Santa Cruz é referida não porque teria alto índice de suicídios. É a escolhida por ser associada a tabaco. O texto é de tal forma afoito em enfatizar o alvo real que logo menciona: “fumo”. Bingo! A matéria é toda sobre tabaco. A descrição começa por enumerar os espetaculares dados socioeconômicos regionais, e logo descamba numa mirabolante tentativa de cruzar dados para denegrir a comunidade. Nas fotos, óbvio, tabaco. Maniqueísmo puro. E isso precisa ser contestado, até via justiça.
Em tentativa simplória de justificar “alto número de casos”, aponta o uso de agrotóxicos em lavoura de tabaco. Estariam os suicídios circunscritos ao meio rural? E seriam os casos elevados em soja, tomate e algodão, que adotam volume estratosférico de agrotóxico? Só no tabaco ele faz mal? E só em Santa Cruz? Os índices não teriam de ser proporcionais nos mais de 600 municípios que cultivam as folhas? Por que locais com muito mais casos estão a centenas de quilômetros de lavoura de tabaco? Suicídios ocorreriam só em áreas de tabaco no Brasil, ou também em outros países? Seria tabaco o problema, ou não seria a loucura antitabagista?
Os argumentos são de uma insensatez que beira a caso de polícia. O Brasil como um todo tem alto número de suicídios. Pinçar um único município dentre dezenas com índices muito mais altos de suicídios no País, e atribuir a ele a condição de campeão nacional, é uma afronta à região e a uma cadeia produtiva. Mas é apenas a continuação de uma já exaustiva (e, diga-se, infrutífera) campanha de difamação de localidades identificadas com o tabaco. Em outros tempos o alvo foi Venâncio Aires, cidade vizinha a Santa Cruz. No futuro, tantos outros municípios acabarão por ser atacados, porque, tão certo como a produção de tabaco terá vida longa, é certo que a histeria antitabagista é praticamente sem cura.