Com investimento de quase R$ 3 milhões, multinacional criada por brasileiros testou produto que atrai abelhas e estimula polinização em dez países
A presença de abelhas em lavouras de maçãs, melancia, amêndoas, melão, manga, abacate, framboesa e blueberries (mirtilo) pode levar a um ganho de produtividade superior a 20%, indicam testes feitos pela multinacional ISCA Tecnologias em pelo menos dez países. Fundada por brasileiros de Ijuí, interior do Rio Grande do Sul, a empresa, com sede no Brasil e Estados Unidos, conseguiu desenvolver um produto à base de semioquímicos, que atrai as abelhas para os pomares e estimula a polinização. O semioquímico é uma formulação desenvolvida em laboratório, biodegradável, que simula o feromônio, odor emitido pelos insetos para se comunicar.
“Algumas culturas são muito dependentes das abelhas para atingir ganhos de produtividade, o que leva os produtores do sul do Brasil, por exemplo, a ter caixas com abelhas espalhadas pela propriedade”, afirma Leandro Mafra, presidente da ISCA Latam. “Mas nem sempre isso funciona, porque as abelhas podem migrar para outras áreas próximas, em busca de plantas que entreguem mais pólen e néctar, comprometendo a produção do agricultor”.
Mafra explica que quando a abelha encontra essas plantas ricas em pólen e néctar, marca o local com um odor característico identificado por insetos da mesma espécie. Foi considerando este comportamento que a empresa criou o produto que simula o odor da abelha.
“A idéia foi aplicar o semioquímico sobre as árvores da plantação e, desta forma, induzir as abelhas a ficarem mais tempo nos pomares comerciais”, conta Mafra. “Além disso, o semioquímicos ajudam os insetos a fazerem uma visitação mais homogênea, melhor distribuída na propriedade”.
Os estudos e testes de Apis Bloom, o produto em questão, levaram quatro anos e foram realizados nos Estados Unidos, Brasil, México, Austrália, Portugal, além da Argentina, Chile, Peru e de países da América Central (Porto Rico e Guatemala). O investimento total no desenvolvimento do produto, que é biodegradável e não oferece riscos às abelhas, foi de cerca de R$ 3 milhões.
No Brasil, os testes estão sendo feitos em propriedades que cultivam soja, maçã, café, manga, abacate, melão e melância, mas o produto poderá ser útil em mais de 80% das culturas que, segundo a empresa, dependem da polinização.
“Os resultados obtidos até agora no Brasil são bastante promissores, o que reforça a importância dos semioquímicos como nova geração de defensivos agrícolas”, antecipa Mafra.
Orgânicos
O produto desenvolvido pela ISCA Tecnologias já está sendo comercializado nos países em que os testes foram finalizados, como é o caso dos Estados Unidos. Além da formulação convencional, a empresa também desenvolveu uma versão orgânica, a partir de um investimento de R$ 1,1 milhão.
No caso do semioquímico orgânico, a fórmula foi elaborada com matéria-prima aprovada por empresas certificadoras. Os estudos desta versão levaram dois anos e foram realizados em fazendas dos Estados Unidos, onde são cultivadas blueberries. Conforme os resultados divulgados pela empresa, o aumento de produtividade chegou a 21%.
Sobre a ISCA
A ISCA Global é uma empresa multinacional sediada nos Estados Unidos mas criada por brasileiros, em 1996, com subsidiárias no Brasil, em Ijuí, Rio Grande do Sul, e na Califórnia, nos Estados Unidos. A companhia desenvolve produtos biodefensivos para o controle de insetos de forma natural e que não agridem o meio ambiente. Nos Estados Unidos, a ISCA Inc. mantém parte da estrutura de pesquisa e desenvolvimento de produtos, assim como também no Brasil. O propósito da empresa é mudar a lógica de controle de pragas, sem a necessidade do uso em massa de sprays de inseticidas, como faz em lavouras de maçã e uva, por exemplo. Em 2012, ganhou o prêmio principal da Americas Foundation Wireless Innovation Project. Em 2016, desenvolveu três novas tecnologias para o combate ao mosquito Aedes aegypti, que é vetor de doenças como Zika, Chikungunya e dengue. Em 2020, a companhia firmou parceria com o grupo Bom Futuro, maior produtor de soja do Brasil, para implantar, na Fazenda Filadélfia, no Mato Grosso, um Centro de Excelência em Semioquímicos. A experiência vai ajudar a inserir os bioinsumos no controle de pragas que atacam a soja, o milho e o algodão.