USDA revisou em junho dados da safra mundial 2023/2024, colocando o Brasil à frente.
De Benno Bernardo Kist, em 02/07/2024
Fotos: Carlos Rudiney – ABRAPA
Foi muito comemorada pelo setor a notícia trazida pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), para a reunião da Câmara Setorial do Ministério da Agricultura, durante a programação do 21º Anea Cotton Dinner, dia 28 de junho em Comandatuba, Bahia, de que o Brasil assumiu a primeira posição entre os exportadores da pluma na safra 2023/2024. Os dados são do relatório mais recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), referente a este mês, já no final da safra, quando reduziu os números do líder Estados Unidos divulgados no mês anterior, de 12,30 para 11,80 milhões de fardos, e aumentou os do Brasil, de 12,10 para 12,40 milhões de fardos.
O País já estava sendo colocado pela mesma fonte como terceiro maior produtor, ultrapassando também o país norte-americano, que teve quebra, e agora alterou a posição brasileira também na exportação, alçando-o ao primeiro lugar nesta safra. Para a próxima (2024/2025), conforme o mesmo relatório, manteve a colocação na produção brasileira, porém previa novamente os norte-americanos como líderes nas vendas externas, com pequena diferença em relação aos brasileiros.
O setor havia estabelecido uma meta para atingir a liderança na exportação até 2030, mas já se apontava no recente Anuário Brasileiro de Algodão 2024, da Editora Gazeta, divulgado também no evento, que esta posição seria alcançada antes e os números já estavam próximos. Assim, o grande número de participantes na reunião da Câmara Setorial comemorou muito a confirmação da conquista já para a safra 2023/2024. “Trata-se de um trabalho conjunto de todos os que compõem o segmento, e todos devem ser parabenizados”, salientou Miguel Faus, presidente da Anea.
No anuário, Faus já observava que “a liderança como exportador deve acontecer naturalmente, a partir do excelente trabalho do segmento no País, mostrando sustentabilidade, rastreabilidade, qualidade e, somando preço competitivo, efetivo comprometimento com o mercado”. Mas deixou claro no evento que isto não pode ser garantido também no próximo ano, diante do aumento produtivo previsto nos Estados Unidos e dos números dos dois países estarem próximos. Há consciência no setor de que podem ainda ocorrer alternâncias nesta posição, porém a tendência é de que se consolide a liderança brasileira.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel, que também preside a Câmara Setorial, reforçou que o acontecimento “é um marco histórico”. Mas ressaltou sobretudo “o trabalho contínuo que se fez para aperfeiçoar os processos, incrementando cada dia mais a qualidade, a rastreabilidade e a sustentabilidade, e, em consequência, a eficiência”, para levar a este resultado. Lembrou que, há pouco mais de duas décadas, o País era o segundo maior importador mundial, “guinada que se deve a muito trabalho e investimento na reconfiguração total da atividade, com pesquisa, desenvolvimento científico e união”.
Schenkel manifestou o orgulho dos produtores e enalteceu todos os ex-presidentes da associação nacional. Entre eles, Sérgio de Marco recordou que, há dez anos ou mais, se dizia que isto não seria possível. “Mas conseguimos, porque temos competência e nosso algodão é muito bom e barato”, asseverou. Mais integrantes da cadeia produtiva salientaram o feito, e ainda o atual presidente, o executivo Márcio Portocarrero e representantes estaduais, divulgaram números da safra 2023/2024, em fase final. Pelos dados de junho/24, previa-se colher 3,67 milhões de toneladas de pluma (14,8% a mais que na anterior), com produtividade pouco menor (5,1%, 1.841 kg/ha) e área ampliada (19,5%, para 1,99 milhão ha), devido em especial à migração de milho segunda safra e resultado inferior na soja. A exportação ficaria próxima de 2,6 milhões de toneladas.
CONSUMO
O consumo interno, atualmente em torno de 700 mil toneladas, também foi tema de debate no evento, com vasta programação. Conforme disse Fernando Pimentel, superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), já no Anuário do Algodão e neste encontro, a demanda interna em 2023 ainda mostrou dificuldades por questões econômicas, o que, aliado à concorrência desleal com plataformas digitais internacionais, provocou resultado muito aquém do esperado pela indústria, que espera alguma melhora no corrente ano. Sua expectativa é de que, em trabalho integrado com o setor, possa ser ampliado novamente o consumo. O desafio lançado, junto com o presidente da Abrapa, é de se alcançar 1 milhão de toneladas.
Da mesma forma, a busca de maior valorização do algodão em relação ao sintético, que tem crescido mais do que aquele em nível mundial, foi enfatizado no encontro. Com especialistas presentes, salientou-se que pode haver mais mercado para a pluma, com mais produção, especialmente com a demonstração da sustentabilidade da fibra natural e das práticas produtoras muito bem desenvolvidas no Brasil nesta direção, embora às vezes desmerecidas por notícias inverídicas. Questões de logística, com maior uso de estrutura ferroviária e mais portos, também foram debatidas, junto com inovações tecnológicas, integração mais intensa das mulheres na linha de frente do setor e mobilizações em diversos sentidos, buscando avançar cada vez mais no já exitoso negócio algodoeiro no País.