Diante da exportação de matéria-prima, números poderiam ser melhores
O Brasil consolida cada vez mais sua posição como grande produtor e exportador da soja em grãos e, nos últimos anos, ampliou o volume processado da matéria-prima para produzir farelo, óleo e derivados. Este movimento deve continuar. Sem dúvida, são números importantes, mas a cadeia produtiva entende que poderiam ser ainda melhores.
Para se ter ideia, em termos de processamento, no ciclo 2017/18 a indústria nacional gerou 32,8 toneladas de farelo de soja, o que representa crescimento de 3,8% diante das 31,56 milhões de toneladas do período 2016/17. Em cinco safras, a evolução foi de 14%. Os números da exportação projetados pela Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) para 2018 são otimistas e apresentam crescimento de 16,5%, passando de 14,38 milhões de toneladas para 16,75 milhões de toneladas.
Com isso, 51% da produção de farelo de soja do Brasil está endereçada a outros países. Em cinco anos, a presença brasileira no mercado externo cresceu 21,2%. O salto maior em 2018 não se deve apenas à oportunidade de mercado, mas também à necessidade de direcionar a produção local para outros destinos, pela retração no mercado doméstico. Embargos à carne brasileira, como do frango para a Europa, e o crescimento menor do que o esperado nas áreas das proteínas desaqueceram a indústria de rações.
Com isso, o consumo doméstico caiu 4,8%, de 16,28 para 15,5 milhões de toneladas, que corresponde a 43,7% da produção da temporada. Apesar do percalço, no período de cinco anos a demanda interna cresceu 4,7%, o equivalente a 700 mil toneladas. Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), diz que após uma expectativa de crescimento de 3% no mercado de rações em 2018 agora o setor comemoraria a repetição do resultado de 2017. O anúncio de abertura do mercado indiano para a carne suína brasileira anima o setor de rações, mas para 2019.
Além de agregar o impacto da paralisação dos caminhoneiros e o aumento de até 50% no valor do frete com a nova tabela obrigatória, o setor de farelo – bem como o de proteínas – enfrenta a elevação do custo da matéria-prima com preços – e prêmios alcançados após a demanda histórica do grão pela China. Mesmo que tenha exportado mais, o Brasil deve ingressar em 2019 com o maior estoque de farelo dos últimos cinco anos, de 2,144 milhões de toneladas.
O FATOR CHINA
Daniel Furlan Amaral, gerente de Economia da Abiove, enfatiza que, diante da rixa comercial entre China e Estados Unidos, que estabeleceu sobretaxas aos produtos, o gigante asiático passou a demandar volumes históricos do Brasil. A China, porém, é mercado tradicional de grão, pois tem grande capacidade de esmagamento instalada e um sistema de verticalização das compras que dá preferência à matéria-prima.
Com a disputa comercial, a soja americana sofreu deságio na China, o que gerou aumento nas cotações da commodity no Brasil e na Argentina. Isso aumentou o custo da matéria-prima industrial e reduziu a competitividade do farelo e do óleo nacionais. “O cenário é ótimo para o grão, mas afeta a capacidade de exportar produtos de alto valor agregado”, explica o dirigente. Fica pior porque, com boa safra e sem demanda chinesa, os EUA precisam reduzir estoques e passaram a competir de forma agressiva nos mercados compradores do país, como a Europa e o Sudeste Asiático.
“Com menor demanda, pelos embargos na Europa, a indústria local de proteína animal também sente o reflexo no custo da matéria-prima para ração, ao menos até a próxima safra e/ou até que o mercado consiga se ajustar”, adverte. É esperada uma reação com aumento de área na safra 2018/19, mas sempre há o temor de que a colheita cresça contando com as compras chinesas, e que os asiáticos restabeleçam relações com os Estados Unidos e isso deixe o Brasil e o mundo com excesso de oferta, o que derrubaria os preços globais.