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“O ano de 2020 foi desafiador para a Ciência no mundo”, frisa o presidente da Embrapa, Celso Moretti, que assumiu o posto em 20 de dezembro de 2019. Também faz questão de reforçar a importância da Ciência porque é o alicerce de instituições que geram conhecimentos e soluções agropecuárias, como a Embrapa. O compromisso da empresa pública é apresentar respostas para os principais problemas do agro nacional, fundamental para economia, pois sustenta 22% do Produto Interno Bruto (PIB), e para a segurança alimentar do Brasil e do mundo. “O reflexo dessa agricultura movida a ciência está diariamente na mesa dos brasileiros e nos produtos que exportamos para centenas de países”, conclui.
Conforme Moretti, a Embrapa enfrentou o desafio, novo e incerto, da pandemia de Covid-19 com serenidade em 2020, graças à solidez do trabalho que consolidou há quase cinco décadas. “A empresa não parou porque sabemos que o agro é o motor da economia nacional”, justifica. As pesquisas no campo e nos laboratórios não foram paralisadas, mesmo com mais da metade dos empregados trabalhando remotamente.
Além disso, observa que, na verdade, a pandemia acabou acelerando o futuro, obrigando-os a se aventurarem em iniciativas que ainda estavam sendo estudadas ou iniciadas, como o teletrabalho, maior investimento em capacitações online, lives com técnicos e produtores, desenvolvimento de sistemas de planejamento e monitoramento de safras por satélite. Também foram necessárias adaptações, uma vez que os efeitos do coronavírus representaram impactos que demandaram investimentos em tecnologias de automação e conexão no campo. Mais de 40 cursos online diferentes foram realizados, oferecidos por 25 centros de pesquisa, que registraram mais de 400 mil inscrições em todo o País.
Embrapa realizou mais de 40 cursos online em 2020, com mais de 400 mil inscrições
A partir da experiência de 2020, a Embrapa está pronta para o amadurecimento de estratégias adotadas no ano passado, quando o país e o mundo foram surpreendidos com situações para as quais nem sempre havia preparo e planejamento compatíveis com as circunstâncias. “Para empreender e enfrentar os inúmeros desafios brasileiros no pós-pandemia, além do trabalho desenvolvido na empresa, será necessário contar com a implementação de políticas públicas, bem como a atuação coordenada de instituições de pesquisa, empresas do setor privado e startups”, conclui.
Por meio das parcerias e fortalecimento da programação de pesquisa, a Embrapa vai continuar investindo no desenvolvimentos de novas soluções para os problemas mais emergentes do agro brasileiro. Além disso, antever tendências de mudanças nas cadeias produtivas. “Essa também é a missão de uma empresa de inovação, antever cenários futuros e já começar a estabelecer estratégias, ações e novas tecnologias para minimizar ameaças e melhor aproveitar as oportunidades que irão surgir”, salienta. Mas tudo isso será alinhado com as prioridades estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, responsável pela implantação e desenvolvimento de programas de governo específicos para garantir a sustentabilidade da atividade agropecuária no Brasil.
“O impacto da pesquisa agropecuária está presente em todos os momentos da vida do brasileiro”, ressalta Moretti. Entre os indicadores que atestam o alto retorno social do uso de tecnologias da Embrapa está a geração de mais de 46.500 novos empregos em 2019. Isso sem contar os destaques tecnológicos que geraram grande impacto, como a inoculação de solos com bactérias para aumentar a absorção de fósforo pelas plantas, aplicativos desenvolvidos para diversas cadeias, o sistema integrado para produção de alimentos, a cultivar de uva sem sementes BRS Vitória, a cultivar de forrageira BRS Kurumi, a plataforma AgroAPI, com dados e modelos agrícolas, entre outros.
Em cinco décadas, o Brasil criou um modelo sustentável e competitivo de agricultura tropical, sem paralelo no mundo, porque tem um sistema de pesquisa e inovação no qual fazem parte a Embrapa, universidades federais, estaduais e privadas, o sistema estadual de pesquisa agropecuária e o setor privado. “A ciência transforma a realidade. Essa é certeza da capacidade que a pesquisa tem de atender às demandas do futuro, cada vez mais desafiador”, diz Moretti. A produção de alimentos de qualidade, com produtividade, segurança e sustentabilidade econômica, social e ambiental, aponta para a importância de o Brasil se manter na liderança do ranking mundial de países capazes de assegurar a qualidade de vida por meio da produção agropecuária.
INVESTIMENTO
A maior parte do orçamento da Embrapa provém da União. Mas outras fontes financeiras são cada vez mais buscadas. Hoje, 1.012 projetos de pesquisa estão em execução na Embrapa, nos quais foi investido o valor de R$ 168,1 milhões em 2020, oriundo do orçamento próprio da Embrapa, ou seja, do Tesouro Nacional, e de fontes externas privadas e públicas. Há pouco tempo o número de projetos era de 850 a 900. Desse total de projetos, 192 recebem recursos da iniciativa privada ou de parcerias. Mais de R$ 32,2 milhões foram investidos pelo setor privado, o que significa um salto de 11,3% para 17,3%, com a perspectiva de chegar aos 40% até 2023.
Os parceiros atuais são empresas públicas e privadas, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), universidades, associações, cooperativas, organizações estaduais de pesquisa e de assistência técnica e extensão rural, bancos e organismos inernacionais. A Embrapa apurou um lucro social de R$ 46,49 bilhões em 2019, provenientes dos impactos econômicos de 160 tecnologias e cerca de 220 cultivares. Considerando apenas a receita da empresa pública e o lucro social obtido, o retorno anual foi doze vezes superior ao investimento. Isso significa que para cada real aplicado, pelo menos doze reais foram devolvidos para a sociedade.
PERFIL
O presidente da Embrapa, Celso Moretti, é engenheiro agrônomo, mestre e doutor em produção vegetal e especialista em engenharia de produção com ênfase em gestão empresarial. É pesquisador da empresa desde 1994, onde se dedica à gestão pública desde 2008.
Entre 2008 e 2013, foi chefe geral do Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças (Brasília, DF) e chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da Embrapa, entre 2017 e 2018. Exerceu o cargo de diretor executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa (2017-2019). Possui treinamento gerencial na Fundação Dom Cabral (2009) e na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP, 2017).
É alumni (2016) da Harvard Kennedy School of Government, Harvard University, Cambridge, EUA. Foi bolsista em produtividade científica do CNPq de 1999 a 2017. Desde 2006, é docente convidado da University of Florida (EUA). É autor de capítulos de livros, editor de livros técnicos e autor e coautor de trabalhos técnico-científicos em periódicos nacionais e internacionais. Possui ampla experiência internacional tendo apresentado trabalhos científicos, atuado como consultor e proferido palestras, seminários e conferências em mais de 30 países.