Por Cássio Filter, de Brasília (cassio@editoragazeta.com.br)
Lideranças da cadeia produtiva do tabaco ouviram ontem, do segundo homem mais poderoso do governo federal, a notícia de que o Brasil tende a preservar o setor durante as discussões da COP 7, que ocorre no mês que vem na Índia. A declaração do gaúcho Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, encheu de entusiasmo os participantes do encontro, realizado no Palácio do Planalto. O próprio ministro se disse favorável à preservação do cultivo do tabaco no País.
Padilha escutou durante 45 minutos a argumentação da comitiva que foi a Brasília para a reunião, articulada pelo deputado federal Heitor Schuch (PSB), que também teve a participação do deputado federal Sérgio Moraes (PTB) e do deputado estadual Marcelo Moraes (PTB). Ao final da audiência, a fala de Padilha foi emblemática. “Não temos como afirmar com certeza, mas podemos dizer que há uma tendência de que o Brasil preserve o setor do tabaco nas discussões da COP 7”, disse.
O ministro fala em tendência porque a posição definitiva do Brasil será definida em uma reunião interministerial que deve ocorrer nos próximos dias. Pelo menos duas pastas devem se posicionar contra o setor do tabaco: Relações Exteriores e Saúde. Em compensação, a força-tarefa envolvendo os ministérios da Agricultura, Fazenda e Desenvolvimento Econômico se preocupa em blindar a cadeia, dado o impacto devastador que a erradicação da cultura pode causar aos três estados do Sul do Brasil.
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul nesse fim de semana, Eliseu Padilha já antecipou acreditar que a maioria do governo deverá se posicionar favorável à cadeia do tabaco na hora de definir qual será a postura do Brasil na COP 7. No complexo tabuleiro do poder em Brasília, uma peça tem desequilibrado a disputa a favor da fumicultura: o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. O próprio Padilha disse, durante a reunião de ontem, que “o cenário mudou depois que Maggi assumiu postura mais forte em defesa do setor”. Isso se deu após ele visitar a região, em julho.
Ao final da reunião, a sensação dos representantes da cadeia produtiva era de entusiasmo. Considerando que há poucos meses o setor sequer era atendido pelo segundo escalão dos principais ministérios, a recepção e o apoio recebidos no Palácio do Planalto soaram como o sinal de que tempos menos turbulentos se avizinham para a fumicultura brasileira.
Uma das expectativas é com relação ao anúncio de que o governo irá solicitar o credenciamento de pelo menos um representante do setor como observador na delegação oficial brasileira na conferência, o que nunca aconteceu em edições anteriores.
O que é a COP?
A cada dois anos é organizado um encontro entre os países que aderiram à Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). É a chamada Conferência das Partes, de onde saem as medidas restritivas ao tabaco que devem ser praticadas pelos países signatários da CQCT. Entre os dias 7 e 12 de novembro, ocorrerá a sétima edição da COP, em Nova Déli, na Índia. Na condição de segundo maior produtor e principal exportador mundial, o posicionamento do Brasil é fundamental para definir os rumos do tabaco no mundo.