Anidro cresce e hidratado
recua nesta temporada, sem
grande impacto
O ronco do motor
Etanol mostra tendência de estabilidade na produção e nomercado
no ciclo 2016/17, na expectativa de regras definidas para arrancar no futuro
O biocombustível brasileiro à base de ca-
na-de-açúcar que movimenta veículos flex
(etanol hidratado) e o misturado à gasolina
(anidro) deverão ter oscilações diferenciadas
na safra 2016/17, em relação à anterior. Mas
o etanol total deverá ficar quase no mesmo
nível da temporada passada – menos 0,4%,
conforme Companhia Nacional de Abasteci-
mento (Conab) e projeções semelhantes da
União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Uni-
ca) sobre região Centro-Sul, maior produto-
ra. Estimativas indicam acréscimo no etanol
anidro e diminuição no hidratado, o que foi
ratificado nos primeiros meses da safra. Já as
exportações de ambos reagiram.
Este quadro não deve trazer grande im-
pacto no mercado, conforme avaliação fei-
ta em julho de 2016 por Antonio de Padua
Rodrigues, diretor técnico da Unica. Quan-
to às exportações, que cresceram nos dois
tipos de etanol (direcionadas mais aos Es-
tados Unidos e à Coreia do Sul), a Conab
observou respaldo de demanda e desvalo-
rização do real ante o dólar. Já Pádua con-
siderou que o desempenho reflete o apro-
veitamento de janela de oportunidade.
“Mas com preço interno melhor, a tendên-
cia é de que as operações diminuam no
decorrer do ano”, referiu.
O dirigente da Unica comentou que
nesta temporada há previsão de redução
no consumo do mercado do ciclo Otto
(gasolina, etanol hidratado e anidro), com
menores vendas de gasolina e hidratado,
comportamento que atinge mais ao úl-
timo. Assim, de acordo com sua análise,
o anidro misturado ao combustível fós-
sil (em parcela ampliada em 2015 de 25%
para 27%) tem condições de apresentar
crescimento, favorecido ainda por contra-
tações já existentes desde o início da safra.
Em 2015, o biocombustível abastecido
no posto teve melhor resultado, com bons
números (18,6 bilhões de litros) a partir
de medidas de apoio à sua competitivida-
de. Junto com reajuste na gasolina, hou-
ve retorno parcial da Contribuição de In-
tervenção do Domínio Econômico (Cide)
e correção da alíquota do Programa de In-
tegração Social (PIS) e da Contribuição
para o Financiamento da Seguridade So-
cial (Cofins) sobre este combustível. Tam-
bém favoreceram alterações tarifárias do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS) em estados produtores.
Apesar de alguma retração em 2016, Pá-
dua ressalva que há mercado para o hidra-
tado, uma vez disponibilizada mais cana.
Menciona que ainda existe ociosidade nas
usinas, pois, mesmo tendo atingido boa
produção no último ano, a participação do
biocombustível na matriz energética ficou
em 23%, quando já atingia 31% em 2009. A
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP) projeta possíveis dé-
ficits no Ciclo Otto na próxima década se o
Brasil voltar a crescer, embora registre algu-
mas solicitações de construção e expansão
de usinas após fechamento de unidades.
Metas ousadas
O Brasil assumiu compromisso na conferência climática COP 21, da Organização das Nações Unidas (ONU), para em 2030 produzir 50
bilhões de litros de etanol carburante (anidro e hidratado), quando atingiu 30 bilhões na última safra. Para alcançar tais metas e de fato in-
duzir a retomada de investimentos, ressalta Padua Rodrigues, da Unica, é preciso que haja regulação definida em prazo maior, sobre
preços da gasolina no mercado (embora já se dê sinais de guardar certa relação com mercado internacional) e a valorização
definitiva do etanol do ponto de vista ambiental, social e sanitário, com diferenciação tributária maior.
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