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Resistir
é preciso
Manejo integrado de pragas nas lavouras de milho brasileiras procura
combater problemas conhecidos no campo, como a lagarta-do-cartucho
Campo avalia evolução da resistência
após uso intensivo da tecnologia Bt
A compreensão do que é o manejo in-
tegrado de pragas (MIP) envolve, cada vez
mais, uma abordagem toda ela integrada.
Isso porque os insetos-praga já pressen-
tiram que os cultivos das lavouras de di-
ferentes culturas se misturam no campo,
e eles têm tirado proveito dessa situação.
A pesquisadora Simone Mendes, da Em-
brapa Milho e Sorgo, ressalta a importân-
cia do entendimento de que o sistema de
produção é integrado e que há, em muitos
casos, diferentes possibilidades que com-
põem a paisagem agrícola do Brasil. É o
caso das lavouras de soja que antecedem
as lavouras de milho, ou as áreas de mi-
lho antecedendo o algodão, entre outras.
Atualmente, a lagarta-do-cartucho-do-
-milho (Spodoptera frugiperda), perma-
nece como a principal praga dessa ati-
vidade, mesmo após a liberação e o uso
em grande escala do milho Bt. “Essa es-
pécie de inseto faz parte de um grupo de
pragas polífagas, que se alimentam de vá-
rias espécies de plantas", salienta. "As-
sim, o inseto permanece no campo mes-
mo na ausência do milho, alimentando-se
de plantas como braquiária, milheto, algo-
dão e até mesmo da soja." Nesse cenário,
a população da lagarta cresce e se multi-
plica, dificultando o manejo, pois, quando
o milho é semeado, já existe na área um
grande número de indivíduos.
Além disso, Simone esclarece outro fe-
nômeno, chamado pela ciência de evolu-
ção da resistência. Após o uso intensivo da
tecnologia Bt, sem as devidas estratégias
de manejo de resistência, como o plantio
da área de refúgio, biótipos ou raças des-
sa espécie conseguem sobreviver e se re-
produzir dentro de lavouras de milho Bt.
“Essa quebra da resistência foi registrada
no País inicialmente para a proteína Cry1F,
presente em alguns eventos disponíveis
no mercado. Hoje, temos níveis variados
de suscetibilidade às tecnologias Bt, de-
pendendo da região e dos eventos Bt em
questão”, articula a cientista.
Algumas medidas são necessárias quan-
do o milho Bt não é mais eficiente. Inicial-
mente, é preciso a compreensão de que a
lagarta-do-cartucho possui biótipos ou ra-
ças que habitam as diferentes regiões bra-
sileiras. Assim, em uma região, um evento
Bt pode funcionar bem, mas em outra não.
Outro aspecto a ser considerado, e de gran-
de importância, é o uso correto do manejo
integrado de pragas (MIP). “Não é possível
pensar em manejar uma espécie de praga
no campo sem seu devido monitoramento
para avaliar níveis de ação e do uso diversi-
ficado de estratégias de manejo, como con-
trole biológico, cultural e mesmo o quími-
co”, defende Simone Mendes.
Outro inseto-praga importante é o per-
cevejo-barriga-verde (Dichelops furcathus),
comum em lavouras onde o milho é cultiva-
do após a soja. O período crítico para infes-
tação vai até cerca de 25 dias após o plantio,
quando o percevejo suga a seiva da plan-
ta e injeta sua saliva tóxica, causado encar-
quilhamento e deformações no início do
desenvolvimento da lavoura. Nos eventos
mais severos, as plantas podem ficar impro-
dutivas. “Nesse caso, também é importan-
te estar atento ao monitoramento de pragas
no sistema de produção, não apenas na la-
voura de milho, onde culmina o problema
do inseto”, indica a pesquisadora.