Inor Ag. Assmann
A expectativa da indústria de alimentação animal é crescer
2,9% ao longo de 2016, mesmo diante do iminente enxugamen-
tomonetárioamericano, quedevepressionar aindamais o real. A
previsão do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Ani-
mal (Sindirações) é de que a produção chegue a 71 milhões de
toneladas, somando 68,5 milhões de toneladas de ração e mais
2,5 milhões de toneladas de sal mineral. Em 2015, o segmento
de rações e suplementos para animais de produção e animais de
companhia somou quase 69milhões de toneladas.
A demanda por milho e derivados, que representa em mé-
dia 60% da composição das rações de aves e suínos, deve atin-
gir algo em torno de 44 milhões de toneladas ao longo de
2016. O médico veterinário Ariovaldo Zani, CEO do Sindira-
ções, analisa as interferências da recente valorização do grão na
cadeia produtiva. No primeiro semestre, o preço do milho na
moeda nacional subiu 30%, e a do farelo de soja, quase 20%.
Em consequência, o custo das rações hipotéticas para frangos
e suínos avançou 11%.
Apesar disso, considerando a mesma comparação, o pre-
ço pago ao produtor de frangos recuou mais de 2% e avançou
apenas 3% no pagamento do produtor de suínos. Segundo o
dirigente, isso determina a corrosão da sua rentabilidade e fra-
giliza a cadeia produtiva, já que repasses adicionais têm sido
rechaçados pelo consumidor brasileiro. Os problemas da des-
valorização cambial tomaram fôlego em 2015, encarecendo as
matérias-primas utilizadas na alimentação de aves, suínos, bo-
vinos de corte e de leite, incrementando os preços agropecu-
ários no atacado e minando o fôlego financeiro das empresas.
“Foi o caso dos aditivos importados e indexados ao dólar,
como o milho, cujo preço da tonelada em reais avançou mais
de 30%”, explica. Na visão de Zani, a situação foi contrastante
com o resto do mundo, onde se observou flagrante alívio no
custo global da alimentação animal, em especial por causa dos
recuos de 6%do preço emdólares do cereal e de 20%do farelo
da oleaginosa. Entre as razões da pressão sobre os preços, refe-
re a boa safra americana e as condições climáticas favoráveis ao
plantio e à produtividade na América do Sul.
Quanto ao futuro, Zani argumenta que a cadeia produtiva
agropecuária, sobretudo, continuará preparada a fim de absor-
ver de maneira compartilhada os efeitos do aperto fiscal, que
considera necessário para a retomada do crescimento, recom-
posição das contas públicas e restabelecimento da credibilida-
de diante do mundo globalizado e do encontro aos parceiros
comerciais de interesse. “A tão desejada retomada ao cres-
cimento não admite aumento da carga tributária, mas sim o
abandono do fracassado modelo desenvolvimentista, da políti-
ca anticíclica extemporânea, dos truques contábeis, das pedala-
das fiscais e do finado Mercosul”, finaliza.
Mordeu no bolso
Apesar do crescimento previsto para 2016, a indústria de alimentação
animal está preocupada com a valorização do preço domilho no Brasil
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Câmbio ligado
Emmeio ao cenário atual de crise econômica do País, o bom desempenho registrado pelas exportações de carne de frangos e de suínos
tem equilibrado a oferta interna de produtos, com a redução dos níveis de consumo. No entanto, apesar dos embarques aquecidos, o setor
enfrenta os custos de produção em níveis elevados, o que faz com que os exportadores trabalhem commargens mais apertadas. Uma queda
no câmbio implicaria na necessidade de reposição dos preços em dólar, o que afetaria a competitividade do País no mercado internacional.
De acordo com o presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, há grande receio quan-
to aos efeitos de uma eventual mudança no patamar do dólar. “É primordial a manutenção da taxa cambial em patamares próximos à
paridade de R$ 3,50. Temos praças em que o preço da saca de milho chega a R$ 60,00, praticamente o dobro do preço esperado para
esta época”, comenta. A alta do milho, que representa mais de 50% do total da ração, somada a fatores como custo energético, de com-
bustíveis e de mão de obra, pressiona as margens do setor.
O dirigente destaca que já houve repasse de custos e que o câmbio acima de R$ 3,50 auxilia no equilíbrio das contas. Uma queda
acentuada do dólar, entretanto, agravaria ainda mais a necessidade de reposicionamento nos preços internacionais em curso. Esta ele-
vação não acontece rapidamente, e pioraria a situação de várias empresas que já estão no vermelho. A necessidade de um reposiciona-
mento mais acentuado de preços (além do que já está em curso) no mercado externo causará, ainda, outro problema: a perda de com-
petitividade frente aos concorrentes internacionais.