Nemtudoo
que reluzé
ouro
R
efletindo os raios de sol, os ca-
chos de arroz maduro colhidos
no primeiro semestre de 2017
no Brasil reluzem um dourado
que já foi comparado pelos orizi-
cultores ao ouro das várzeas em tempos de
abundância. Ainda que sejam o resultado
de um ano de trabalho intenso e represen-
tem a esperança de dias melhores, da com-
pensação pelo esforço empreendido, nem
todos os arrozeiros terão a garantia de re-
verter seus investimentos em lucro. E o cli-
ma até ajudou na temporada.
O Brasil começou o ano comercial, em
março de 2017, com 466 mil toneladas de
arroz estocadas, graças à importação, das
quais apenas 25 mil eram públicas. O País
deve colher quase 12 milhões de toneladas
de arroz em casca, recuperando 1,4 milhão
de toneladas de perdas de 2016, quando en-
chentesnoSulreduziramacolheitapara10,6
milhões de toneladas. Assim, o suprimento
total previsto chega a 13,53 milhões de to-
neladas, formadopelo estoque, pelaprodu-
ção e pela importação de 1,1 milhão de to-
neladas, 90%oriundas doMercosul.
Mesmo assim, a relação entre oferta e
demanda se manterá ajustada, pois o con-
sumo e as exportações, estimadas em 1,1
milhão de toneladas, somam 12,6 milhões
de toneladas. No final do ano devem so-
brar apenas 932 mil toneladas de arroz
no País, pela projeção da Companhia Na-
cional de Abastecimento (Conab), o equi-
valente a 7,4% da demanda nacional. En-
quanto isso, o estoque mundial chega a
31%das necessidades globais.
A renda do agricultor será influenciada
no primeiro semestre pela pressão de ofer-
ta. Só as primeiras cargas da safra derruba-
ramR$6,00 (paraR$44,00) dopreçoda saca
de arroz em casca no Rio Grande do Sul en-
tre fevereiroe15demarço. Algumas empre-
sasdeSantaCatarinatabelaramseuspreços
decompradasafranovaemR$40,00,por50
quilos. E as importações do Paraguai, da Ar-
gentina e do Uruguai chegam ao merca-
do brasileiro abaixo de R$ 39,00, por causa
do câmbio, dos preços internacionais e dos
custos mais baixos de produção do Merco-
sul. Estes números são importantes por-
que o Sul do Brasil e a importação servem
de referência aos preços nacionais.
“A conjuntura é desfavorável para expor-
tar, atraente à importação; os preços brasi-
leiros são altos quando comparados à re-
ferência internacional, mas baixos para os
custos de produção. O panorama só deve
melhorar para o segundo semestre, mas
muitosarrozeirosnãotêmcomoesperar”,diz
Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do
Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Para
ele, os números da safra sãonormais,mas a
conjuntura econômica e setorial do primei-
ro semestre pressiona omercado.
Daire Coutinho, presidente da Câma-
ra Setorial do Arroz, ligada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to (Mapa), considera que o momento é de
manter a esperança. “Estamos trabalhan-
do para assegurar novos mercados e mais
estrutura para exportar mais. O escoamen-
to para o mercado externo enxuga a ofer-
ta e ajuda a recuperar as cotações”, frisa.
“Nosso caminho é exportar, para manter o
equilíbrio da oferta interna.”
Por sua vez, Henrique Osório Dornelles,
presidente da Federação das Associações
de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Fede-
rarroz), afirma que os produtores descapi-
talizados sãomaioriaeestãoempatandoou
perdendo dinheiro por causa da conjuntu-
ra do início do ano. “Nossa atenção priori-
tária, comoentidade, está voltada a atender
às necessidades da maioria, que são resol-
ver as questões de preços, crédito, custos e
abrir novos mercados que equilibrem ofer-
ta e demanda e ajudemna recuperação das
cotações”, refere. No final, sobre as lavouras
brasileiras, o quemais brilha não é o doura-
do dos cachos de arroz. São os olhos dos ar-
rozeiros, refletindo a esperança, tempera-
da por algumas desilusões.
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Colheita recupera a produção, mas nem todos os agricultores terão lucro
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