De fraco
amoderado
Mercado sente os reflexos da elevação de preços, com impacto maior em
produtos mais elaborados, que vinham ganhando espaços na mesa
Se um meteorologista, tão presente nas
previsões para o dia a dia dos produtores
na agricultura, fizesse uma análise da inten-
sidade do vento nas vendas de produtos da
horta, poderia dizer que está de fraco a mo-
derado. Isto não quer dizer que não tenha
provocado turbulências. A alta de preços,
ocasionada justamente em virtude de adver-
sidades climáticas, ao lado do poder aquisiti-
vo da população afetado pela retração eco-
nômica, está repercutindo no consumo. O
movimento registrado mostra redução na
demanda, em particular ao longo de 2015.
A comercialização de hortigranjeiros nas
Centrais de Abastecimento (Ceasas), que fun-
cionam em 63 pontos do País e respondem
pela maior parte das vendas do setor, apre-
sentou queda de 2,1% no ano, em relação a
2014. Já o valor transacionado teve aumento
de 4,6%, como divulga a Companhia Nacio-
nal de Abastecimento (Conab), pelo Programa
Brasileiro de Modernização do Mercado Hor-
tigranjeiro (Prohort). Questões climáticas, res-
trição de irrigação e aumento nos custos dos
insumos, de acordo comsua justificativa, inter-
feriramna oferta e elevaramos preços.
Carlos Cogo, consultor em
agribusiness
,
da mesma forma, observou em 2015 redu-
ção no consumo
per capita
total de cinco
produtos do setor, que acompanha. Os nú-
meros levantados são menores para batata
(de 20,9 kg para 20,7 kg), tomate (22,3 kg
para 18,9 kg) e cebola (9,7 kg para 8,6 kg),
enquanto se mostram semelhantes para ce-
noura (de 4,1 kg para 4,2 kg) e alho (0,8 kg).
Sua explicação, da mesma forma, está ligada
ao clima adverso, que gerou problemas de
oferta e preços, onde teria interferido ainda
o câmbio, na maior importação exigida, além
da influência do crescente desemprego.
Para 2016, prevê pequena recuperação
em tomate e cebola, baseado em “proje-
ção de melhoria do clima e da produção,
com recuo dos preços ao longo do ano”.
De qualquer modo, Cogo vê que deve se
acentuar tendência já registrada no ano
anterior, de impacto maior da inflação em
produtos de mais valor agregado (embala-
dos, processados, congelados) e migração
para similares mais baratos. É justamente
um segmento que vinha se encorpando,
como é o caso de batatas pré-fritas conge-
ladas, que aumentou de 188 mil para 314
mil toneladas entre 2009 e 2012.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), neste aspecto,
notou nos últimos anos, junto com orgâni-
cos, “forte demanda por produtos de tama-
nhos e cores diferenciados” e ampliação da
oferta de produtos pelas indústrias de “vege-
tais conservados, gelados ou supergelados,
desidratados e liofilizados, além de hortali-
ças minimamente processadas”. O mercado
na área igualmente registrou crescimento de
“produtos prontos para consumo”, pela pra-
ticidade e pelo menor desperdício.
As chamadas mini-hortaliças (genetica-
mente reduzidas) e as “baby- leaf ” (folhas
jovens obtidas com artifícios de manejo)
também ganharam espaço, pela combina-
ção de visual, sabor e praticidade, em espe-
cial junto a crianças, como constata a Em-
brapa Hortaliças. Os materiais utilizados em
miniprodutos são estrangeiros, o que re-
quer estudo de novas cultivares e cultivo
nas condições tropicais, afirma o pesquisa-
dor Warley Nascimento. Para crescer mais, é
preciso avançar no caro sistema de produ-
ção, em particular nos “baby-leaf ”, ratifica
Luís Felipe Purquerio, do Instituto Agronô-
mico de Campinas (IAC).
PRODUTOS SEGUROS
O consumo de hortaliças tem sofrido pelas “constantes más notícias que nossas autoridades insistem em reforçar na mídia, de forma mentirosa”, so-
bre agrotóxicos no setor, comentaWaldir de Lemos, presidente daAssociaçãoComercial dosProdutores eUsuários daCeasaGrandeRio (Acegri), também
daCâmaraSetorial noPaís. Para combater “essas inverdades” e evitar as confusões eomal-estar gerados emvárias situações, ele assinalaque está sendo
feito trabalho para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) libere produtos comas especificações exigidas para cada cultura.
Nomesmo sentido age a ComissãoNacional deHortaliças e Flores, criada pela Confederação daAgricultura e Pecuária doBrasil (CNA), em2015. O re-
gistro de defensivos agrícolas para “minor crops”, culturas pequenas, e a discussão a respeito “são importantes para ajudar o produtor a proteger o alimen-
to de pragas e doenças e o tira de ilegalidade involuntária”, assinala EduardoBrandão Costa, assessor técnico. Ademais, o organismo quer atuar na promo-
ção do consumo, ainda considerado baixo, e estabelecer alternativas para aumentar as exportações do setor.
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