Inor Ag. Assmann
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O ponto de virada no estímulo à produ-
ção, e mesmo na complexidade do abasteci-
mento interno, está relacionado ao fato de
que os preços aumentaram demais. Essa é
a opinião de Rubens Augusto de Miranda,
pesquisador da área de Economia Agríco-
la da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lago-
as (MG). O cereal do Brasil, antes "barato",
pela depreciação cambial, agora está caro
não apenas no mercado doméstico, mas
também no mercado externo. "O resultado
pode ser a reversão dos fluxos de comércio
exterior do grão, com a redução das expor-
tações e o aumento das importações", relata.
Como exemplo, cita que em maio de
2016 a Associação Catarinense de Criado-
res de Suínos (ACCS) adquiriu um lote
de 1.000 toneladas de milho do Paraguai,
pelo valor de US$ 160,00 pela tonelada,
enquanto no mercado nacional o produto
era ofertado à associação por US$ 267,00
pela tonelada. Além disso, muitos contra-
tos de exportação acertados no começo de
2016, com a evolução dos preços do mi-
lho, passaram a ser pouco vantajosos, es-
timulando a quebra contratual dos pro-
dutores junto às tradings que dominam
a exportação do cereal. Também alguns
produtores dos estados de Mato Grosso
e Goiás, os mais afetados pelas condições
climáticas, podem não ter milho suficiente
para cumprir os contratos de exportação.
A aquisição de milho de outras nações
ganhou destaque com o eliminação tem-
porária da taxa de importação de países de
fora do Mercado Comum do Sul (Merco-
sul), em relação aos quais até então vigora-
va uma alíquota de 8%. "Isso é significativo
porque a disponibilidade interna de milho
no segundo semestre de 2016 pode melho-
rar pela redução da exportação e pelo in-
cremento das importações", analisa Miran-
Fazendo cálculos
Como recuo na oferta, há umduplo desafio: garantir o abastecimento
a preço competitivo para as outras cadeias e atender aos contratos externos
da. O grande beneficiado pelo fim da taxa
de 8% é o milho norte-americano, tendo
em vista que o produto dos países do Mer-
cosul já era isento do tributo.
Em 2013, o Brasil importou 907 mil to-
neladas de milho, 771 mil toneladas no ano
seguinte e 369 mil toneladas em 2015. Cer-
ca de 90% do volume destes três anos foi
importado pelos estados de Santa Catarina
e do Paraná. Em 2016, além desses dois es-
tados, também foram responsáveis pela de-
manda externa regiões do Nordeste, com
participação de 30% na aquisição das 378,3
mil toneladas recebidas de janeiro a maio.
Miranda conclui que, mesmo com a redu-
ção das exportações e com o acréscimo das
importações, a tendência é de que o milho
continuará valorizado ao longo de 2016.
O verdadeiro ajuste poderá ocorrer com a
chegada da safra 2016/17.