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Menor oferta, aliada a estoques baixos, contribuiu para que preçomédio
da saca de 60 quilos de milho aumentasse 51% até meados de 2016
Ao contrário do que se podia esperar,
nem a chegada do milho colhido na se-
gunda safra, a partir de junho de 2016,
representava maior tranquilidade em re-
lação à capacidade de abastecimento do
País em 2016 e também, muito provavel-
mente, em 2017. Ainda em junho, a Com-
panhia Nacional de Abastecimento (Co-
nab) indicava redução de 8,5 milhões
de toneladas na colheita da tempora-
da 2015/16, devido à disputa por espaço
com a soja e ao clima adverso em regiões
representativas. O Brasil não repetiria –
e nem superaria – o recorde de 84,6 mi-
lhões de toneladas do ciclo 2014/15, que
garantiu a exportação histórica de 30,7
milhões de toneladas em 2015.
"Com a oferta recorde em 2015, os
preços tinham tudo para despencar. Mas,
com o aumento das exportações, segui-
ram o caminho oposto, o da escalada",
aponta Rubens Augusto de Miranda, pes-
quisador da área de Economia Agrícola
da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lago-
as (MG). Era uma clara consequência da
demanda maior do que a oferta do pro-
duto. Conforme ele, o atual cenário de
alta dos preços deve-se a fatores exclu-
sivos do Brasil. "A depreciação cambial
ocorrida no segundo semestre de 2015
tornou o milho brasileiro barato, frente
aos seus concorrentes, no mercado inter-
nacional", esclarece o pesquisador. Em ra-
zão disso, de julho a dezembro de 2015, o
embarque chegou a 23,6 milhões de to-
neladas do cereal.
A demanda externa de milho nacional
continuou crescente em 2016. A exporta-
ção totalizou 12,2 milhões de toneladas
de janeiro a maio, muito acima das 5,2
milhões de toneladas enviadas nos mes-
mos meses de 2015. Esse volume repre-
senta mais da metade da exportação es-
timada em até 23 milhões de toneladas
para 2016, de acordo com a Associação
Nacional dos Exportadores de Cereais
(Anec). Ao mesmo tempo, a oferta do mi-
lho será menor com a previsão de fechar
a safra de 2015/16 com redução de 8,5
milhões de toneladas, e os estoques me-
nores elevaram ainda mais os preços do
produto. "Em 2016, os preços médios da
saca de 60 quilos já aumentaram 51%. Se
considerarmos os últimos 12 meses, a
alta chega a 113%", destaca Miranda.
O pesquisador da Embrapa observa
que, diante desse cenário de preços al-
tos sem precedentes, a "mão invisível" de
Adam Smith [1723-1790, economista in-
glês, chamado de "pai da economia mo-
derna', mais importante teórico do libe-
ralismo econômico], começou a operar
para reequilibrar a oferta e a demanda
antes do esperado. Como sugeria Smith,
o aumento na oferta de um produto leva
à diminuição de seu preço, favorecendo
a sociedade. Em outro sentido, a baixa na
oferta eleva o valor do produto e estimu-
la o incremento na produção.
As atuais altas cotações do milho servi-
riam de estímulo para levar a uma maior
produção na safra 2016/17. Supondo que
a demanda não se alterasse, resultaria em
queda dos preços na referida temporada.
"Acontece que, na era da globalização,
um ano é muito tempo. Um ajuste mais
rápido não só é necessário como já come-
çou a ser colocado em prática", aponta.
Cada grão
conta muito
A oferta e a demanda do milho brasileiro (em mil toneladas)
BALANÇO NACIONAL
Offer and demand
Fonte:
Conab, junho de 2016.
Safra
Produção
Consumo
Importação
Exportação
Estoque
2010/11
57.406,9
49.029,3
764,4
9.311,9
5.419,2
2011/12
72.979,5
52.425,2
774,0
22.313,7
4.433,8
2012/13
81.505,7
54.113,8
911,4
26.174,1
6.563,0
2013/14
80.052,0
54.596,1
790,7
20.924,8
11.884,8
2014/15
84.672,4
56.145,0
316,1
30.172,3
10.506,7
2015/16
76.223,0
56.524,2
1.000,0
25.400,0
5.805,5