Jornal da Emater - Edição 3 - page 4

É
na localidade de Sertãozinho, dis-
tante cerca de 10 quilômetros do
ponto mais ao norte do Rio Gran-
de do Sul e há 12 quilômetros da
sede do município de Alpestre, que mora
o jovem Caetano Berigula, de 27 anos. O
relativo isolamento geográfico não impediu
que ele, junto com o pai, seu José, tomas-
se uma decisão ousada: investir em limão
tahiti, mesmo distante de grandes áreas ur-
banas e mercados consumidores.
Hoje, quem olha para as encostas es-
verdeadas da propriedade, que exibem um
pomar com mais de 1,5 mil árvores, não
faz ideia de como os primeiros tempos de
cultivo foram ácidos à família, no início
dos anos 2000. “Os vizinhos faziam piada,
diziam que a gente iria ter que chupar to-
dos os limões”, narra Caetano, lembrando
as noites de sono perdidas quando chegou
a vender uma caixa de 25 quilos de fruta
por R$ 8,00. Foi então que o sucesso virou
questão de honra para a família.
Com o apoio da Emater-RS/Ascar, ele
tomou medidas práticas para avançar na
produção. Aderiu ao sistema de irrigação
por gotejamento, colocou o pomar na parte
mais alta da propriedade para evitar a gea-
da e aumentar a incidência de sol, aumen-
tou o espaçamento entre as árvores, passou
a cuidar da arquitetura das plantas, fazendo
podas. Além disso, é claro, prospectou no-
vas possibilidades de comercialização.
O resultado de tanto empenho não po-
deria ser diferente. Os 10 hectares de culti-
vo da família respondem por cerca de 60%
da receita da propriedade e 50% da produ-
ção de limão do município. Eles chegam
a colher cerca de 900 caixas de 25 kg por
hectare, com preço que alcança os R$ 80,00
entre os meses de setembro e dezembro.
“Não é fácil. Dá muito trabalho, mas é uma
atividade que traz retorno se for feita com
dedicação”, resume Caetano.
A realidade dos Berigula é a mesma
de centenas de agricultores familiares da
região Norte do Rio Grande do Sul, prin-
cipalmente nas imediações de Erechim e
Frederico Westphalen. “Muitos municípios
estão se tornando referência na produção
de frutas de mesa. O grande trunfo destes
produtores é a diversificação de cultivares,
em especial de laranja, que permite co-
lheita o ano todo, com renda durante cer-
ca de nove meses”, constata Clair Bertussi,
responsável pelo escritório da Emater-RS/
Ascar em Alpestre, que, junto com cidades
como Liberato Salzano, Planalto e Aratiba,
formam uma espécie de cinturão da citri-
cultura, valendo-se do microclima das ime-
diações do Rio Uruguai.
A laranja, em particular do tipo valên-
cia, com colheita entre julho e novembro, é
soberana nos pomares da região, mas o li-
mão e as bergamotas também têm tido for-
te destaque. “A citricultura aqui iniciou-se
em 1989, como alternativa à produção de
grãos, depois de safras frustrantes”, comple-
menta Bertussi.
O Cultivo de
laranja e de limão
consolida-se em
municípios na divisa
com Santa Catarina.
A diversificação
é o diferencial dos
produtores
da região
CITRICULTURA
No alto, seu José Berigula e o filho
Caetano exibem os limões que
colhem na propriedade;
abaixo à esquerda, o excelente
aspecto das frutas; à direita,
pomares dotados de irrigação.
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JORNAL DA
EMATER
MARÇo de 2017
O limão em limonada
1,2,3 5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,...24
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