E
les fazem parte da paisa-
gem interiorana do Rio
Grande do Sul. Por onde
quer que se ande, lá está
um açude integrado à rotina de
uma propriedade rural. Tecnica-
mente chamados de viveiros, es-
tes mananciais são usados para
garantir o consumo de peixes
pela família, ou mesmo para co-
mercializar o excedente junto a
amigos, vizinhos ou parentes. E,
emmuitos casos, de complemen-
to de renda a atividade passou a
ser a principal, com a vantagem
de assegurar água para a proprie-
dade como um todo.
Em Roca Sales, no Vale do
Taquari, a piscicultura já é uma
ocupação tradicional. Em 1986,
os primeiros criadores começa-
ram a se organizar com o obje-
tivo de qualificar a atividade. A
união do grupo e as boas políti-
cas públicas para o setor melho-
raram não apenas os açudes, mas
também as espécies utilizadas, a
alimentação dos peixes e a cria-
ção em geral. Se naquela época a
produção alcançava duas tonela-
das por ano, hoje são 80 mil qui-
los de peixes produzidos por 72
piscicultores do município.
Um dos produtores que con-
tribui para o sucesso dos núme-
ros é Sigmar Scheer, da localida-
de de Linha Fazenda Lohmann.
Responsável pelo abatedouro,
que leva o sobrenome da família,
ele abate por mês cerca de cinco
toneladas de carpas capim, hún-
gara, cabeça grande e prateada,
retiradas de 25 açudes que man-
tém em sua propriedade.
Foi há 10 anos que Scheer
começou a levar a piscicultura
mais a sério. “Era um lazer. Fazia
vendas ocasionais para vizinhos,
amigos e parentes. Hoje, é o car-
ro-chefe da nossa propriedade
na parte agrícola” ressalta o pro-
dutor, que mantém, em paralelo,
uma indústria de cerâmica.
Outros agricultores têm a
piscicultura como alternativa de
renda. É o caso dos jovens Vitor
e Fernando Schmitz, da Linha
Júlio de Castilhos. Por meio de
recursos do Fundo Estadual de
Apoio ao Desenvolvimento dos
Pequenos Estabelecimentos Ru-
rais (Feaper), conseguiram cons-
truir um açude que serve como
renda complementar à produção
de suínos e de leite, as atividades
principais da família. Na única
despesca realizada até o mo-
mento (para a Feira da Semana
Santa do ano passado) foram
capturadas 91 carpas, que tota-
lizaram 284 quilos. “Vendemos
o quilo por R$ 10,00”, recorda
Vitor, salientando a boa rela-
ção custo-benefício do modelo.
E o manejo é fundamental
O “modelo” a que Vítor se
refere é o do sistema semiinten-
sivo de cultivo de carpas. “De
nada adianta colocar peixes à
revelia, sem nenhum cuidado
ou controle da manutenção das
características físico-químicas
dos viveiros”, observa o técnico
em agropecuária da Emater/RS-
-Ascar, Deoclesio Piccoli. Ele ex-
plica que a observância do pH da
água, da temperatura, da cor e da
transparência podem contribuir
para que haja melhor resultado,
com açudes mais equilibrados
em relação a nutrientes, acidez
corrigida, bem adubados e livres
de infecções. “O mesmo vale
para o povoamento de alevinos,
que deve respeitar o volume po-
pulacional, de acordo com a lâ-
mina da água”, salienta.
Toda essa atenção reservada
à piscicultura transformou Roca
Sales em um polo regional da
atividade. Desde 1993, ocorre no
município a Fecarpa, que visa va-
lorizar as potencialidades locais
no que diz respeito ao policulti-
vo de carpas. De lá para cá, ou-
tras ações, como o programa de
construção de açudes, a criação
de um sistema integrado de pro-
dução de pescado e a assistência
técnica permanente (com a rea-
lização de cursos, capacitações e
outras atividades em Centros de
Formação de agricultores) têm
contribuído para o gradativo e
vigoroso fortalecimento da ati-
vidade.
Piscicultura se
fortalece como
alternativa
de renda ou
mesmo atividade
principal em
inÚMERAS
pequenas
propriedades
Ao lado, despesca em açude
de Roca Sales, no Vale do
Taquari, região que vem
apostando forte na criação
de peixes; ao pé da página,
Piccoli exibe uma carpa.
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JORNAL DA
EMATER
MARÇO DE 2017
A multiplicação
dos peixes