AO CONTRário do
que ocorria em
outros tempos,
agora os pequenos
produtores rurais
assumem o papel de
protagonistas nA
ovinocultura
O
Rio Grande do Sul já teve um
rebanho de 14 milhões de ovi-
nos na década de 1970. Eram os
tempos de ouro, emque grandes
pecuaristas cultivavam milhares de animais,
valendo-se do bommercado de lã e de carne.
Com o desenvolvimento das fibras sintéticas,
derivadas do petróleo, a atividade perdeu for-
ça e viveu praticamente anônima. Agora, aos
poucos, busca a sua retomada.
De acordo com a Secretaria da Agricultu-
ra, Pecuária e Irrigação, atualmente o Estado
temcerca de 4milhões de cabeças espalhadas
por 52 mil propriedades. Esta média, de 80
animais por produtor, é um retrato do rede-
senho que o setor sofreu na última metade
de século em meio às pastagens pampeanas.
Os ovinos tornaram-se negócio interessante
para pequenos e médios produtores, estabe-
lecidos em áreas inferiores a 300 hectares.
Para se ter uma ideia, mais de 35 muni-
cípios gaúchos possuem rebanho superior a
20 mil ovinos. “Isto significa que há rentabi-
lidade. Assim, o pequeno produtor investe
em melhoria genética do rebanho, movi-
mentando os grandes produtores. Ou seja,
é no pecuarista familiar que está o ponto de
equilibrio da cadeia, atualmente”, explica o
veterinário e assistente técnico regional em
pecuária da Emater-RS/Ascar em Pelotas,
Luiz Ignacio Jacques. Ressalta que a ovelha
consegue fazer um aproveitamento melhor
das áreas de pastagem. Estudos apontamque
a área destinada para um bovino de corte
pode abrigar até cinco ovinos.
Pela tradição de consumo da carne de
ovelha e pela proximidade com o Uruguai,
o que facilita a comercialização de lã, as re-
giões da Campanha e da Fronteira-Oeste
seguem soberanas na ovinocultura. Só em
Santana do Livramento são mais de 450 mil
animais, equivalente a mais de 10% do total
no Rio Grande do Sul. “Acreditamos que o
consumo de carne será a grande alavanca
para o setor. Há um mercado vasto em vá-
rias regiões do País. Hoje, há mais demanda
do que oferta. Um exemplo é a população
árabe, que tradicionalmente consome mui-
ta carne de ovinos”, enfatiza Jacques. Ele
lembra que a desarticulação da cadeia ainda
é um desafio que o setor precisa enfrentar,
além das melhorias de manejo.
Partogemelar
O pecuarista Ciro Chaves, de Santa Mar-
garida do Sul, sabe bem disto. Ele cria cerca
de 330 animais da raça Corriedale, a mais
difundida no Rio Grande do Sul, apta tanto
à carne quanto à lã. Com 60 hectares pró-
prios e 40 arrendados, ele cria reprodutores
e animais para abate. Assistido pela Emater-
-RS/Ascar, Chaves melhorou as técnicas de
manejo e aderiu ao parto gemelar, que induz
ao nascimento de dois filhotes por parto, para
acelerar a expansão do rebanho. Ele conse-
guiu uma média de 138 nascimentos para
cada 100 ovelhas, considerada satisfatória pela
veterinária Elusa Andrade, da Emater-RS/As-
car, que atende a região de São Gabriel.
“O Brasil ainda está muito atrasado se
compararmos nossa ovinocultura com a de
países como Uruguai e Nova Zelândia. Mas
pessoas como o Ciro, que se dedicam a me-
lhorar a ovinocultura, certamente vão puxar
a frente neste desenvolvimento”, destaca Elu-
sa. Ela menciona a construção de um abrigo
de parição, o controle de verminoses, a técni-
ca de esquila com mais conforto animal e a
suplementação alimentar como algumas das
práticas que Ciro implementou na proprie-
dade e que deram retorno.
O pecuarista, contudo, diz que não é fá-
cil manter-se no setor. “Tem de se dedicar,
melhorar a qualidade para se manter. Com
o avanço da soja, fica caro para arrendar áre-
as vizinhas”, frisa. “Então, tem de melhorar
o manejo. O parto gemelar, por exemplo, é
muito interessante, mas é preciso alimenta-
ção para o aumento do rebanho. Do contrá-
rio, os animais não ganham peso”, explica,
destacando que o abigeato é outro grande
problema que o setor enfrenta.
À direita, ovinos em
pequena propriedade; eles
voltam a constituir boa
fonte de renda no meio
rural do Rio Grande do
Sul; abaixo, Ciro Chaves,
que cria 330 animais
da raça Corriedale, voltada
tanto para carne
quanto para lã.
8
Para contar
carneirinhos
JORNAL DA
EMATER
MARÇo de 2017