Revista AgroBrasil - 2016/2017 - page 21

A
cadeia produtiva do algodão
foi impactada pela quebra
de 17,5% na safra nacional,
por causa do clima adverso, e
também pelos baixos preços
de comercialização obtidos em função da
crise política e econômica interna, das os-
cilações do câmbio e de uma conjuntura
internacional de baixa demanda. Se o ciclo
2015/16 não foi dos melhores, a expectati-
va em relação a 2017 é de que o produtor
alcance ao menos um pequeno lucro e fi-
nalize a temporada commais leveza.
Em 2016, a produção brasileira recuou
para 1,29 milhão de toneladas, pela que-
da de 2,2% na superfície semeada (954,7
mil hectares) e de 15,6% na produtividade
(1.350quilos deplumapor hectare), segun-
doaCompanhiaNacional deAbastecimen-
to (Conab). Seca na época de plantio e chu-
va na colheita geraramperdas. Commenos
volume disponível para negociar, diante
desta conjuntura, as exportações caíram
6,5% em 2016, para 780 mil toneladas. In-
ternamente, apesar da retração na deman-
da, e também em função da oscilação do
dólar, os preços valorizaram-se 22%de de-
zembro de 2015 a 2016, passando a arroba
de R$ 74,10 a R$ 90,48.
A Conab prevê queda maior das expor-
taçõesem2017, de12,8%, comovolume to-
talizando 680 mil toneladas. Serão 100 mil
toneladas a menos. O estoque deve ir a 176
mil toneladas, omenor dosúltimos tempos.
A Ásia é o maior cliente do Brasil, e a China
concentra 53%dos estoquesmundiais.
O presidente da Associação Brasileira
dos Produtores de Algodão (Abrapa), Arlin-
do de Azevedo Moura, lamenta o ano “abai-
xo da média”. “A fibra tem custo de produ-
ção de R$ 8 mil por hectare, exigência de
gastos e de investimentos alta, enquanto a
soja requer R$ 2,5 mil. Então, para entrar e
sair, esse é umnegócio difícil”, resume.
A cadeia produtiva toda sofreu com
a crise econômica. Um dos setores mais
atingidos foi a indústria têxtil, que em2015
teve 4.451 empresas fechadas só em São
Paulo. Em 2016, a retração foi menor, mas
o setor seguiu afetado. Para retomar o con-
sumo interno, a Abrapa lançou uma cam-
panha demarketing a fimde aumentar em
11% o uso local de algodão em 10 anos, e
projeta recuperação gradual da economia
a partir dametade final de 2017.
Bruno Nogueira, analista da Conab, diz
que, por reflexo da conjuntura comercial
da etapa 2015/16 e da competição por área
com soja e milho, haverá redução de 5,5%
na área plantada com a fibra, que deve fi-
car em 902,3 mil hectares na temporada
2016/17. O clima favorável deve elevar a
produtividade em 16,1%, para 1.567 quilos
de pluma por hectare. Assim, o Brasil colhe-
ria 1,41milhãode toneladas, 9,7%mais plu-
ma do que na temporada anterior.
Pormais
leveza
Sobumaconjunturainternaeexternaadversa,acotoniculturabrasileira
vemreduzindoaáreacultivada,masoclimaapontaparaumasaframaior
QUALIDADE
O presidente da Abrapa, Arlindo de AzevedoMoura, destaca que o Brasil produzia algodão
commodity
, de boa qualidade, mas vendi-
do sem converter as boas características em valor. “Nos últimos cinco anos, trilhamos o caminho de agregar valor, obedecendo aos 12
itens de qualidade na classificação, entre eles fibra longa, finura, cor. Com isso, produzimos o segundo melhor algodão do mundo, só
atrás da Austrália”, frisa. Ameta para os próximos anos é intensificar a separação da fibra por qualidade, aumentando amédia de preços
e atendendo a nichos de mercado de maior remuneração. O recém-inaugurado Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão
(CBRA) terá papel fundamental nesse processo.
Otimista, Moura aposta numa provável retomada de crescimento do mercado, proporcionada pela queda dos estoques mundiais e
peloaumentodo consumo internacional. Pelaprimeira vez desde 2009, o consumo serámaior doque aprodução. De acordo comoComitê
Consultivo Internacional do Algodão (Icac), a produçãomundial de pluma no ciclo 2016/17 crescerá 6%, para 22,5milhões de toneladas.
O consumo global é projetado em 24,2 milhões de toneladas, com aumento de apenas 0,1%, mas ainda assim 1,7 milhão de tonela-
das acima da produção, o que consumirá parte dos estoques mundiais. Com as crises econômicas e a queda do consumo ao redor do
planeta, a demanda internacional nas duas últimas temporadas foi menor, emespecial pela redução da procura chinesa e da queda no
preço do poliéster, principal concorrente da pluma entre as fibras sintéticas. Uma recuperação nos preços do petróleo (matéria-prima de
fibras sintéticas), mais a queda nos estoques podem trazer bons ventos à cotonicultura. “Estamos prontos para aproveitar esta oportu-
nidade já em2017”, assegura Azevedo Moura.
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