A
conjugação do uso em larga
escala de variedades suscetí-
veis, dapresençade hospedei-
ros e do ambiente favorável
nas últimas seis safras gera-
ram uma explosão da presença e dos da-
nos provocados pela brusone, doença cau-
sada pelo fungo
Magnaporthe oryzae
, nas
lavouras dearroz doSul doBrasil. RioGran-
de do Sul e Santa Catarina representam,
juntos, 80% da safra nacional do cereal e
alcançaramalta incidência de casos em to-
das as suas regiões nas últimas safras.
O amplo número de raças do fungo e a
ausência de um mapeamento da genética
de resistência e do patógeno, bem como a
dificuldade de operação e a eficiência limi-
tada de defensivos, afetam a eficácia do
controle. A disseminação da doença ge-
rou perdas de até 100% em algumas pro-
priedades, impulsionou os custos de pro-
dução e tem tirado o sono de arrozeiros
e pesquisadores. O uso de fungicidas na
lavoura gaúcha cresceu impressionan-
tes 700%. Há sete anos, em 20% das áre-
as usava-se o defensivo, volume que se
aproximou de 160%, ou seja, cada hec-
tare utiliza em média 1,6 aplicação por
temporada. Na safra 2015/16, houve ca-
sos de até seis aplicações. O quadro me-
lhorou no ciclo 2016/17 por causa do
avanço de variedade resistente.
Em levantamento da Federação da
Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul),
o percentual de participação dos fungi-
cidas no custo de produção do arroz en-
tre a safra 2012/13 e a etapa 2015/16 teve
aumento superior a 300%. “O impacto
parece pouco representativo, avançando
1,5 a 2 pontos percentuais sobre o total.
Mas, num setor em que o lucro é peque-
no, as margens são apertadas e parte dos
orizicultores vende arroz abaixo do custo
médio, isso é significativo”, explica Anto-
nio da Luz, economista da Farsul.
Cláudio Ogoshi, pesquisador do Insti-
tuto Rio Grandense do Arroz (Irga), destaca
que na atual década, até a safra 2015/16,
mais de 70%das cultivares plantadas eram
suscetíveis à brusone. Predominaram va-
riedades de origem argentina em 52% da
área. Qualidade de grãos, produtividade e
tolerância a herbicidas incentivaramo uso.
Porém, a faltade imunidade ao fungo abriu
Variedades resistentes seguram as pontas depois da explosão da doença
Brrrr
Brusone,doençacausadaporfungos,
desafiapesquisadoreseprodutores
amanteremocontroledasinfestações
easanidadedalavouraorizícola
a porteira para que a doença se alastrasse.
Parte do problema vem sendo contido
com a adoção das cultivares Irga 424 e sua
variável da nova geração Clearfield, a Irga
424 RI, ambas resistentes ao fungo, planta-
das em 49% da lavoura gaúcha na tempo-
rada 2016/17. Porém, e se essa resistência
for quebrada? “A lógica é que a resistência
seja quebrada no futuro, pois assim age a
natureza, mas no momento é a variedade
imune tanto à brusone das folhas quan-
to à das panículas”, afirma Rodrigo Scho-
enfeld, gerente da Divisão de Pesquisa do
Irga. “Não dá para prever quando, mas es-
tamos trabalhando para gerar novosmate-
riais genéticos que agreguem qualidades
agronômicas e sensoriais, e que também
sejam resistentes às principais doenças,
entre elas a brusone”, acrescenta.
Conforme Schoenfeld, a grande exten-
são de área cultivada com material ge-
nético que resiste ao fungo (mais de 500
mil hectares só no Rio Grande do Sul, mas
também com grande presença em Santa
Catarina, bem como na Argentina, no Pa-
raguai e noUruguai na temporada) amplia
o risco de quebra da resistência. “Quanto
maior a superfície semeada, maior o ris-
co de as raças de fungos passarem por se-
leção natural ou mutação e atacarem as
plantas. Isso tende a reduzir o tempo de
resposta da pesquisa à demanda da ca-
deia produtiva”, reconhece.
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