Anuário Brasileiro do Arroz 2017 - page 69

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istoricamente, um comple-
xo de insetos-pragas ocorre
na cultura do arroz no Brasil,
com potencial de gerar per-
das quantitativas de produ-
tividade da ordem de 20% a 30%, tanto
em cultivos irrigados por inundação da re-
gião Sul quanto em lavouras de sequeiro
em terras altas, no Centro-Oeste. Os danos
também são qualitativos. Cupins, pulgões
e larvas de gorgulhos (bicheira-da-raiz) da-
nificam plântulas e raízes na fase inicial e
vegetativa da cultura. Lagartas também
atacamplântulas e panículas, enquanto os
percevejos danificamcolmos e grãos.
De acordo com o agrônomo José Fran-
cisco da Silva Martins, pesquisador da Em-
brapa Clima Temperado, de Pelotas (RS),
no controle desses insetos predominam
aplicações de inseticidas, no tratamento
de sementes ou via pulverização foliar ca-
lendarizada, mesmo emáreas onde não há
históricodeocorrênciaouapopulaçãonão
atingiu o nível de controle, capaz de causar
perdas econômicas. “Exemplo de controle
químico que deve ser repensado é o uso de
sementes tratadas em lavouras instaladas
em terreno inclinado para o controle da bi-
cheira-da-raiz (
Oryzophagus oryzae
), onde
não há infestação do inseto emgrande par-
te da área cultivada, devido ao fato de a
água de irrigação não se acumular na su-
perfície do solo”, aponta.
Para o entomologista, outros métodos
para omanejo integrado de pragas (MIP) do
arroz, cuja adoção podeminimizar o uso de
inseticidas,devemserconsiderados.Segun-
do explica, com base na associação entre a
época de ocorrência nos arrozais, o nível e
o tipo de dano, as dificuldades de controle
(ainda que químico) e as implicações toxi-
cológicas e ambientais, o percevejo-do-col-
mo (
Tibraca limbativentris
) e o percevejo-
-do-grão (
Oebalus poecilus
) evidenciam-se
como os principais insetos-praga a serem
focados pelos arrozeiros.
“O percevejo-do-colmo, apesar de ini-
ciar o ataque na fase de perfilhamento, ge-
n
n
n
Pelos arrozais do mundo
Várias das espécies de insetos que ata-
cam o arroz no Brasil são similares a algu-
mas queocorremna culturaemoutras regi-
ões domundo, muitas com igual, maior ou
menorpotencialdedano.Destaca-seocaso
de brocas-do-colmo, altamente prejudiciais
na Ásia, mas de importância secundária no
Brasil.“Destacadamente,naquelecontinen-
te há cigarrinhas que, além do dano direto
quecausamàsplantasdearroz, sãovetoras
de viroses, problema inexistente no Brasil”,
explica o pesquisador José Francisco da Sil-
vaMartins,daEmbrapaClimaTemperado.
Naperspectivadealgumaespécieexó-
tica (praga quarentenária do arroz) aden-
trar no Brasil, os órgãos oficiais responsá-
veis por solucionar o problema adotaram
as medidas cabíveis. Segundo o agrôno-
mo, entende-se que uma estratégia futu-
ra do setor orizícola, em busca de maior
competividade, implica em maximizar a
utilização das informações sobre MIP, “de
modo a depender o mínimo necessário
do controle químico de insetos, usufruin-
do das vantagens econômicas, toxicológi-
cas e ambientais e de qualidade do arroz,
resultantes dessa atitude.”
Namirada
ciência
Órgãos de pesquisa disponibilizam dados sobre modo de dispersão de insetos
Controledosinsetosnasáreas
orizícolastornadeterminanteaadoção
domanejointegradodepragas(MIP)por
partedosprodutoresemtodooPaís
ralmente é controlado com inseticidas mis-
turados a fungicidas, aplicados na fase de
floração, quando as plantas de arroz estão
maiores e boa parte dos insetos instalados
nasuabase, entreos colmos, sãopoucoatin-
gidos pelas caldas”, explica. Já o percevejo-
-do-grão, mais frequente na região tropical
do Brasil, ocorre mais próximo da colheita,
causando danos quantitativos e qualitati-
vos, comdeformações emanchas nos grãos.
Nesse caso, Martins aponta que pulveriza-
ções, sem que o nível de controle seja atin-
gido, servirão apenas para aumentar o risco
de acúmulo de resíduos de inseticidas nos
grãos, o que se torna ainda menos desejá-
vel frente à demanda domercado interno e
externo por umarroz demelhor qualidade.
Visando a melhoria do MIP para inse-
tos, o pesquisador destaca que órgãos de
pesquisa têm disponibilizado dados so-
bre modo de dispersão de insetos nos ar-
rozais, níveis populacionais de contro-
le, efeitos de práticas culturais e manejo
correto de inseticidas. Também refor-
çam questões relacionadas a resistência
de cultivares, controle biológico, feromô-
nios, métodos para diagnose e predição
da ocorrência, dentre outras. “São infor-
mações importantes, que têm sido pou-
co utilizadas pelo setor orizícola”, salienta.
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