Anuário Brasileiro da Cana-de-açúcar 2016 - page 59

Leilões de energia para o
Sistema Interligado Nacional
excluem o setor
O papel das sobras
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) afirma que as concessionárias do segmento deverão terminar 2016
com cerca de 13% em sobras de energia, gerando perdas para as empresas que têm vendido os excedentes a preços baixos no mercado spot
de eletricidade. Pedrosa define a questão como urgente e diz que o governo busca solução estrutural para o problema.
Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), alerta que, apesar da redução momentânea do
consumo de energia elétrica, é preciso estar sempre preparado para as respostas da economia. “Há sobra de energia elétrica agora, mas a
economia pode surpreender, e não podemos permitir que isso atropele o planejamento setorial”, avalia.
Por sua vez, Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade da Unica, aponta que, se fossem contratados todos os projetos de bioeletricidade
cadastrados para o Leilão A-5 em 2016 (em abril), isto significaria investimento de R$ 15 bilhões à cadeia produtiva da biomassa, que
opera com capacidade ociosa. Menciona que agregar 3.040 MW de biomassa à matriz de energia elétrica proporcionaria a ge-
ração de cerca de 50 mil novos empregos diretos na cadeia produtiva.
Que massa!
Bagaço de cana representa quase 80% da energia elétrica gerada por
biomassa no Brasil, mas o segmento precisa de incentivos para a expansão
O setor sucroalcooleiro do País é au-
tossuficiente na produção de energia elé-
trica por meio da biomassa e vende exce-
dentes para o Sistema Interligado Nacional
(Sin. Em 2014, essa proporção foi de 40%
da energia demandada pelas próprias usi-
nas e os 60% restantes foram dirigidos a ali-
mentar o sistema elétrico brasileiro. Sem
mexer com a produção de cana-de-açúcar,
apenas aproveitando os resíduos ora gera-
dos, é possível dobrar a geração.
As vantagens do sistema englobam as-
pectos ambientais, econômicos e sociais,
desde o aproveitamento de resíduos (pa-
lha, bagaço e vinhaça), que até há pouco
tempo geravam custos de descarte e atual-
mente garantem energia em época de seca
no Brasil Central, além de empregos e ren-
da. E a capacidade de geração para o Sin
pode ser multiplicada por seis, pois o se-
tor dispõe de alto potencial de crescimento
da produção de energia elétrica produzida
a partir dessas biomassas. Isso, porém, de-
pende de o setor ser incentivado a investir
em novos projetos, por meio de uma políti-
ca estruturante e de médio e longo prazos.
Os leilões do governo federal para aqui-
sição de energia elétrica, no entanto, não
vêm contemplando este tipo de geração
desde 2011. Isso foi motivo de queixa leva-
da ao Ministério de Minas e Energia (MME)
em recentes encontros e ao Congresso Na-
cional em audiência pública que reuniu
mais de 200 pessoas, entre políticos e lide-
ranças da cadeia produtiva. Agora, o setor
aguarda por mudanças na estratégia gover-
namental de aquisições de energia.
Além de ser complementar à geração hí-
drica durante o período mais seco do ano
no Sudeste e no Centro-oeste, a geração
de energia pela biomassa da cana, por es-
tar próxima de grandes centros urbanos, re-
duz as perdas de transmissão de energia na
rede e a necessidade de investimentos em
infraestrutura de transporte, segundo o di-
retor Executivo da União da Indústria de Ca-
na-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sou-
sa. “É um exemplo das externalidades que
deveriam ser reconhecidas na metodolo-
gia para a precificação de cada fonte nos lei-
lões”, complementa o diretor.
Estes argumentos podem levar o go-
verno a rediscutir a agenda de leilões de
energia programados para 2016. Segun-
do o ministro de Minas e Energia, Fer-
nando Coelho Filho, é preciso avaliar a
necessidade de expansão da capacidade
instalada do País, considerando que o con-
sumo de energia tem caído, face à atual
crise econômica. Neste cenário, as em-
presas distribuidoras alegam ter mais ele-
tricidade contratada do que a demanda.
O secretário-executivo do MME, Paulo
Pedrosa, avisa que o tema será definido após
avaliação da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), que estuda o planejamento de expan-
são da geração e a transmissão de energia
e é responsável por preparar o apoio técni-
co aos leilões. Cita a importância estratégica
dos leilões para atrair investidores e tecnolo-
gia, mas defende a reflexão sobre o custo ao
consumidor quando há sobreoferta.
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