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Maré
baixa
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Olericulturabrasileiraapresentadiminuiçãodeáreaedeproduçãonos
últimosanosemdecorrênciadosefeitosdacrisenademandaenoscustos
O
nível da horticultura estacio-
nou na baixada no período
mais recente da atividade no
Brasil. É o que demonstram
estatísticas existentes entre
os anos de 2011 e 2015, com sinais seme-
lhantes em dados de algumas culturas em
2016. Asituação resulta tantodoclimanatu-
ral desfavorável emváriosmomentos quan-
to do clima político e econômico instável na
fase. Coma expectativademelhorias nestes
campos, embora ainda incertas, era planta-
da no início de 2017 alguma perspectiva de
recuperação emcultivos do segmento.
“A redução de área e de produção de
hortaliças nos últimos anos deve-se à ins-
tabilidade do País, ao desemprego e à di-
minuição do poder aquisitivo da popu-
lação e, em paralelo, à alta no custo do
produtor e à total descapitalização no se-
tor”, analisam Edson Takeshi Matsusako
e o engenheiro agrônomo José Daniel Ri-
beiro, respectivos presidente e conselhei-
ro fiscal do Instituto Brasileiro de Horti-
cultura (Ibrahort), sediado em São Paulo.
Questões trabalhistas e tributárias tam-
bém causam desconforto na gestão da
propriedade rural e levamo produtor a re-
duzir a área, complementam.
A Confederação da Agricultura e Pecuá-
ria doBrasil (CNA), emavaliação do setor em
2016, ratificou maiores custos em insumos,
cominfluênciadocâmbio, emenor poder de
consumo, além de citar os reflexos do clima
na produção, como já ocorreu em ciclos an-
teriores. Mencionou excesso de chuvas, frio
e geada na região Sul e estiagemno Nordes-
te. Commenor produção, lembrou, aumen-
taramos preços, o que também interferiu no
consumo. Dados coletados pela Embrapa
Hortaliças entre 2011 e 2015 confirmamque
sóevoluiuovalor daprodução.
Para 2017, a CNA manifestava na vira-
da do ano expectativa de que os problemas
não desanimariam os produtores. Citando
exemplos demédios e grandes investidores
na década passada em regiões como Cris-
talina (Goiás), São Gotardo (Minas Gerais) e
Chapada Diamantina (Bahia), acreditava na
sua disposição de continuar a investir em
inovações tecnológicas existentes no seg-
mento, comopropósitode aumentar a pro-
dutividade e a competitividade no negócio.
O Ibrahort, por sua vez, verificavano iní-
cio de abril de 2017 que havia projeções de
recuperação na economia de forma mais
lenta do que a prevista em momento an-
terior. Mas registrava perspectiva positiva
de custos mais controlados, com melhora
na produtividade e preços estáveis dos in-
sumos. Os representantes da entidade re-
forçaram, no entanto, que a rentabilidade
sempre vai depender do aumento no con-
sumo e da efetiva elevação produtiva por
área para reduzir gastos por unidade.
De qualquer forma, dados do Institu-
to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
nos primeiros meses de 2017, sobre as prin-
cipais olerícolas (batata, tomate e cebola),
eram positivos para o ano, sem considerar a
mandioca, que apresentava redução. OCen-
trodeEstudosAvançadosemEconomiaApli-
cada (Cepea), da Escola Superior de Agri-
cultura Luiz de Queiroz (Esalq), vinculada à
Universidade de São Paulo (USP), ratificava
avançosnasprincipaisáreasdastrêsculturas
e tambémnacenoura, ressaltandomaior en-
foque industrial nosdoisprimeirosprodutos.
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Em altitude
Apesar da redução produtiva, a importância econômica e social continua alta no setor olerícola, sem falar na relevância
nutricional e para a saúde. Nos 32 produtos pesquisados pela Embrapa, o valor da produção em 2015 atingiu R$ 23,2 bilhões.
Comparado com montante apurado em 2011, houve crescimento de 39,6%. Se for incluída a mandioca, cujo valor evoluiu
14,6% no período, o total chega a quase R$ 31,5 bilhões só na área produtora. No âmbito dos empregos, há informações de
que são gerados de 2 milhões a 3,5 milhões de postos de trabalho diretos, e mais o dobro se considerada a mandioca, poden-
do atingir, com os indiretos, perto de 20 milhões de pessoas.
Sílvio Ávila