Anuário Brasileiro da Soja 2017 - page 71

T
ão logo se encerrou o período
de vazio sanitário para a cultu-
ra da soja no Centro-Oeste bra-
sileiro, as plantadeiras rompe-
ram o silêncio do cerrado para
a semeadura das lavouras da temporada
2017/18. Alémde garantir a janela para a se-
gunda safra, a corrida dos produtores para
plantar omais cedo possível temo objetivo
de escapar da ferrugemasiática, pois as pri-
meiras áreas semeadas costumam ser me-
nos atingidas pelo fungo
Phakopsora pa-
chyrhizi
, causador da doença.
Acontece que, se a doença fúngica já
preocupava antes, agora se tornou ainda
mais danosa. Algumas raças do fungo mos-
traram-se resistentes ao princípio ativo dos
mais novos e eficientes fungicidas para o
seu controle: as chamadas carboxamidas.
Cláudia Vieira Godoy, pesquisadora da Em-
brapa Soja e coordenadora do Consórcio
Antiferrugem, que reúne uma série de em-
presas e instituiçõesdepesquisa, revelaque
o rompimento da eficiência deste mecanis-
mo químico pelas raças de fungos resisten-
tes atingiu principalmente o Sul do Brasil
lucro
A ferrugem
Aumentodaresistênciaderaçasdo
fungodaferrugemasiáticapõeas
tecnologiasexistentesemriscoeexige
cadavezmaiscuidadosnomanejo
deação:ostriazóissãoinibidoresdadesme-
tilação (IDM); as estrobilurinas, inibidoras
de quinona externa (IQe); e as carboxami-
das, inibidoras da succinato desidrogenase
(ISDH). “A perda da sensibilidade do fungo
aos produtos IDM e IQe já émais antiga”, re-
conhece a cientista. Em algumas regiões, o
controle químico de alguns produtos alcan-
ça apenas 20%de eficiência, fazendo explo-
dir o custo com defensivos e mão de obra e
exigindo soluções criativas dos agricultores.
E pode resultar emprejuízo na safra.
A preocupação de pesquisadores e pro-
dutores é com a alta variabilidade genéti-
ca das raças do
Phakopsora pachyrhizi
e a
fácil propagação dos esporos, o que deve
comprometer o controle do patógeno tam-
bém em outras regiões. No Sul, a resistên-
cia ao fungicida já é inferior a 50%. Por isso,
muitos sojicultores apelam para estratégias
como uso de misturas de defensivos, rota-
çãodemecanismos de controle ediferentes
modos de ação, comameta de atrasar a se-
leçãodapopulação resistentenas áreas cul-
tivadas e ampliar a eficiência do controle.
n
emapenas duas safras. Essa velocidade sur-
preendeu os pesquisadores. Era esperada
maior durabilidade da tecnologia.
Em8demarçode 2017oComitêdeAção
à Resistência aos Fungicidas (Frac, na sigla
inglesa) relatou oficialmente ter encontra-
do fungos resistentes por mutação. Cláudia,
doutora em Fitopatologia pela Universida-
de de SãoPaulo (USP), explica que este é um
processo de seleção da natureza, que mais
cedo ou mais tarde vai acontecer. Então,
quandoumfungicidaé lançado, apreocupa-
ção dos cientistas também é com a longevi-
dade dos seusmecanismos de defesa, isto é,
por quanto tempo ele será eficiente para eli-
minar opatógenoeproteger aplanta.
Os fungicidas sítio-específicos para o
controle da ferrugem possuem três modos
Setor não deve ter nova ferramenta eficiente de controle amédio prazo
NACASADOSBILHÕES
Identificada noBrasil em2001, a ferrugemasiática, dependendo da situação do
ataque, pode causar danos de até 70%emuma lavoura. Em16 anos, o brasileiro
aprendeu a conviver coma doença e os danos reduziram-se. Seu custo é
estimado ao valor equivalente aos fungicidas utilizados para o seu controle, cerca
deUS$ 2 bilhões na lavoura brasileira, por ano. Estatísticas utilizadas pelo setor
mostramque se o produto não alcançar 80%de controle, dá prejuízo.
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