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Santo de casa
Enxertiaemtomateiropoderáauxiliarnocontroledamurchabacteriana
eprometesernovapossibilidadeprodutivaparaaregiãodaAmazônia
A produção comercial de tomate na re-
gião amazônica é um grande desafio. A alta
temperatura e a umidade do solo dão con-
dições favoráveis ao desenvolvimento de di-
versas pragas e doenças de solo, tanto no
campo aberto quanto em cultivo protegi-
do, como nematoides, murcha bacteriana e
murcha de fusário. O engenheiro agrôno-
mo José Lindorico de Mendonça, da Em-
brapa Hortaliças, explica que até mesmo
cultivares comerciais que são considera-
das padrão mundial de resistência acabam
sendo atacadas pela murcha bacteriana na
Amazônia, o que faz com que o grau de re-
sistência nos porta-enxertos indicados para
essa região tenha de ser maior.
Conforme o mestre em Fitotecnia, di-
versos estudos estão sendo conduzidos no
sentido de utilizar a diversidade genética de
plantas amazônicas para mudar essa realida-
de. As resistências a pragas de solo de espé-
cies de jurubebas, da família das solanáce-
as, apresentam resultados promissores em
comparação às fontes de resistências em
tomateiros. “A murcha bacteriana do toma-
teiro é a principal doença de solo em cul-
tivos protegidos no Brasil porque as con-
dições ambientais neste sistema de cultivo
(alta temperatura e alta umidade) favorecem
o desenvolvimento da
Ralstonia solanace-
arum
, bactéria causadora da doença”, diz.
Mendonça ressalta que o mercado de se-
mentes de porta-enxerto está bem abasteci-
do com híbridos de tomateiros com resis-
tência múltipla a pragas de solo, exceto para
a região amazônica, onde até mesmo esses
materiais resistentes sofrem com as pragas
de solo. Nas regiões com alta concentração
de cultivo protegido, como Santa Cruz do
Rio Pardo, no interior paulista, a enxertia é
amplamente adotada com sucesso. Com re-
lação aos nematoides, que também provo-
cam perdas em cultivos de tomateiros, sur-
giu uma raça que ainda não tem fonte de
resistência nas cultivares de tomateiros dis-
poníveis: é o
Meloidogyne enterolobii
.
“Algumas pesquisas já identificaram fon-
tes de resistência em espécies silvestres da
família das solanáceas, que poderão ser uti-
lizadas para o desenvolvimento de porta-en-
xerto ou de híbridos resistentes”, esclarece.
Algumas dessas espécies apresentam resis-
tência múltipla às principais pragas de solo.
A tendência é de que a descoberta mude
uma realidade na região amazônica, que po-
derá fomentar a produção local de tomate
– a maioria dos frutos ainda é importada de
outras partes do Brasil, distantes até 2.000
quilômetros, o que eleva o preço do produ-
to, por causa da logística.
PRÁTICASECULAR
A enxertia é ummétodo de propagação vegetal que consiste na junção de tecidos de
duas plantas diferentes, objetivando explorar as características desejáveis de cada uma. O
segmento inferior (porta-enxerto) contribui com as raízes e com a haste inferior do caule,
responsável pelosuportedanovaplanta, pelaabsorçãodeáguaenutrientes epelaadapta-
çãodaplantaàscondiçõesdosolooudeoutrosubstrato.Apartesuperior(enxerto),queéo
segmento comercial, forma caule, folhas, flores e frutos. Associam-se, emuma sóplanta, as
características favoráveisdasduasplantas.
Emboraatécnicasejaconhecidahámuitosséculos,emhortaliçasaenxertiafoirelatada
pela primeira vez no Japão, na década de 20. No Brasil, os primeiros registros remetemaos
anos 50, na regiãoNorte, onde imigrantes japoneses residentes no Pará enxertaramtoma-
teiro emuma espécie nativa da regiãopara controle damurcha bacteriana. Devido ao alto
custodaenxertianaépoca,osagricultoresmigraramdotomateparaoutroscultivos.Apes-
quisamodernaretomouumaantigapráticacommaistecnologiaeferramentase,comisso,
prometeumnovocenárioparaocultivodo tomateironessa regiãodoPaís.