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As hortaliças, quando cultivadas emuma
mesma área, sem que medidas de controle
sejam utilizadas, muitas vezes não sobrevi-
vem ao intenso ataque da maioria das espé-
cies do nematoide-das-galhas (
Meloidogy-
ne
spp.). As perdas podem chegar a 100%,
dependendo da infestação da área, da es-
pécie de nematoide, da cultivar plantada e
das condições ambientais. Atualmente, são
três as espécies desse grupo de patógenos
de solo consideradas mais importantes para
as hortaliças (
Meloidogyne incognita
,
M. ja-
vanica
e
M. arenaria
). Porém, uma espé-
cie vem causando sérios problemas às hor-
taliças, o que tem gerado maior apreensão
para a fitopatologia. Trata-se de
Meloidogy-
ne enterelobii
, espécie do nematoide-das-
-galhas que ainda não possui gene de resis-
tência nas hortaliças cultivadas.
De acordo com o agrônomo Jadir Bor-
ges Pinheiro, pesquisador da Embrapa Hor-
taliças, a espécie foi registrada pela primeira
vez no Brasil em 2001, na cultura da goia-
ba, nos estados de Pernambuco e Bahia,
causando danos aos plantios comerciais
da fruta. Após o relato de ataques no Nor-
deste brasileiro, em 2006 esse nematoide
foi encontrado em hortaliças no Estado de
São Paulo, atacando cultivares até então re-
sistentes a outras espécies de nematoide-
-das-galhas prevalecentes no País. “Além de
apresentar rápida disseminação,
M. entero-
lobii
parasita grande número de hospedei-
ros, incluindo várias plantas ornamentais,
tabaco e soja”, diz.
Pinheiro reitera que a espécie está pre-
sente na maioria dos estados, mas ainda são
poucas as informações sobre o comporta-
mento de hortaliças atacadas, com o intui-
to de reduzir futuros problemas. “Um dos
grandes desafios, juntamente com o melho-
ramento de plantas, é o desenvolvimento
de cultivares resistentes para o manejo des-
se nematoide”, explica. Na Embrapa Hor-
taliças, em Brasília, a inoculação artificial é
feita de maneira controlada em variedades
de tomateiros e outras espécies de hortali-
ças, com o objetivo de identificar fontes de
resistência. Ao final, pretende-se desenvol-
ver uma cultivar, de tomate indústria ou de
mesa, que possa ser cultivada em áreas in-
festadas, como é o caso do interior paulista.
“Quando encontrarmos o gene de resis-
tência que contempla essa espécie em es-
pecífico, os produtores poderão plantá-la e
conviver com esse problema, uma vez que
não existe erradicação para os nematoides”,
refere o nematologista. Conforme ressalta, o
emprego de cultivares resistentes traz a van-
tagem de requerer pouca tecnologia adicio-
nal e, por consequência, ter baixo custo e
ser de baixo impacto ambiental. “As fontes
de resistência a nematoides identificadas até
o momento são pouco estudadas quando
comparadas à diversidade genética existente,
principalmente em hortaliças", frisa.
Além do desenvolvimento de cultivares
resistentes, o especialista aponta que os de-
safios ainda incluem pesquisas com outras
espécies de plantas antagonistas a
Meloido-
gyne
, o estudo de sucessão ou rotação de
culturas no manejo de
M. enterolobii
e ou-
tras práticas ou tecnologias que possam ser
empregadas em áreas infestadas para o ma-
nejo correto e sustentável destes parasitas.
“No Brasil, os problemas causados por ne-
matoides em hortaliças são intensificados
pela existência de grandes áreas de cultivos,
pelo cultivo intensivo de hortaliças ao lon-
go do ano, pelos poucos profissionais trei-
nados em técnicas nematológicas, por falta
de legislação rigorosa de quarentena e pela
falta de cultivares resistentes na maioria das
hortaliças”, constata.
Problema (in)visível
Meloidogyneenterolobii
desafiaanematologianocontextoda
olericulturaemotivabuscaporcultivaresresistentesàespécie