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Nadade estresse
Emboraaatividadesejaumadasmaisafetadaspordoenças
dediferentesorigens, apesquisaapostaempráticas
integradasparaasanidadedaslavouras
IRRIGAÇÃOCOMOALIADA
Um dos objetos de pesquisa da Em-
brapa Hortaliças é a irrigação do tomatei-
ro orgânico com enfoque no controle de
insetos e doenças. A utilização adequada
da água tende a reduzir os riscos de pra-
gas e proporcionar maior produção e
frutos demelhor qualidade, alémde van-
tagens para os produtores e o meio am-
biente. Conforme o pesquisador Marcos
Brandão Braga, a frequência da irrigação,
aquantidadedeágua fornecidaea forma
como esta é aplicada interferemna disse-
minação de patógenos e no processo de
colonização e de infecçãoda planta, além
deafetarem,mesmoqueemmenoresca-
la, aocorrênciade insetos-praga.
“Tanto quanto a deficiência, o exces-
so de água tem efeito prejudicial sobre a
produtividade e a qualidade dos frutos.
Muitas vezes, é possível obter incremen-
tos significativos de produtividade e to-
mates demelhor qualidade comredução
na quantidade de água aplicada, somen-
te irrigando-se corretamente”, explica o
agrônomo. Apesar de ser prática incorpo-
rada ao sistema produtivo do tomateiro,
o especialista em irrigação e drenagem
destaca que a irrigação ainda é praticada
demaneira inadequada pelamaioria dos
agricultores, nas produções convencional
eorgânica, tantonas lavouras de frutos
in
natura
quantono industrial.
O tomate é a hortaliça mais popular
no prato dos brasileiros, o que justifica o
fato de o tomateiro ser cultivado em to-
das as regiões do País. Somadas as colhei-
tas de mesa e industrial, a produção anu-
al do fruto gira em cerca de 3 milhões de
toneladas. Para manter as lavouras sadias e
produtivas e atender à demanda da popu-
lação, cada vez mais os agricultores preci-
sam estar atentos aos principais problemas
que podem interferir no rendimento das
plantas, incluindo doenças fúngicas, bacte-
rianas, viróticas e outros distúrbios fisiológi-
cos. Em todo o mundo, aproximadamente
200 patógenos já foram relatados afetando
a tomaticultura, e que podem causar da-
nos e prejuízos para quem produz.
O pesquisador Carlos Alberto Lopes,
da Embrapa Hortaliças, destaca que no
caso das doenças bacterianas uma das
maiores preocupações dos tomaticulto-
res é a murcha-bacteriana, ou murchadei-
ra, que também afeta outras solanáceas em
regiões tropicais e subtropicais. “O contro-
le é muito difícil, devido à alta capacidade
de sobrevivência da bactéria no solo”, jus-
tifica o agrônomo. No Brasil, a doença é
fator limitante para a produção do tomate
de mesa durante o verão chuvoso das re-
giões Sudeste e Centro-Oeste e na maior
parte do ano no Norte e no Nordeste, uma
vez que a temperatura elevada e a alta umi-
dade do solo são condições determinantes
para as epidemias mais sérias da doença.
Em termos de fungos, os microorganis-
mos são causadores do maior número de
doenças de plantas, sendo considerados
os grandes vilões da tomaticultura. Aproxi-
madamente 15% dos custos de produção
de tomate são atribuídos ao uso de fun-
gicidas no combate de doenças causadas
por esse grupo de patógeno. Conforme o
engenheiro agrônomo Ailton Reis, os fun-
gos de solo são os mais difíceis de serem
controlados e requerem medidas integra-
das de manejo. “Hoje, uma grande preo-
cupação é a chegada da murcha-de-Fusa-
rium no Cerrado. É causada pelo Fusarium
raça 3, que ainda não tem resistência para
o tomate industrial no Brasil”, explica.
Em todas as linhas de enfrentamento
às doenças, o controle integrado é consi-
derado fundamental e tem sido uma das
apostas dos pesquisadores em substitui-
ção à tomaticultura convencional, ainda al-
tamente dependente de agroquímicos. O
sistema adota práticas de produção ecológi-
cas que visam racionalizar o uso de agrotó-
xicos e minimizar seus efeitos indesejáveis.
“Controlar uma doença não é simplesmen-
te exterminá-la após seu aparecimento. O
controle deve ser entendido como prática
permanente de medidas integradas para,
de preferência, evitar que a doença apare-
ça ou atinja proporções que resultem em
grandes prejuízos”, reitera Lopes.