cássio filter
P
arece até simpatia, mas é
ciência. Em algumas pro-
priedades gaúchas, agricul-
tores já perceberam que se
chacoalharem alguns pés de soja
sobre um pano branco em seis di-
ferentes pontos da lavoura, uma
vez por semana, nas primeiras eta-
pas de desenvolvimento da planta,
conseguemusar menos inseticidas
eaumentar os seus lucros.
O ritual, lógico, nada tem a ver
com a sorte. É apenas uma das
etapas da proposta de Manejo In-
tegrado de Pragas. Ao sacudir-se a
planta, insetos e pragas caem so-
bre o tal pano branco. O contraste
com o tecido ajuda na identifica-
ção dos pequenos visitantes. E al-
guns insetos, ao contrário do que
se pensa, não devem ser elimina-
dos, mas preservados, pois são
“amigos” da soja. É que longe dos
olhos humanos, junto da planta e
do solo, acontece uma espécie de
“guerra” entre insetos e pragas.
Ou seja, algumas espécies sãopre-
dadoras de outras. “A tesourinha,
por exemplo, é uma grande aliada
do produtor, pois se alimenta dos
ovos da lagarta, que tem ciclo de
34 a 38 dias. Ou seja, preservar a
tesourinhaemdeterminadoperío-
dopodesignificarquenãoprecise-
mos fazer aplicação de inseticida
mais adiante” explica o agrônomo
Oberdan Scolari, responsável pelo
escritório da Emater/RS/Ascar na
cidade de Charrua.
A análise precisa ser cuidadosa.
Por isso, é indicado sempre fazer
verificação com pano branco em
diferentes pontos da lavoura pelo
menos uma vez por semana. Se há
mais insetos amigos, excelente. Se
há mais insetos inimigos, é preciso
intervir. “Para saber quais são os
amigos e os inimigos e emquais es-
tágios eles devem ser preservados,
é importante procurar auxílio téc-
nico”, completa Scolari, ressaltando
que a saúde da lavoura passa ne-
cessariamente pelo cuidado e pelo
monitoramentoporparteprodutor.
EMGERALTIDOS
comoinimigos,
algunspequenos
visitantespodem
seraliadosdos
produtoresEFAZER
BEMàSPLANTAs
O agricultor Claudemir Fonta-
na, domunicípiode Sertão, no Alto
Uruguai,conhecebemessaprática.
Nos 160 hectares de soja que cul-
tiva, o pano branco tornou-se um
companheiro de trabalho. Desde
o ano de 2000 ele não aplica inse-
ticida no milho, permitindo que os
inimigos naturais das pragas façam
o controle. No caso da soja, até o
enchimentodogrãoele só fez duas
aplicações de produtos fisiológi-
cos. “As outras duas optamos por
não fazer. Além da economia, tem
a própria preservação das abelhas
na proximidade, que também têm
papel importante”, enfatiza. Fon-
tana ficou em segundo lugar no
concurso estadual que premia a
conservação do solo e da água em
propriedades rurais.
De acordo com o chefe do es-
critório municipal da Emater/RS-
-Ascar emSertão, agrônomo Edgar
Frank, o município possui cerca de
32,5 mil hectares de soja cultiva-
dos, sendo que um em cada três
produtores já aderiu à técnica de
preservação dos inimigos natu-
rais para a diminuição do uso de
defensivos. “A rentabilidade pode
aumentar entre 5% a 15%, depen-
dendo do ano. Não há como não
usar defensivos. Mas é possível es-
colher produtos mais específicos.
Ao invés de usar algo que mate to-
dos os insetos, pode-se optar por
algum específico para a lagarta”,
frisa, ressaltando que no caso de
Claudemir a produtividade pode
alcançar até 90 sacas por hectare
nesta safra, bem acima da média
municipal, que fica emcerca de 60
a 70 sacas por hectare.
n
Deve ser usada até a fase final de enchimento de grãos.
n
Amedida fica emcerca de 1,00mx 1,20m.
n
Omonitoramento deve ser feito emseis oumais pontos
da lavoura, pelomenos uma vez por semana.
n
A identificação dos insetos “amigos” e “inimigos”
deve ser feita por umprofissional capacitado.
Quais sãoos principais insetos e pragas
que ajudama preservar a lavoura.
n
1- Tesourinha
n
2- Joaninhas
n
3 - Vespinhas
n
Todo inimigo natural pode ficar na lavoura emtodo o ciclo da soja
SobreoManejo Integradode Pragas (MIP)
A base doMIP é simples. O controle é decidido numa comparação
entre a densidade populacional de pragas e seus danos, detecta-
dos na lavoura, como nível médio determinado emestudos.
Entre os principais benefícios para o produtor rural estão:
n
Redução do custo de produção.
n
Diminuição do impacto ambiental, pela preservação
dos inimigos naturais.
n
Redução de perdas na produção e na qualidade de grãos.
n
Redução da possibilidade de desenvolvimento de resistência
de pragas a inseticidas.
Mais informações podemser obtidas no escritório da Emater/RS-Ascar do seumunicípio.
A técnica “batida de pano”:
4
JORNAL DA
EMATER
março de 2018
produção
Os insetos
amigos
dasoja
Larvaangorá é umdos
insetos que costumam
estar presentes nas
plantações e não oferece
risco na fase final da cultura