Revista AgroBrasil - 2016/2017 - page 65

O
setor leiteiro no Brasil, que
crescia a cada ano, quebrou
a sequência em 2015, com
redução de 3,5%, por preços
baixos e custos altos, frisa o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-
ca (IBGE). A gangorra voltou a virar e a subir
os valores pagos devido à oferta baixa, o que
culminou com patamar histórico de R$ 1,69
por litro de leite em agosto de 2016 – dado
doCentrodeEstudos Avançados emEcono-
mia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), vincula-
da à Universidade de São Paulo (USP). Já
em seguida, “o forte incremento nas impor-
tações,associadoàentradadasafradasprin-
cipais regiões produtoras, derrubou os pre-
çosdeformaabrupta”,avaliaaConfederação
daAgriculturaePecuáriadoBrasil (CNA).
No final de 2016, estimativa feita por
analistas indicava nova retração nos resul-
tados das ordenhas no ano, em faixas pró-
ximas a 1%, como é o caso da projeção, em
outubro de 2016, de Maria Helena Fagun-
des, da Companhia Nacional de Abasteci-
mento (Conab). A Scot Consultoria, em seu
levantamento, verificou queda de 0,7% en-
tre janeiro e novembro frente ao mesmo
período do ano anterior, mesmo com recu-
peração nos últimos meses. Pesquisa tri-
mestral do IBGE, até setembro, ainda mos-
trava diminuição de 4,9%, na comparação
como verificado até então em2015.
Ainda assim, houve grande crescimen-
to na importação de lácteos, a maior des-
de 2000 no caso do leite em pó. Na opi-
nião da CNA, o fato foi “reflexo do cenário
produtivo e dos preços mais altos em re-
lação aos países vizinhos”, Argentina e
Uruguai, de onde provém a maior par-
te (mais de 90%) dos produtos lácteos
importados. Entre janeiro e outubro de
2016, o déficit na balança comercial de
leite e derivados já registrava valor pró-
ximo a US$ 400 milhões. Só de leite em
pó entraram 1,117 bilhão de litros, 75% a
mais do que no mesmo período de 2015,
constatou a equipe da Plataforma Inte-
lactus, da Embrapa Gado de Leite.
Mesmo com os altos níveis alcançados
no ano, amédia nacional de preços do lei-
te ao produtor, entre janeiro a novembro,
ficou em5,7%amais na relação com igual
período de 2015 – R$ 1,098 por litro, va-
lor corrigido pelo Índice Geral de Preços -
Disponibilidade Interna (IGP-DI), de acor-
do como levantado pela Scot Consultoria.
Já quanto aos custos de produção, a mes-
ma fonte apurou nessemeio tempo eleva-
ção de 22%. Esta alta dos custos estreitou
a margem da atividade, de maneira que,
em 2016, conforme a análise da consulto-
ria, “o cenário foi de retranca, com baixos
investimentos e cortes de despesas, o que
impactou na produção”.
A Conab, de outro lado, observa em
2016 continuidade em alguma redução na
demanda interna, devido à queda de ren-
da, o que ainda deve se refletir em 2017,
conforme a CNA. Mas há também expecta-
tiva de melhoria gradual, na visão da Scot,
o que poderia favorecer da mesma forma
as cotações. Consultoria ainda prevê au-
mentos de preços do produto no merca-
do internacional e dólar mais valorizado,
contribuindo para menor importação. Em
suma, na sua avaliação, o quadro pode-
rá ser “um pouco melhor para a atividade
leiteira” no novo ano, prevendo “mercado
mais ofertado do que em 2015 e 2016, po-
rém semexcesso de produção”.
Desuperaquecido
afrio
Preçodoleiteatingevalorhistóricoem2016,combaixanaprodução,evolta
arecuarcomaentradadasafraeumforteincrementonasimportações
DARETRANCAAALAVANCA
Emrelaçãoaos 10próximos anos, aprojeçãoédequeosetor produtivovoltea seaquecer emanter alavancadoocrescimento. Até2026,
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Projeções do Agronegócio Brasil 2015/16-2025/26, prevê acréscimo de
pelo menos 25,6% na produção do País, hoje o quinto maior produtor mundial (com índice de 2,3% a até 3,1% ao ano). O consumo inter-
no cresceria 23,6%(2,2%ao ano) e a exportação seria afinal incrementada, na ordemde 46,3%, enquanto a importação diminuiria 6,9%.
A Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), no documento
Outlook Fiesp 2016
, por sua vez, projeta 30% de crescimento
produtivo (2,4%aoano) e20%noconsumo
per capita
, enquantoo rebanhocresceria1%(para22,1milhõesdecabeças). Avançomaior con-
tinuaria no Sul (de 35%para 41%do total) e no Centro-Oeste (14%para 15%). Ainda no trabalho doMapa, a Embrapa Gado de Leite, vincu-
lada aoministério, aponta para “melhoria relativa do comércio exterior”. Lembra, por fim, que o crescimento da oferta nos últimos 20 anos
foi de cerca de 4%ao ano e “ainda existemuita tecnologia a ser incorporada, comreflexos na produtividade do rebanho”.
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