Anuário Brasileiro do Gado de Corte 2016 - page 26

A valorização do bezerro acima dos pre-
ços da carne no mercado brasileiro vem fa-
zendo com que o pecuarista mantenha o
movimento de retenção de fêmeas na fazen-
da. Com isso, o número de abates está em
queda no País e os confinadores e termina-
dores terão maiores custos e mais necessida-
de de serem muito eficientes para obterem
ganhos com a atividade na temporada. O ce-
nário que se vê desde o início de 2016 segue
roteiro já acompanhado em 2014 e 2015, o
do pecuarista negociando para o abate quase
que só matrizes que saíram vazias da estação
de monta e segurando as fêmeas com o ob-
jetivo de privilegiar a produção de bezerros.
Apesar da demanda por carne estar mais
fraca no Brasil, por conta do desemprego em
alta, da competitividade maior das proteínas
alternativas à carne bovina, e da instabilida-
de política, os preços do boi gordo seguem
firmes, salvo em momentos de pressão por
baixa, influenciados pelas margens da indús-
tria, como visto em março. E as cotações do
boi devem se manter aquecidas até o final do
ano, considerando a tendência natural ob-
servada no segundo semestre dos últimos
cinco anos. Isso está muito associado à que-
da na oferta de fêmeas para os frigoríficos.
Levando em conta os últimos anos, em
2013 as fêmeas representaram 42% dos aba-
tes; em 2014, baixaram para 41,8%; e em
2015, bateram em níveis muito próximos dos
históricos, representando apenas 38,9% de
participação no conjunto de animais abatidos
pela indústria da carne. Os dados do primeiro
trimestre de 2016 mantêm a participação ain-
da baixa das fêmeas, mesmo levando em con-
ta quede janeiro amarço sãonegociadas as va-
cas que não emprenharam na temporada de
monta. A queda de abate entre os machos fi-
cou em 1,5% na temporada passada, enquan-
to a oferta de fêmeas escasseou 25%.
Já no primeiro trimestre de 2016 foram
para o gancho 2,9 milhões de fêmeas, menor
valor absoluto desde 2010. Elas compuseram
40,1% dos abates totais, frente a 44% no pri-
meiro trimestre de 2015, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Com os altos preços da reposição –
bezerros e gado magro – e dos componentes
da ração (milho, em especial), disparou o cus-
todeproduçãodoboi gordo. Isso, associado à
queda na demanda interna, vem interferindo
na projeção de confinamentos no Brasil em
2016, bemcomo não permite prever altamais
significativa nos preços.
Analistas do setor projetammargemmé-
dia de 10% para os confinadores e aumen-
to máximo de 2% no volume de gado con-
finado, para 745 mil animais. Segundo a
Associação Brasileira dos Confinadores (As-
socon), em 2015 houve redução de 5% na
quantidade de bois confinados nos seus 85
projetos associados em oito estados, para
731 mil animais.
A expectativa do analista Hyberville Neto,
da Scot Consultoria, é de que o ano de 2016
mantenha omercado compreços firmes até o
último trimestre. “O certo é que o ciclo pecu-
ário se direciona para a estabilidade em 2017,
com maior oferta de animais de reposição e
relação mais frouxa em relação ao boi gordo”,
explica. Isso quer dizer que a tendência é de
que o País entre numa onda de estabilidade
em 2017 e 2018, para depois enveredar por
ciclo inverso, com a retomada da oferta de fê-
meas para o abate. Maior oferta de animais, se
não for sustentada pelo aumento do consu-
mo, resulta emmenores preços em relação ao
custo produtivo e à inflação.
Lugar de fêmea
é na fazenda
Os pecuaristas retêm as matrizes para a produção de bezerros, cujos
preços compensam, mas o ciclo pecuário projeta normalidade para 2017
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