A
lista de supermercado do casal Be-
atriz e Normélio Salami é sempre a
mesma: café, sal, farinha e produtos
de higiene. Todo o restante eles mes-
mos cultivam ou produzem. A variedade é im-
pressionante. Hibisco, ervilha, melado, pimen-
tão, salame, açafrão, feijão, morangos, batatas
e dezenas de outros cultivos. Só de carne, são
cinco tipos: gado, frango, codorna, suínos epei-
xe. Andar pelapropriedadeéestar emumgran-
de
shopping
de alimentos a céu aberto.
Mas nem sempre foi assim. Os Salami vi-
vem no mesmo local há 32 anos e sempre ti-
veram muita dificuldade com o relevo do seu
minifúndio, que fica junto de um rio. Dos 4,8
hectares, conseguem aproveitar pouco mais
da metade, devido à inclinação. Por isso, op-
taram por trabalhar com gado de leite. Em
média, mantinham sempre 18 animais, ar-
rendando terras de vizinhos. Hoje, do antigo
rebanho, ficaramapenas quatro, duas da raça
holandesa e duas Jérsey paramesclar volume
e gordura no queijo, iogurte e em outros itens
que produzem.
A mudança veio quando a extensionista
Ana Paula Lopes, da Emater-RS/Ascar, foi até a
propriedade e convidou Beatriz para uma reu-
nião com outros produtores locais. Lá foram
apresentadas propostas para a diversificação
da propriedade. “Logo me empolguei. Eu já
produzia queijo e daí a gente foi agregando
outras coisas, fazendo horta. Hoje, a gente tem
atéestufademoranguinhodo ladodecasa”, diz
Beatriz, que sabedecor todosos ciclosdeplan-
tio e colheita de hortaliças e frutas. Por isso, em
algumas épocas, a oferta de produtos émaior.
Atualmente, o casal vende seus produtos
EmLinhaOnze,
nointeriorde
Rondinha,casal
produzmaisde100
tiposdealimentos
emapenas2,5
hectares
diversificaÇÃO
Osmoranguinhos
cultivados de forma
orgânica são uma
das atrações da
propriedade. Junto
comos técnicos da
Emater-RS/Ascar, o
monitoramento do
cultivo é constante.
O hipermercado
da família Salami
De acordo com estimativa da Emater-RS/
Ascar, ao produzir seus próprios alimentos,
a família Salami economiza cerca de RS
1.800,00 por mês. O exemplo deles vem ser-
vindo de inspiração para outros agricultores
da região. “Nós controlamos todas as infor-
mações deles e de outras famílias, quanto
consomem, e percebemos que esta é uma
práticaque, felizmente, setornacomumaqui
emRondinha”, explica AnaPaula Lopes.
Levantamento feito pelo escritório re-
gional de Frederico Westphalen em 90
propriedades da região aponta que, em
média, as famílias produzem cerca de R$
1.235,00 em alimentos que consomem.
Ou seja, é um valor que deixam de gastar.
“Normalmente, quanto mais estruturada
a propriedade em termos de patrimônio e
tecnologia, menos itens são produzidos. O
recurso financeiro convida à compra no su-
permercado”, explica o assistente técnico
regional, Valdir Sangaletti.
A diferença está no bolso
A autossuficiência da proprie-
dade é uma das ações do Pro-
grama de Gestão Sustentável
da Agricultura Familiar. A inicia-
tiva volta-se ao desempenho da
propriedade em três eixos: eco-
nômico, social e ambiental. Até
2019, cerca de 40 mil famílias de
agricultores gaúchos devem ser
beneficiados coma iniciativa.
A importância
da gestão
em feiras rurais, tanto em Rondinha quanto
em Constantina. Além disso, muitos clientes
vão buscar produtos na propriedade. “Nossa
vida mudou bastante. E para melhor. Hoje, a
gente vive bem, e faz o que gosta”, completa
Beatriz, que sempre recolhe sementes, seca
e guarda mudas para doar a outras pessoas
como um incentivo para que também produ-
zam seus próprios alimentos, tanto pela ques-
tão da saúde quanto da economia.
4
JORNAL DA
EMATER
JUNHO de 2017