Jornal da Emater - Junho de 2017 - page 11

P
ara quem conhece erva-mate, o
nome Cambona 4 já é bem familiar.
Mas pouca gente sabe que esta cul-
tivar temuma história de amor com
a cidade de Machadinho. E o enredo mais
parece uma dessas fábulas que contamos
para as crianças e que nos passam lições de
vida. Em1978, seu Dorinho, umprodutor de
erva-mate de Machadinho, andou pela área
rural de Barracão, uma cidade vizinha. Lá,
junto a um matagal, viu uma planta nativa
de erva-mate, ainda bem nova. Arrancou-
-a, levou para casa e plantou. Surpreso com
o rápido desenvolvimento e com o padrão
uniforme das folhas, fez novas mudas e as replantou.
O padrão genético manteve-se e ele foi aumentando
a quantidade daquela variedade desconhecida, che-
gando a centenas de pés.
Quase duas décadas depois daquele primeiro
plantio, o então gerente da indústria local foi até a
propriedade de seu Dorinho para comprar erva-mate
e percebeu que aquelas plantas destoavam do resto
decoloraçãomaisclaraecompaladarmaissuave,avariedadetornou-seumsímbolodomunicípio
Cambona4:
made inMachadinho
especial:erva-mate
A longevidade dos ervais é
um grande atrativo da cultura.
Alguns produzem durante dé-
cadas. E é exatamente por esta
característica que o produtor
Adroaldo Brandão e a esposa
Marli pensamempassar dos seis
hectares atuais para 10 hectares
nos próximos anos. “Vamos dei-
xar para os filhos, já que é renda
garantida. Temos 31 hectares de
propriedade. Cultivamos soja e
milho e criamos frango e gado.
De longe, a erva-mate é o que
nos dámais dinheiro”, diz.
Para incentivar os herdeiros,
o casal cede 50%do lucro dos er-
vais aos dois filhos, que haviam
saído para morar em outras ci-
dades a fim de trabalhar, mas
decidiram voltar ao campo. A
família também participou do
Projeto Nascentes, desenvolvido
pela Apromate e por entidades
da região. Pela preservação da
nascente na propriedade, cada
produtor recebe mudas para
plantar umhectarede erval.
Herança para os filhos
do herval. Questionado sobre a origem da novidade,
seu Dorinho contou a história. A variedade propor-
cionou uma bebida natural excepcionalmente suave,
com sabor fundamental para contrapor o amargor
dos ervais predominantes na região. Então, com a
descoberta e a participação efetiva das equipes da
Embrapa Florestas, da Universidade Regional Inte-
grada (URI) e da Emater/RS-Ascar, nascia a cultivar de
erva-mate Cambona 4, registrada no Ministé-
rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
sob o número 33418, em nome da Apromate.
A Cambona 4 trouxe para a região de Ma-
chadinho melhora qualitativa e padronização
dos ervais, recordes em produtividades, esta-
bilidade genética de sabor, cor de folha, ren-
dimento industrial, velocidade de rebrote e
remuneração 20%superior por arroba quando
comparada à erva-mate comum produzida na
área. O uso é voltado principalmente à expor-
tação, para produtos de paladar mais suave e
formação de
blends
(misturas), pois ela ame-
niza o amargor sem a necessidade da adição
de açúcar. A consequência natural deste desempenho
foi a expansão da cultivar, que hoje já tem plantios re-
gistrados em outras áreas do Estado, além de Paraná,
Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraguai.
A relação da Cambona 4 com a cidade de Macha-
dinho tornou-se tão simbólica que uma das marcas
de erva-mate produzidas pela fábrica da cidade foi
batizada com o nome da cultivar.
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