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JORNAL DA
EMATER
JUNHO de 2017
M
ais parece uma grande roda de
chimarrão a relação entre os
470 produtores de erva-mate
da região de Machadinho e a
única indústria do segmento instalada na
pacata cidade de pouco mais de 6 mil ha-
bitantes. E omais curioso é que omonopó-
lio da fábrica, que poderia desequilibrar a
negociação comos agricultores, acabou se
tornando um fator determinante para o su-
cesso, graças ao respeitomútuo estabeleci-
do entre a empresa e a associação de pro-
dutores, queenvolve todosos agricultores
da região que vendem à fábrica instalada
no município.
Todos mes-
mo,
sem
exceção.
Esta his-
tória começou
a ser cevada em
1994, quando 130
produtores locais
de erva-mate, lide-
rados por Arcânge-
loGrison,uniram-se
e criaram a Associa-
çãodosProdutoresde
Erva-Mate de Machadi-
nho (Apromate). A ideia era dar vazão à erva-
-matecultivadaenãocomercializadapor falta
de indústria nas proximidades e estruturar a
base de uma cadeia produtiva ervateira local.
Comoadificuldade financeiradosprodutores
era grande, foi feita uma parceria com uma
cooperativa da região, que se prontificou a
participardacompradosequipamentosedos
materiais para a construção. A mão de obra
paraaedificaçãofoicontribuiçãodospróprios
produtores ervateiros edepessoasda cidade,
comdoação de dias de serviço. “A proximida-
de da fábrica melhoraria a rentabilidade dos
produtores locais, queacabavampenalizados
com o frete até outras regiões produtoras,
principalmente Erechim, isso quando conse-
guiam vender”, lembra Ilvandro Barreto, as-
sistente técnico regional da Emater-RS/Ascar
eespecialistaemerva-mate, quenaépocaera
agrônomo da cooperativa parceira. Ele foi um
dos idealizadores da estruturação da cadeia
produtivaervateira local.
O projeto avançou, mas as dificuldades
de mercado, a inexperiência na industria-
lização e a qualidade inferior da matéria-
-prima disponível na época amargaram a
ideia. A erva-mate já processada acabou
envelhecendo. A solução foi destiná-la ao
mercado uruguaio, afeito a este padrão de
produto. “Esta negociação viabilizou a con-
tinuidade do projeto, que já estava prestes
a esmorecer. Inclusive proporcionou mais
adiante a instalação do segundo parque fa-
bril, voltado exclusivamente para erva-mate
de exportação, que deu sobrevida à cadeia
local”, comenta Barreto. “A partir daí veio a
profissionalização, com seleção genética de
matrizes, produção de boas mudas, finan-
ciamento, treinamento contínuo dos produ-
tores e dos colaboradores, assistência técni-
ca, pesquisa, consolidação da Apromate e
de seus parcerios”.
A primeira indústria foi inaugurada
em 1997. Em 2002, veio uma nova planta
voltada à exportação. Em 2012, o parque
fabril em Machadinho foi assumido por
uma empresa tradicional do setor, sem,
no entanto, alterar o modelo da cadeia
produtiva ervateira desenhada no municí-
pio. “Este conceito, pensando no todo, foi
a condição imposta pela Apromate à em-
presa que estava chegando. Hoje, temos
aqui na região todas as etapas da cadeia,
que vai desde a semente até a exportação”,
destaca Clairton da Fonseca, atual presi-
dente da entidade, produtor e proprietário
de umviveiro da cultivar Cambona 4, típica
da região (confira matéria na página 11).
Numpequenomunicípiodo extremo-norte doRioGrande do Sul,
a produçãode erva-mate teria tudopara ser inviável devido
ao isolamentogeográfico e à ausência de umgrande númerode indústrias.
Mas umgrupode produtores resolveu reescrever esta história.
Quandoomate
nãoéamargo
especial:erva-mate