Jornal Emater Edição 6 - page 6

TALINE SCHNEIDER
A
té há bem pouco tempo, o Brasil vinha passan-
do por um processo de esvaziamento do campo.
O êxodo rural, principalmente nos minifúndios,
era inevitável. As oportunidades de trabalho e de
renda na cidade erammuito maiores. Além disso, o servi-
FINANCIAMENTORURAL
Quandousadocomplanejamento,
ocréditotorna-seumdos
principaisaliadosparaa
modernizaçãodapropriedade,
devidoàbaixataxadejuros
Há15anos,AldairLenhard,35anos,saiudazonaru-
ral, ao ladodo irmãomais velho, para trabalhar no co-
mércio. Ambos acreditavamque a renda da família no
campo não seria suficiente para o sustento dos pais e
dos quatro filhos. Os dois caçulas tambémnão perma-
neceram, e repetiram o ritual. Depois de uma década,
Aldair resolveuvoltar às origens. “A idade foi chegando
e o pai e amãe precisaramde ajuda. Daí acabei retor-
nando. E foi amelhor coisa que fiz. Aqui eu tenho uma
boarendaequalidadedevida”, conta, ressaltandoque
aindamoranazonaurbanadeEstrelaporqueaesposa
trabalha na cidade vizinha, Lajeado. “Vou e volto, to-
dos os dias, cerca de 10 quilômetros. Mas futuramente
agentepretende ficar aqui”,enfatiza.
Lenhard voltou ao campo coma criação de ovinos, e
hoje conta com 50 animais. Ele também investiu em ir-
rigação, por meio de financiamento. “Não sei como vai
ficar o clima, entãonãopodemos ficar nasmãos de São
Pedro”, filosofa. Agora, agrandenovidadedaproprieda-
deestánaretomadadaatividadeleiteira, háseismeses,
o que só aconteceu graças ao crédito rural. “Consegui
comprar seis vacas e quatro novilhas. E com recursos
própriosreativamosasaladeordenha”,comemora.
No total, foram finaciados R$ 70 mil, que devem ser
pagos em10 anos. “É umvalor pequeno. Se a gente ca-
pricharnaprodução,conseguepagardeformabemfácil”,
salienta.Namesmapropriedade,opaideAldairmantém
umaviáriocomcapacidadeparaacriaçãode20milfran-
gos, criaçãodegadode cortee cultivodemilhoparasila-
gem e pastagem. A automatização da alimentação dos
frangos,quereduziuapenosidadedo trabalho, também
foigarantidapormeiodefinanciamento.
Quantoàvidabilidadedonegócio, oagricultor é sen-
sato. Ele sabe que dificilmente conseguiriaumemprego
que lhe garantisse renda de até oito salários. “Além da
qulidadedevidaquenemsecompara,porqueadocam-
poémuitomelhor.Seagentetrabalhadireitinhoebusca
seaperfeiçoarnaatividade, fazendocursose tentantan-
do sempre melhorar e buscar conhecimento, acho que
o retornoémuitomaior doquena cidade. Dáparaviver
muitobemcomessarenda”,conclui.
Aldair Lenhard volta ao
campo para ter renda
e qualidade de vida
ço braçal na propriedade rural era mais penoso do que na
zona urbana. Para quem era jovem, o horizonte de vida
era sair do campo. A preocupação com uma futura falta
de alimentos apontou para a necessidade do poder pú-
blico de incentivar e investir na permanência do homem
no campo. Para isso, surgiram políticas públicas para am-
pliação das linhas de crédito ao pequeno produtor. Assim
nasceu o Plano Safra.
“Por meio de programas específicos, o governo finan-
cia valores a longo prazo e juros mais baixos”, destaca o
engenheiro agronômo do Escritório Municipal da Emater/
RS-Ascar de Estrela, Álvaro Figueira Trierweiler. Ele explica
que esse valor é disponibilizado para o Brasil inteiro. “O
agricultor busca um técnico habilitado para fazer o proje-
to, que é levado ao banco para se buscar o financiamento
necessário”, completa. Em 2016, a Região Sul do País res-
pondeupor 54,9%dovalor das operações doProgramaNa-
cional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf),
utilizando R$ 12,5 bilhões dos R$ 23 bilhões liberados no
País todo. Em 2017, serão R$ 30 bilhões.
Conforme Trierweller, o crédito subsidiado é muito im-
portante para o produtor, pois o juro émenor, mais barato.
E, assim, movimenta o interior e a economia domunicípio.
Os recursos fazem com que o agricultor tenha a chance de
ficar no campo com dignidade, autonomia, qualidade de
vida e ampliação da renda. “Com dinheiro no bolso, ele
passa a investir em teconologia na propriedade, automati-
zando serviços e reduzindo a penosidade do trabalho; em
qualificação e estudo voltado à aplicação no seu cotidia-
no; ou mesmo em beneficiamento da matéria-prima, no
caso de produtores que optam por agregar valor ao pro-
duto por meio da agroindustrilização”, exemplifica.
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Jurospequenos,
retornogrande
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