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esde julho de 2017 no cargo
de diretor-executivo de Trans-
ferência de Tecnologia da Em-
presa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), opes-
quisador Cleber Oliveira Soares acredita
que até 2030 omodelo de atuação contem-
porânea e dinâmica será fundamental para
que a empresa cumpra seu papel no País.
O organismo mapeou cinco escolhas estra-
tégicas: agricultura sistêmica, envolvendo
sistemas integrados, serviços ambientais e
certificação produtiva; agregação de valor,
diversificação e especialização das cadeias
e dos produtos; inteligência estratégica ter-
ritorial; gestão e análise de riscos amplos,
que incluem temas como riscos climáticos,
produtivos, sanitários, econômicos, sociais,
ambientais etc; e tecnologias na fronteira
do conhecimento, envolvendo temas como
Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs), edição de genoma e nanotecnologia.
E as conexões entre bioeconomia e econo-
mia digital serão reforçadas.
Para sustentar esta transformação, a cri-
se das contas públicas émonitorada de per-
to, mas não chega a comprometer os pla-
nos. Isto principalmente porque a Embrapa
tem forte vínculo também com atores pri-
vados e públicos para fomento à pesquisa
e ao desenvolvimento de ativos tecnológi-
cos. “Hoje, existem mais de 400 contratos
de parceria para Pesquisa, Desenvolvimen-
to e Inovação (PD&I), o que nos dá fôlego
paraavançar, contribuindoparaodesenvol-
vimento do agronegócio”, salienta. “É evi-
dente que todas as instituições, bem como
o País, têm passado por ummomento eco-
nômico difícil. Na Embrapa não é diferente,
pois somos em boa parte dependentes do
orçamento do Tesouro Nacional. Mas pro-
curamos superar esses desafios cíclicos”.
Soares também acredita que a impor-
tância das cadeias produtivas agropecuá-
rias está diretamente relacionada às ten-
dências do mercado agroalimentar, em
que a segurança dos alimentos, sua quali-
dade e a necessidade de aumentar a pro-
dutividade são os três principais pilares.
Segundo ele, a pressão pela produção sus-
tentável e otimizada de alimentos, associa-
da aos novos padrões regulatórios, impõe
desafios em pesquisa, desenvolvimento e
inovaçãoaoagronegócio. “OBrasil eomun-
do devem produzir alimentos, fibra e ener-
gia renovável de forma sustentável, sem
impactar os biomas e primando pela con-
servação dos recursos naturais”, destaca.
Em relação a novas áreas de pesquisa
ou unidades específicas da Embrapa para
os próximos anos, Soares ressalta que a
programação de pesquisa, desenvolvi-
mento e inovação está passando por análi-
ses, comênfase nos resultados e nas entre-
gas, alinhadas às escolhas estratégicas e às
metas de impacto. São as tendências e os
cenários do agro e do mercado que baliza-
rão as áreas de pesquisa.
Cientes de que a Embrapa tem tido pa-
pel de instituição-âncora na evolução do
agronegócio brasileiro e tropical, não só So-
ares mas toda a cúpula da empresa sabe
que há um reconhecimento global, princi-
palmente nos trópicos. Entre as principais
contribuições estão o domínio do manejo
dos solos ácidos e frágeis, odesenvolvimen-
to de cultivares de grãos, de forrageiras, de
frutas e de hortaliças; os tratos culturais e
os manejos zootécnicos, as raças e as linha-
gens, passando pelo zoneamento de risco
climáticoepela rastreabilidade, até técnicas
modernas deprodução sustentável, comoa
integração lavoura-pecuária-floresta.
Neste sentido, Soares vale-se de núme-
ros e comparações para respaldar sua opi-
nião. “Quando a Embrapa foi criada, o Bra-
sil importava boa parte do alimento que
consumia. O custo da cesta básica chega-
va a 48% do salário mínimo. Hoje, somos
umdosmaiores exportadores, e o brasileiro
gasta cerca de 17% do salário mínimo com
alimentação”, enfatiza. “O mundo agrícola
reconhece a contribuição da Embrapa para
o Brasil. Muitos países gostariam de contar
com uma empresa como a nossa. Somos
muito assediados para fazermos parcerias
internacionais,paracontribuircomodesen-
volvimento da agricultura de outros países.
A responsabilidadeégrandeeesseéumde-
safio que nosmove”.
Embrapa hoje é referência em
tecnologia para a agricultura nos trópicos
l
PERFIL
Médico Veterinário, com mestra-
do em Parasitologia Veterinária e dou-
torado em Ciências Veterinárias, Cle-
ber Oliveira Soares é pesquisador A da
Embrapa desde 2001, lotado no Centro
Nacional de Pesquisa de Gado de Cor-
te (Embrapa Gado de Corte). Foi Chefe
de Pesquisa eDesenvolvimento da Em-
brapaGadodeCorte de 2005 a 2010, foi
membro titular dos Comitês Assesso-
res Externos (CAE) doCentrode Pesqui-
sa Agropecuária do Pantanal, Centro
Nacional de Pesquisa de Gado de Leite,
da Embrapa Informática Agropecuária,
daEmbrapaSuínos eAves. Foimembro
daDiretoriadoColégioBrasileirodePa-
tologia Animal. Foi secretário geral da
Sociedade Brasileira de Defesa Agro-
pecuária (SBDA). Émembro de comitês
científicos e técnicos no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
e doMinistério da Ciência, Tecnologia e
Inovação; do Conselho Nacional de De-
senvolvimento Científico e Tecnológi-
co, da Fundação de Amparo a Pesquisa
dos Estados deMatoGrossodo Sul e de
Mato Grosso; da Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior (Capes), do Colégio Brasileiro Ar-
gentino de Biotecnologia, da Embrapa,
do Instituto Nacional de Investigação
Agropecuária (Inia), noUruguai enaVe-
nezuela; do Biotech-Sur, e do Instituto
Nacional de Tecnologia Agropecuária
(Inta), da Argentina, entre outros.
OSCAMINHOS
Principais diretrizes da Embrapa até 2030:
•
Agricultura sistêmica:
sistemas integrados,
serviçosambientais,certificaçãoprodutiva.
•
Agregaçãodevalor:
diversificaçãoeespecia-
lizaçãodascadeiasedosprodutos.
•
Gestão e análisede riscos amplos:
inclui te-
mas como riscos climáticos, produtivos, sani-
tários,econômicos,sociais,ambientaisetc.
•
Tecnologias na fronteirado conhecimento:
tecnologias da informação e comunicação,
ediçãodegenoma,nanotecnologia.
•
Inteligênciaestratégicaterritorial
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