O consumidor sentirá menos a variação das cotações nos supermercados
Impacto
profundo
O
comportamento dos pre-
ços do arroz ao longo da
cadeia produtiva na tem-
porada comercial que co-
meçou em 1º de março de
2017 e se encerrará em 28 de feverei-
ro de 2018 promete disputa mais acirra-
da por margens entre produtores, indús-
tria e varejo. Junto aos consumidores, a
safra maior – mesmo com estoques bai-
xos – e a grande disponibilidade de arroz
barato do Mercosul, em especial das la-
vouras paraguaias, são razões para a ma-
nutenção dos preços do itemda cesta bá-
sica sem grandes variações.
Em 2016, algumas capitais chegaram a
registrar alta de 36% nos preços do quilo
ao consumidor, mas ao final do ano a mé-
dia global de valorização ficou entre 6% e
7%. “É o itemmais barato da cesta básica,
Preçodoarrozserámarcadoporqueda
noprimeirosemestredoanocomercial
2017/18etendênciaderecuperação
gradualnosegundosemestre
levando emconta a sua importância para a
alimentação do brasileiro”, lembra Antonio
da Luz, economista-chefe da Federação da
Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Isso quer dizer que uma alta, mesmo em
percentuais significativos, não representa
muitomais do que alguns centavos.
Dentro de uma projeção de inflação
menor em 2017 e diante da importân-
cia do produto para a segurança alimen-
tar nacional, a expectativa se sustenta. O
goveno federal trabalha com perspectiva
de aumento de 17,7% no valor bruto de
produção do arroz (VPB) em 2017, de R$
10,197 bilhões para R$ 11,998 bilhões. O
valor representa o aumento da safra.
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Concentração
Para o arrozeiro, a situação é diferente
da projetada aos consumidores. Mal come-
çou a colheita no Sul do Brasil, em feverei-
roemarçode 2017, eos preços caíramqua-
se20%, deR$50,00paraR$41,00pela saca.
“O enfraquecimento das cotações na co-
lheitaénatural peloaumentodaoferta, que
será quase 60%concentrada entremarço e
maio.Masofenômenoqueacompanhamos
neste início de 2017, o grau do impacto nas
cotações, surpreendeu, pois subverteu os
fundamentos do mercado”, reconhece Tia-
go Sarmento Barata, diretor comercial do
InstitutoRioGrandensedoArroz(Irga).
Conforme Barata, pela expectativa de
safra normal, em 8,5 milhões de tonela-
das no Estado, considerando a quebra de
2016 e o baixo estoque de passagem, não
haveria razões para queda tão significti-
va antes mesmo do ínicio da comerciali-
zação. Entende que a abertura de merca-
dos de exportação é caminho para buscar
maisequilíbrionoprimeirosemestre,ape-
sar do câmbio desfavorável. “Tambémse-
rão determinantes para os preços a velo-
cidade e o volume de comercialização do
grão pelo orizicultor”, frisa.
Barata acredita que os preços brasi-
leiros serão pautados ao longo do ano
com piso e teto balizados pela paridade
com o mercado internacional. Mas prevê
para o segundo semestre – entre agosto
de 2017 e fevereiro de 2018 – a recupera-
ção gradual a patamares próximos da-
queles identificados em 2016, quando o
teto gaúcho bateu emR$ 51,00.
“A oferta será mais diluída e seleciona-
da. Somente os produtores capitalizados
terão arroz para comercializar. Isso estabe-
lece correlação mais equânime de forças
no mercado”, ilustra. Há, por outro lado, o
câmbio, sensível aos sobressaltos da eco-
nomiamundialedomeiopolíticonoBrasil,
na Europa e nos Estados Unidos, que sem-
prepodemalterar os cenários.
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Na indústria
Os preços do arroz ao longo de 2017 serão balizados pelas leis demercado. Essa é a opinião de Mário Pegorer, presidente da As-
sociação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz). “A oferta, a demanda e a relação entre os preços internos e externos vão deter-
minar os patamares ao longo da cadeia produtiva”, afirma. Entende que a indústria vem reduzindo as margens e sendo cada vez
mais pressionada entre o valor da matéria-prima (arroz em casca) e o balizamento do varejo, que não aceita reajustes e exige con-
cessões cada vez mais onerosas para abrir suas gôndolas. “É preciso ter criatividade, gestão e eficiência nos processos para supor-
tar a pressão dos dois lados e seguir investindo emqualidade e logística e na consolidação dos mercados”, enumera.
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