PontodeVista
MAURÍCIOANTÔNIOLOPES
Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Alimentar
épreciso
Em40anos,Embrapaajudouareduzirpelametadeocustodosalimentos
eaaumentarem600%aprodução,apenasdobrandoaáreadecultivo
A
ciência tempapel relevante no
desenvolvimento recente da
agricultura nacional. A Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa) e suas
instituições parceiras permitiram ao Bra-
sil desenvolver um modelo de agricultura
fortemente assentado em conhecimento
científico e tecnológico, focado na solução
de problemas do cinturão tropical do glo-
bo, e isso tem feito toda a diferença para o
País. O presidente da Embrapa, Maurício
Antônio Lopes, mineiro de BomDespacho,
há quase cinco anos à frente da empresa,
avalia que os avanços da tecnologia agro-
pecuária emambiente tropical foram imen-
sos,bemcomoseuimpactopositivosobreo
agronegócio e omeio ambiente.
Lopes recorda que no Brasil dos anos
1970 a autossuficiência na produção de ali-
mentos estava distante da realidade, e o
País convivia como espectro sombrio da in-
segurança alimentar. “Éramos grande im-
portador de alimentos, como grãos, carnes
e leite, e vivíamos frequentes crises de abas-
tecimento”, menciona. “A crise dopetróleo,
em1973, agravoua situação, pois os gastos
com petróleo e a importação de alimentos
traziam grande instabilidade econômica,
apreensão e incerteza.”
Naquele contexto de crise, e sob a ins-
piração de brasileiros visionários, surgiu a
Embrapa, que estabeleceu parcerias com
universidades, fortalecendo a pesquisa no
âmbito dos estados e a assistência técni-
ca e a extensão rural. “O Brasil conseguiu
desenvolver um modelo inédito de agri-
cultura tropical baseada em ciência”, frisa
Lopes. “É uma equação infalível, que pos-
sibilitou reduzir o gasto médio do brasilei-
ro com as refeições de cada dia de 48% de
sua renda nos anos 1970 a menos de 20%
na atualidade”.
Em 40 anos, o Brasil deixou de ser de-
pendente da importação de alimentos
para se tornar um dos maiores produto-
res de alimentos do mundo. A safra de
grãos passou de 30 milhões de toneladas,
em 1972, para novo recorde previsto na
safra 2016/17, de 215 milhões de tonela-
das. A área plantada aumentou de 28 mi-
lhões para mais de 59 milhões de hecta-
res. A área cultivada dobrou, e a produção
cresceu mais de 600%. É um aumento ex-
traordinário de produtividade, que evitou
a abertura de novas áreas agrícolas e re-
duziu o impacto da produção de alimen-
tos sobre o meio ambiente.
“Sem dúvida, a pesquisa agropecuária
cumpriu papel fundamental para que o
Brasil pudesse alcançar, em tempo recor-
de, posição de autossuficiência na produ-
ção agropecuária, além de protagonismo
como provedor de alimentos para cente-
nas de países ao redor do globo”, assegu-
ra o presidente da Embrapa. Atualmente,
a empresa conta com agenda de pesquisa
e inovação contemporânea, fortemente
focada na solução de problemas presen-
tes, mas também muito atenta à anteci-
pação de riscos, desafios e oportunidades
em horizontes mais longos.
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