E
ra para ser em 2016, mas, devido
a problemas climáticos, a supe-
ração da barreira de 100 milhões
de toneladas de soja noBrasil, se-
gundo maior produtor mundial
e maior exportador, ficou adiada por mais
uma etapa. Para a nova temporada, na vira-
da do ano, as perspectivas erambem fortes
de que seria possível atingir a meta. Todas
as projeções indicavam que seria ultrapas-
sado este nível de produção, a partir de
mais um acréscimo em área e da provável
recuperação da produtividade, com clima
mais favorável. Produto líder do agronegó-
cio brasileiro e das exportações nacionais,
o grão de ouro gerou Valor Bruto de Produ-
ção (VBP) de R$ 118 bilhões em2016.
A Companhia Nacional de Abasteci-
mento (Conab) estimava em dezembro
de 2016 a possibilidade de obter 102,4 mi-
lhões de toneladas na nova safra, que co-
meçaria a ser colhida em janeiro de 2017.
O volume projetado representaria au-
mento de 7,3% sobre o total alcançado na
temporada anterior, que havia sido preju-
dicada por adversidades climáticas pro-
vocadas pelo fenômeno
El Niño
. Houve
então excesso de chuva no Sul e sua fal-
ta emdireção ao Norte e ao Nordeste, afe-
tando a produtividade.
O novo ciclo poderia resultar em volu-
me ainda maior (106 milhões de toneladas,
9,2% acima do anterior), de acordo com
previsão feita pela consultoria Safras &Mer-
cado, ainda em dezembro de 2016. O ana-
lista Luiz Fernando Roque observava que
os dois principais estados produtores (Mato
Grosso, no Centro-Oeste, e Paraná, no Sul)
apresentavam bom desenvolvimento das
lavouras, impactando o potencial produti-
vo doPaís. Os próprios estados, por sua vez,
confirmavamboas perspectivas.
O Instituto Mato-Grossense de Econo-
mia Agropecuária (Imea), no mesmo mês,
apontava para “bons rendimentos a cam-
po” e possível recorde de 30,5 milhões de
toneladas no Estado líder da cultura, com
pequeno acréscimo de área e recuperação
da produtividade com clima adequado. O
Departamento de Economia Rural (Deral)
do Paraná, por sua vez, mesmo com ligeira
diminuiçãono cultivo (1%, comopçãopelo
milho), apostava emacréscimo de até 11%
na produção da soja.
RioGrandedoSul, noExtremo-Sul eGoi-
ás, no Centro-Oeste, respectivos terceiro
e quarto maiores estados na cultura, que
mantiveram boa produção na temporada
anterior, poderiam até reduzir um pouco o
volume, embora no caso gaúcho já houves-
se perspectivas de incremento. Oquinto Es-
tadonaprodução,MatoGrossodoSul,tinha
previsão de aumento, assim como os esta-
dos da região do Matopiba (Maranhão, To-
cantins, Piauí eBahia, doNordesteedoNor-
te), apostando emclimamelhor em2017.
Corridado
ouro
ExpectativaéboanatrajetóriadogrãodouradonoBrasilnasafra
2016/17,comprojeçõesfirmesnasuperaçãodas100milhõesdetoneladas
DISPUTAAQUECIDA
Ainda emrelação a 2016, o Imea destaca “maioresmédias nominais de preços de soja da história deMatoGrosso, estimuladas pela
oferta interna restrita, pela demanda elevada e também pela alta de Chicago e do dólar no meio do ano”, contrabalançadas por pa-
tamar inédito de custos. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de São Paulo, também apurou recordes de
preços no mercado brasileiro (o indicador no Paraná em 2016 foi de R$ 77,43/sc).
Omaior Estado produtor complementa e enaltece, sobre 2016, o escoamento crescente (8%) da produção exportada pelos portos
do Norte, o que deve continuar em 2017 e refletir sobre a competitividade mundial da soja mato-grossense. As exportações, porém,
tanto no Estado como no País, recuaramno ano, diante damenor oferta do produto brasileiro. Já no próximo período, com incremen-
to previsto na produção, o líder Brasil pode atingir venda externa recorde (perto de 58 milhões de toneladas).
Isto, nas projeções feitas por diversos organismos no final de 2016, ocorreria mesmo com crescimento da oferta mundial (a partir
de produção recorde já consolidada domaior produtor, Estados Unidos, com118,7milhões de toneladas, e boa expectativa brasileira
na safra), porque a demanda continua forte. A China, principal comprador (responde por 74%dos embarques do grão do Brasil), con-
tinua importando altos volumes. Contudo, os estoques globais aumentam e podem influir nos preços.
A menor disponibilidade do produto brasileiro em 2016, junto com a queda na atividade econômica, ainda repercutiu na produ-
ção e no consumo interno dos produtos da soja (farelo e óleo), bem como na rentabilidade da indústria, que também se ressente do
acúmulo de créditos tributários. Mas a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) tem expectativa mais positiva
para 2017, em relação à maior oferta de matéria-prima, ao aumento de adição de biodiesel no diesel mineral (B8) e, inclusive, na ma-
nutenção de bons preços internacionais.
91