Revista AgroBrasil 2017-2018 - page 41

O
movimento começou algum
tempo antes, mas é o ano de
2013 que será lembrado para
sempre como o de mercado
mais aquecido da história do
setor de máquinas e de implementos agrí-
colas do Brasil. Com juros que chegaram a
2,5%ao ano e programas de incentivo, agri-
cultores de todos os portes puderam inves-
tir emtecnologiaparaas suaspropriedades.
O resultado apareceu nos anos seguintes,
comforteelevaçãodos índices deprodutivi-
dade. Porém, a euforia das fábricas veio se-
guida de uma grande ressaca, que agora co-
meça a perder os seus efeitos.
Todo este impacto em âmbito fabril foi
sentido com mais intensidade na econo-
mia gaúcha. De acordo com o presidente
do Sindicato das Indústrias de Máquinas
e Implementos Agrícolas no Rio Grande
do Sul (Simers), Claudio Affonso Amoret-
ti Bier, o Estado é responsável por cerca de
64%da produçãonacional do setor e foi do
céu em2013 ao inferno em2015. “Em2013
foi um absurdo. Ninguém mais tinha pro-
duto para entregar. Havia fila de espera.
Produtores que precisavam de um trator
compravam dois. Quem precisava de dois
equipamentos, já comprava outros, desne-
cessários. Então aconteceu uma antecipa-
ção de mercado. Criou-se um estoque de
máquinas agrícolas dentro das proprieda-
des”, destaca o empresário.
O resultado, lógico, foi a queda das
vendas nos anos seguintes, que ainda fo-
ram afetadas pela turbulência política no
cenário nacional. Aos poucos, a situação
começa a se normalizar. “A crise fez com
que as empresas precisassem inovar ain-
da mais. E o produtor rural, que nunca ti-
nha tido máquinas, descobriu as facilida-
des e a importância da mecanização. Ele
hoje tem a nitidez de que é preciso trocar
de máquinas com mais brevidade, para
não ficar defasado. Graças às máquinas,
pode plantar mais rápido, colher mais rá-
pido e com diminuição de perdas”, exem-
plifica, ressaltando que “em regiões onde
se fazia uma safra, se fazem duas. Onde
eram duas, agora são até três”.
Esta questão, de acordo com o empre-
sário, deve ser considerada um dos maio-
res ganhos para o Brasil emtermos de agro-
negócio. “Hoje, todos os agricultores têm
acesso à tecnologia. Houve uma democra-
tização da inovação. Os mesmos concei-
tos colocados numa máquina imensa, para
atender umgrandeagricultor, estãoadapta-
das para quemtemseuminifúndio. Isto cria
igualdade de condições”, comenta.
VOCAÇÃOGAÚCHA
A tradição é oriunda dos primeiros imi-
grantes europeus, em especial alemães e
italianos, no século XIX. Eles precisaram
construir ferramentas e máquinas para a
agricultura comercial e de subsistência, já
que os lotes onde viviam eram pequenos e
muitasvezescomterrenosesolosinóspitos.
A diversidade geológica e de relevo do Rio
Grande do Sul contribuiu para que fossem
feitos ajustes específicos para cada uma das
regiões gaúchas. A especificidade habilitou
as indústrias locais a fabricarem itens singu-
lares, que se adaptassem às necessidades
de outras regiões do Brasil, fazendo com
que se consolidassemnomercado.
Quase 200 anos depois da chegada dos
primeiros imigrantes europeus, conforme
Claudio Bier, a tendência é que o parque
fabril gaúcho ocupe cada vez mais espa-
ços. “Todas estão muito avançadas em
Para o Simers, a democratizaçãodo acesso à
inovação e àmecanização é omaiorméritoda
agricultura brasileira neste iníciode séculoXXI
Rio Grande do Sul responde por cerca
de 64%da produção nacional do setor
l
PERFIL
Nascido em1942 emSanto Antônio
da Patrulha (RS), na adolescência Cláu-
dio Affonso Amoretti Bier mudou-se
para Porto Alegre (RS) a fimde concluir
seus estudos. Desde suas primeiras
atividades profissionais sempre teve
cunho empreendedor, com interesses
ligados ao comércio e à indústria. Auto-
didata, com competências ligadas a in-
dústria, agronegócioe comércio, édire-
tor-presidente do Grupo Masal S.A., da
Fundição Jacuí S.A.; presidente do Sin-
dicatodas Indústrias deMáquinas e Im-
plementos Agrícolas no Rio Grande do
Sul (Simers) e vice-presidente da Fede-
ração das Indústrias do Estado do Rio
Grande do Sul (Fiergs).
termos de tecnologia e investindo muito.
A referência não é só o Brasil. Hoje, nos-
so Estado exporta para os cinco continen-
tes”, diz, ressaltando que a criação do sis-
tema de plantio direto em terras gaúchas
ajudoumuito a ratificar a imagemdo Esta-
do como inovador no agronegócio.
Ainda de acordo com o empresário, o
fato de muitos agricultores do Rio Gran-
de do Sul terem imigrado para o Paraná,
bem como para as regiões Centro-Oeste,
Norte e Nordeste, ajudou na expansão do
mercado. Estes produtores tornaram-se
uma espécie de embaixadores dos pro-
dutos sulinos. “Eles já conheciam a qua-
lidade das máquinas produzidas aqui. En-
tão, passaram a encomendar os modelos
com adaptações para suas áreas”, frisa. “E
assim o mercado foi se expandindo. Hoje,
temos um
know-how
muito grande, tan-
to que gigantes como John Deere e AGCO
produzem tratores de classe mundial nas
suas fábricas gaúchas”.
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