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A presença de trabalhadores, que era co-
mum na lavoura de tomate indústria, ago-
ra abre espaço para sistemas mecanizados e
semimecanizados. A mudança deve-se prin-
cipalmente à migração dos trabalhadores
para as cidades e aos encargos trabalhistas
cada vez mais onerosos. Assim como o ser-
viço mais braçal, muitas práticas foram dei-
xadas no passado, dando lugar a avanços
tecnológicos que contribuem com toda a
cadeia produtiva. O crescimento do uso de
irrigação por gotejamento é uma tendência
em expansão, aliado ao uso de sementes hí-
bridas, transplantio mecanizado, plantio di-
reto e produção integrada.
De acordo com Boiteux, Ph.D. em gené-
tica e melhoramento de plantas, a exemplo
do tomate para processamento, muitas no-
vidades foram incorporadas ao tomate para
mercado fresco nos últimos anos, em espe-
cial com melhoramentos genéticos em bus-
ca de espécies mais resistentes e adaptadas.
Além das práticas agrícolas, que visam co-
lheitas fartas e frutos de boa qualidade, Boi-
teux reforça que o produtor está mais atento
às tendências de mercado, pesquisando no-
vos canais de comercialização para não per-
der dinheiro. Diferente do setor industrial, o
cultivo desse tipo de tomate é disseminado
em todo o território nacional.
TRANSGENIAÀVISTA
No trilho das mudanças na cadeia
produtiva do tomate, o pesquisa-
dor Leonardo Boiteux defende que a
transgenia pode ser usada visando a
obtenção de um produto mais saudá-
vel para os brasileiros. Como esclarece,
do ponto de vista genético, essa é uma
prática que já é realizada pela natureza
há milhares de anos por uma bactéria
de solo conhecida como agrobactéria
(
Agrobacterium tumefaciens
) – que
possui a habilidade de transferir uma
parte de seu DNA para a célula vegetal
que está infectando, fazendo com que
ela produza os compostos de que pre-
cisa para seu desenvolvimento.
“A ciência apenas utiliza essa habi-
lidade da agrobactéria como um vetor
genético natural para transferir, por
exemplo, genes de interesse entre espé-
cies vegetais que são reprodutivamente
isoladas, ou seja, que não podemos in-
tercruzar via pólen”, justifica. O agrôno-
mo esclarece que é possível levar genes
de resistência de doenças do pimentão
para o tomate e vice-versa, transferindo
características entre plantas comestíveis,
reduzindo o risco para os consumidores.
Sãoos chamados produtos cisgênicos.
“Se produzidos com todo o cuidado
científico recomendado, o impacto e os
potenciais riscos em termos de saúde
humana dos cisgênicos são próximos de
zero”, pondera. “Ao contrário, podematé
proteger o consumidor, pois os produto-
res não vão precisar empregar agrotóxi-
cos para combater algumas das princi-
pais doenças do tomateiro. Por isso, os
produtos modificados via engenharia
genética não podem ser olhados apenas
soboprisma dopreconceito”.