Paraalimentarsorrisosesonhos
Esta é a terceira de seis reportagens que vão retratar antigos e
novos modelos de família na área rural do Rio Grande do Sul. Em
diferentes regiões e realidades, o
Jornal da Emater
vai mostrar as
transformações, os costumes, os relacionamentos, a sucessão e vá-
rios outros aspectos que influenciama vidano campo.
Agora, dois freezers garan-
tem o estoque para vender na
entressafra e aumentar o lu-
cro. Compraramumcarro sim-
ples e hoje são elas que dão
carona à vizinhança. Junto a
uma loja da cidade, vendem
seus produtos duas vezes por
semana. Aos sábados, atuam
no mercado público. “Dá para
ter orgulho, né. Vivo como
gosto. Acho que nunca fui tão
feliz”, resume dona Marta.
O próximo passo é implan-
tar a proteção junto às duas
hortas, pois o que tiram da
terra tem gerado mais lucro
do que os bolos e os doces. E,
assim, aos poucos, na mesma
cidade que viu nascer os pre-
sidentes Getúlio Vargas e João
Goulart, mãe e filha percebem
que também podem gover-
nar a sua própria trajetória
de vida. “Quando chegamos
aqui, o pessoal achou que a
gente iria desistir. Que duas
mulheres sozinhas não con-
seguiriam dar conta. Hoje, a
gente mostra que dá, sim”, diz
a orgulhosa Mareci.
Série “Retrato de Família” – 3
Choveu
naHorta
O
contato com a terra
fez germinar a nova
vida que Marta alme-
java. Montou uma
horta e começou a criar gali-
nhas. Vendia a produção a vizi-
nhos e conhecidos. A filha Mare-
ci, confeiteira, passou a produzir
iguarias para vender de porta
em porta na área central de São
Borja. Semcarro, as duas depen-
diam da carona de vizinhos para
ir e vir do centro da cidade, já
que a localidade de Ivaí não tem
nem acesso asfáltico nem trans-
porte público. “Foi bem sofrido.
A gente terminava de vender as
coisas e daí andava uns quatro
quilômetros até o trevo na saída
da cidade. Daí, lá, pedia carona
para voltar para casa”, relembra
Mareci, ressaltando que, “mes-
mo passando trabalho assim, a
gente estava bem mais feliz do
que quando morava em aparta-
mento na cidade”.
Em pouco tempo, formaram
clientela fixa. As idas ao cen-
tro tornaram-se diárias. Ao fim
do dia, o que não era vendido
transformava-se em moeda de
troca com vizinhos. Geralmente
ovos e leite, matéria-prima para
os quitutes. Numa das idas ao
centro da cidade, Marta resol-
veu procurar a Emater/RS-Ascar
para melhorar a rentabilidade
nam motivos para se orgulhar.
Produzem mais de 60% de tudo
o que consomem. A horta foi
ampliada e passou a ter irriga-
ção por gotejamento. Criaram
um pomar. Passaram a fazer
compotas, geleias, doces e tam-
bém aumentaram a variedade
de bolos e quitutes. Entre o que
cultivam e fabricam, somam
mais de 50 itens. A linha de pro-
dução tem um ritmo frenético.
da propriedade. Uma equipe a
visitou e fez a avaliação. “Logo
na chegada, ficamos encanta-
dos. Vimos o cuidado delas com
a higiente, com a qualidade.
As duas mantêm um capricho
enorme em tudo. Foi daquelas
avaliações inesquecíveis”, des-
creve a extensionista Andréa
Lencina Balbueno.
Um ano e meio depois de re-
tornarem para o interior de São
Borja, Marta e Mareci colecio-
DonaMarta sorri
emostraumdos
bolos que elabora
para comercializar
na cidade
Extensionista Andréa confere
a hortaao lado deMareci
5
JORNAL DA
EMATER
setembrO de 2017